José Bonifácio

José Bonifácio

José Bonifácio (1763-1838)

Filho do coronel Bonifácio José de Andrada e D. Maria Bárbara da Silva, nasceu em Santos, SP, procedente de família nobre, na qual vários membros se distinguiram na carreira do direito, da teologia, das matemáticas e das letras.

Em São Paulo, freqüentou aulas de Gramática, Retórica e Filosofia nos cursos abertos por D. frei Manuel da Ressurreição, dono também de boa biblioteca. Era o ensino prepatório para o ingresso na universidade em Coimbra, para onde iam os brasileiros com alguns recursos. Tinha 16 anos quando, com seus irmãos Bonifácio José, Antônio Carlos e Martim Francisco, requereu habilitação de genere, passo indispensável à carreira eclesiástica.

Em 1783, partiu do Rio de Janeiro para Portugal, matriculando-se em outubro na Universidade de Coimbra e iniciando a 30 de outubro seu curso de estudos jurídicos, acrescidos um ano mais tarde, 11 e 12 de outubro de 1784, os de Matemática e Filosofia Natural. Primeiro obteve o grau de bacharel e depois o de doutor. Tal era sua reputação ao chegar a Lisboa após concluir os estudos em Coimbra, que foi eleito, sob os auspícios do duque de Lafões, membro da Academia Real de Ciências,onde integrou o grupo de intelectuais que se reunia em torno de Domingos Vandelli, partilhando a visão de que o domínio da natureza era capaz de gerar riquezas e que, portanto, necessitava ser conhecido e explorado cientificamente, e, por proposta deste corpo sábio, escolhido pelo governo português para viajar pela Europa na qualidade de naturalista.

José Bonifácio foi de Lisboa a Paris e de lá às principais cidades da Europa, para adquirir, junto aos grandes mestres, conhecimentos profundos e variados em metalurgia, química e outros ramos das ciências naturais, e para se tornar orgulho de seu país e uma das ilustrações científicas da Europa.

Em sua estada em Paris foi testemunha das últimas peripécias da Revolução. Sua vida, sempre consagrada ao estudo, produziu úteis trabalhos. O jornal de Fourcroy, Annales du Muséum de l’Histoire Naturelle, guarda uma série de Memórias que José Bonifácio publicou nesta época. Estas lhe valeram o título de correspondente de diversas sociedades científicas de Paris. Nas excursões pela Europa, publicou outras memórias, em alemão, francês e português, que lhe valeram os títulos de membro da Sociedade Lineana de Iena, da Academia Real de Copenhague e da Academia de Ciências de Estocolmo, das associações científicas de Goettingue, Berlim, Viena e Itália. Em meio às ocupações científicas, o viajante também se dedicava ao culto das musas. A lembrança da pátria distante se refletia em seus versos melodiosos, como num espelho fiel, com uma cor viva, animada e pitoresca; pois os estudos sérios da jurisprudência e da química não puderam apagar o caráter brilhante de sua imaginação, nem moderar os ímpetos de um espírito fino e engenhoso, e muito menos desviá-lo do amor por seu país natal.

De volta a Portugal, José Bonifácio foi nomeado professor de mineralogia na Universidade de Coimbra, intendente das Minas do Reino, e juiz no Porto. O conde de Linhares encarregou-o do trabalho de canalizar o rio Mondego, de explorar as minas de ferro e de carvão e de melhorar, através de reformas, os diversos ramos da indústria: foi nessa época que José Bonifácio fundou a Sociedade Marítima de Lisboa.

A invasão francesa em Portugal o surpreendeu em meio aos trabalhos científicos: ela despertou em sua alma um sentimento de nobre patriotismo. À frente dos cidadãos que rechaçaram a agressão estrangeira, figura, como coronel do batalhão dos estudantes de Coimbra, o mesmo homem que se dedicava de corpo e alma à ciência, e só a ela parecia prestar contas de sua dedicação. Depois que os franceses saíram do território português, José Bonifácio foi nomeado intendente da polícia no Porto, e defendeu os partidários da França contra o ódio e as perseguições do povo, salvando a vida e os bens daqueles que se haviam comprometido ao aceitar empregos sob o governo de Junot.

Em 1819, José Bonifácio voltou à sua pátria, o Brasil. Em sua passagem pelo Rio de Janeiro, o governo de D. João VI, que pretendia fundar uma universidade, quis, de início, confiar-lhe a direção da mesma, mas intrigas derrubaram as intenções favoráveis do ministério: o projeto foi adiado. José Bonifácio apressou-se em voltar a seu retiro agreste de Outeirinhos, próximo à cidade de Santos. Foi ali que, tranqüilo, organizou o diário de suas viagens e classificou as coleções de minerais, plantas e medalhas trazidas da Europa. Pouco depois de sua chegada empreendeu uma viagem mineralógica pela província de São Paulo, com seu irmão Martim Francisco de Andrada, com o objetivo de constatar a existência de terrenos auríferos.

Na volta desta viagem, a 7 de setembro de 1822, o primeiro grito de Independência ressoou às margens do rio Ipiranga. D. Pedro, proclamado imperador do Brasil, chamou para perto de si, no Rio de Janeiro, seu mestre e amigo José Bonifácio, confiando-lhe a pasta do Interior e a dos Negócios Estrangeiros.

O ministério dos Andrada foi de curta duração: na queda da Assembléia Constituinte, que discutia os artigos da Constituição do Império, José Bonifácio foi preso e exilado em Bordeaux com os dois irmãos e outros deputados. Só após sete anos lhe foi permitido voltar à pátria, quando, curvado pela idade e afligido pela morte da esposa querida, apenas desejava acabar seus dias em retiro. A ilha de Paquetá foi o asilo escolhido, esperando ali encontrar o repouso tantas vezes desejado; mas a abdicação de D. Pedro, em abril de 1831, veio lhe impor novos deveres. Nomeado tutor do jovem imperador D. Pedro II, por dois anos e oito meses, como amigo verdadeiro, cumpriu dignamente as funções que D. Pedro I lhe havia confiado. Destituído deste título, em 15 de dezembro de 1833, pelo governo da Regência, retomou o caminho do retiro, onde esperou que fosse feita justiça àquele que, por um decreto da Assembléia Legislativa do Brasil, havia sido proclamado Patriarca de sua Independência. A sentença do júri de 8 de abril de 1835 tornou sem efeito a acusação feita contra José Bonifácio.

Este sábio terminou sua carreira aos 75 anos, a 6 de abril de 1838, no mesmo dia em que D. Pedro o havia nomeado tutor de seus filhos. José Bonifácio deixou como legado a seu país uma biblioteca de oito mil volumes, um gabinete de física e de mineralogia, uma coleção de medalhas e de manuscritos. As Memórias da Academia Real das Ciências de Lisboa guardam seus discursos e elogios históricos, suas pesquisas sobre as minas de chumbo e de ouro e sobre a pesca da baleia. O diário de Fourcroy contém suas memórias sobre o fluido elétrico, sobre os minerais da Suécia, sobre as plantas do Brasil.

Em 1827, José Bonifácio publicou, na França, uma memória sobre a abolição da escravatura, sobre sua viagem de pesquisas metalúrgicas à Alemanha e, com o pseudônimo de Americo Elysio, uma coleção de poesias com odes aos filhos da Bahia, aos gregos e diversas éclogas. Entre seus manuscritos se encontram o diário completo de suas viagens científicas, suas observações sobre as minas de Estremadura, um tratado de mineralogia, uma Memória sobre as águas termais de Ouro Fino, a tradução da Eneida de Virgílio e o elogio de D. Maria I, rainha de Portugal, o único que, nos últimos tempos, os amigos deram à impressão.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Bonif%C3%A1cio_de_Andrada_e_Silva

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