José de Alencar

José de Alencar

José de Alencar

Nome completo: José Martiniano de Alencar

Nascimento: Macejana, CE, em 1 de maio de 1829

Falecimento: Rio de Janeiro, RJ em 12 de dezembro de 1877

Forma autorizada: Alencar, José de

Ana Carolina Eiras Coelho Soares
Doutora em História Política/UERJ
Professora Assistente da UFG

José de Alencar durante toda a sua vida foi um homem “ligado às letras”. Aos onze anos de idade, o estudante do Colégio de Instrução Elementar já era o “ledor” oficial de sua casa. Senhoras ansiosas aguardavam as palavras do pequeno menino, centro de todas as atenções, que cedo percebera que todos os eventos do romances lidos por ele eram motivo de comentários, fossem eles raivosos ou intercalados pelas lágrimas de compaixão ao herói ou à heroína. De certa forma, esta experiência infantil viria a marcar profundamente a trajetória do escritor, conforme ele mesmo afirma em suas Obras Completas:

Foi essa leitura contínua e repetida de novelas e romances que primeiro imprimiu em meu espírito a tendência para essa forma literária que é entre tôdas a de minha preferência?
Não me animo a resolver esta questão psicológica, mas creio que ninguém contestará a influência das primeiras impressões.

Lia também jornais e cartas, mas eram os romances da “diminuta livraria romântica” particular, que aglutinava em sua casa quase todas as tardes, as vizinhas e amigas de sua mãe e tia, e por vezes noites, atentas aos desenlaces da estória. O fato de ter poucos livros obrigava-o muitas ocasiões a relê-los, o que não parecia incomodar as mulheres, que a pretexto de ocuparem-se com trabalhos de costura, solicitavam a presença do menino ao que ele considerava “lugar de honra”.

Entretanto, acrescenta com certa ênfase, que embora esta leitura cotidiana e contínua tenha contribuído deveras com a sua formação literária, somente foi capaz de tornar-se um romancista por ter herdado de sua mãe a “imaginação de que o mundo apenas vê as flores, desbotadas embora, e de que eu sòmente sinto a chama incessante”. Fato este bastante interessante: na própria construção de sua imagem como escritor para o público, não é importante ressaltar o quanto a leitura destes textos possa ter forjado estes moldes de escrita, e o quanto esta leitura possa ter contribuído para a sua percepção pessoal da realidade; sua “sensibilidade” é completamente atribuída a uma herança legada por sua mãe, ou seja, pela parte “feminina” de seu sangue. Não querendo ater-me neste fato por hora, apenas ressalto como na própria escrita autobibliográfica “informal”, Alencar proporciona “pistas” sobre os conceitos arraigados em seus pensamentos, para que posteriormente possa refletir até que ponto a maneira como ele pensava a si próprio e o mundo a sua volta influenciaria seu modo de escrever, onde a lógica romântica transbordava os limites do papel e tornava-se parte da vida das pessoas. Desta forma, a própria historicidade de meados do século passado seria o marco mesmo da origem e legitimação deste tipo de pensamento sentimental, de uma melancolia saudosista, que explica o homem, suas atitudes e sua história, prioritariamente, pelas suas emoções.
Sobre as obras lidas naquele pequeno círculo de leitura, Alencar aponta nominalmente Amanda e Oscar, Saint-Clair das Ilhas e Celestina, que “São novelinhas inglesas do fim do século XVIII, escritas por professoras inglesas, mas que chegaram ao Rio no vapor proveniente de Paris, já devidamente traduzidas e adaptadas pelos franceses.”

De acordo com Valéria De Marco constituem-se de “romances de segundo time”, sucesso de vendagem na época em que foram publicados, mas com uma estrutura narrativa episódica e teatral, repleta de tipos e lutas arquetípicas. Como não me compete o viés de uma análise literária, esta ilustração me serve no sentido de ter uma maior noção do teor das leituras feitas por Alencar em sua infância e adolescência, e que marcara-o tão profundamente a ponto de referenciar-se a isto em um de seus últimos textos escritos.

Outro fato bastante gravado na memória do autor foram as intensas atividades políticas desempenhadas por seu pai, o Senador José Martiniano de Alencar. Muitas foram as vezes que os políticos da época reuniram-se na casa de Alencar para um debate de idéias e opiniões a respeito de seus acontecimentos contemporâneos, e até mesmo para deliberar ações efetivas como por exemplo, as diversas reuniões do clube da maioridade, que acabou resultando na “revolução parlamentar da maioridade” de Pedro II e a “revolução de 42” (esta “revolução” refere ao movimento de reação liberal de 1842 em face da disputa política das facções conservadora e liberal no poder. O grupo de Aureliano de Sousa Coutinho, dirigente do Clube da Joana, conservador, solicitou a dissolução da Câmara dos Deputados ao Imperador, alegando esta ter sido eleita nas “eleições do cacete”. O Imperador acabou por ceder às pressões conservadoras, gerando uma profunda insatisfação na facção liberal que reconhecia nesta destituição e numa série de leis “centralizadoras”, um processo regressista operando no governo. As revoltas ocorreram em São Paulo e Minas Gerais, mas não duraram por muito tempo, terminado no mesmo ano).

Desta revolução de 1842, Alencar obteve seu primeiro contato com a experiência de escrita literária. Um amigo de seu pai, Joaquim Sombra, refugiado, hospedou-se em sua casa, e em uma de suas conversas sugeriu ao então jovem rapaz que escrevesse em um romance as aventuras vividas por Sombra durante a malfadada “revolução”. Este romance jamais foi publicado, mas descortinou para José, a possibilidade de criar suas próprias personagens e estórias, da mesma forma que outros criaram as que tanto povoaram sua infância. Revelou-se a oportunidade de deixar de ser apenas um leitor, ser também o escritor.

Em 1843, José de Alencar mudou-se para São Paulo para estudar na Faculdade de Direito. Mas sua paixão pela literatura romântica crescia a cada dia. Na capital paulista, como ele mesmo relatou, diversos foram os autores que encantaram os olhos do rapaz. Entre os brasileiros, conheceu o autor Joaquim Manoel de Macedo com a obra A Moreninha recém-publicada. Já com os estrangeiros travou longos e divertidos intercursos com Balzac, Alexandre Dumas, Alfredo Vigny, Chateubriand e Victor Hugo.

As obras de Alencar foram de certa forma, influenciadas pelas tessituras de sua própria vida e de suas leituras. Homem de seu tempo, sua leitura do mundo permitiu a criação de personagens que podem ser visto como históricos, por revelar as sensibilidades de uma época.

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