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18 de agosto de 1958 | O controverso romance Lolita, de Vladimir Nabokov, é publicado nos Estados Unidos

18 ago 2020

Artigo arquivado em Datas comemorativas
e marcado com as tags Escritores, Literatura Estrangeira, Literatura Universal, Lolita, Vladimir Nabokov

A história, um conto inicialmente de 30 páginas, permanecera arquivada por um tempo. Porém, o celebrado escritor russo Vladimir Nabokov intuía algo maior para o destino daqueles personagens. Humbert Humbert (H.H.), professor universitário de meia idade, se envolve com uma mulher para se aproximar de sua filha, uma jovem de 12 anos e que responde pelo pseudônimo Lolita. A história contada em primeira pessoa pelo protagonista H.H. assume tom confessional a fim de justificar a paixão proibida pela menina.

A ideia da obra surgiu em Paris em 1939, quando Nabokov encontrava-se acamado. O lampejo criativo teria surgido a partir de um artigo sobre as tentativas de um cientista em fazer um macaco executar um desenho. O resultado: um desenho das grades da jaula de onde o macaco estava recolhido. Essa curiosa alegoria estimulou o autor a pensar a história da jovem menina. Essa é a versão informada pelo autor. Recentemente, a escritora norte-americana Sarah Weinman em sua obra “A Real Lolita: o sequestro de Sally Horner” atesta que a obra de Nabokov foi inspirada por uma história real, noticiada em 1948, momento em que Florence Sally Horner é resgatada das mãos do pedófilo Frank La Salle. Em princípio, a história se passaria em Paris com outros nomes para os personagens. Por fim, o enredo é encenado na paisagem norte-americana, em função da transferência do autor para os E.U.A.

Escrito nos finais dos anos 1950, Nabokov enfrentava os desafios de encontrar um editor para publicar a intrigante história e de decidir se deveria ou não assumir sua autoria. Após recusas de editoras norte-americanas o livro,publicado pela Olympia Press em Paris, alcançou recorde de vendagem nos E.U.A e Europa. Nabokov sublinha a resistência dos editores norte-americanos pela intolerância com ao menos três dos principais tabus da sociedade americana dos anos 1950: literatura erótica, casamento interracial e ateísmo.

Nabokov conduz a narrativa com perícia e sagacidade. Dispõe ao público técnicas, como o método autobiográfico para conquistar a atenção do leitor. A descrição analítica tanto das ambiências exteriores, quanto das cenas íntimas e principalmente sobre os perfis psicológicos dos personagens revelam o grau de complexidade implícito em suas interações. As estratégias narrativas de sedução e desejo transferidas à jovem alcançam inesperadamente o leitor que se mantém conectado aos desdobramentos da história.

Uma leitura menos acurada reduziria a obra como escandalosa e pornográfica. Algo que o próprio Nabokov contesta ao definir os ingredientes necessários para a execução de uma obra pornográfica, recursos que se distanciam de sua proposta, que sequer conta com termos obscenos.Ao contrário do que supõe John Ray, prefaciador da obra, Nabokov provoca o leitor ao admitir que não há nenhuma finalidade moralizadora com o romance. O êxito de Nabokov está no tratamento de um tema tão hostil e delicado a partir de sofisticada construção linguística, capaz de proporcionar ao leitor grande riqueza de imagens e sensações.

Anos mais tarde a obra foi adaptada para o cinema por Stanley Kubrick em 1962. Roteirizado pelo próprio Nabokov, os escritos, segundo o autor, não foram devidamente aproveitados. Uma nova versão foi filmada em 1997 pelo diretor Adrian Lyne. Considerado um dos maiores romances do século XX, Lolita ocupa o ranking das 100 melhores obras em língua inglesa pela Revista Time.

Na imagem, matéria do jornal “O Mundo Ilustrado (RJ)” de 1959. A matéria assinada pelo escritor Rubem Braga avalia o efeito do lançamento da polêmica obra.

Hemeroteca Digital:


http://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=119601&pagfis=17297

(Seção de Iconografia)