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18 de junho | 113 anos da imigração japonesa no Brasil

18 jun 2021

Artigo arquivado em Datas comemorativas

Hoje, comemora-se o dia Nacional da Imigração Japonesa, data da chegada do primeiro navio com imigrantes japoneses ao Brasil. O marco inicial da aventura nipônica em nosso país foi a chegada do navio Kasato-maru ao Porto de Santos em 18 de junho de 1908. Partindo do Porto de Kobe em 28 de abril, após uma viagem de 52 dias, o vapor trouxe a bordo 781 imigrantes. Tinha início uma relação de cooperação e intercâmbio entre o Brasil e o Japão, dois países muito diversos, mas ligados pelos laços humanos da imigração e pela atração da forte parceria econômica, política e cultural.

Atualmente, o Brasil abriga a maior população de origem japonesa fora da “Terra do Sol Nascente”. Podemos afirmar que, no passado, devido à política isolacionista abraçada pelo Japão no início do século XVII até meados do século XIX, conhecíamos mal um ao outro. Com o tempo, esse desconhecimento recíproco recuou, porque a amizade, enquanto consolida e aprofunda laços, estimula o conhecimento do próximo.

Em função de seu vasto e rico acervo, a Biblioteca Nacional reúne diversos materiais sobre o Japão (literatura, história, artes e cultura em geral), além de livros sobre a cultura japonesa, revistas e jornais. Foi na terra de Matsuo Bashō que nosso Aluísio Azevedo (1857-1913) deu início a seu ensaio-reportagem sobre o Japão, projeto que não chegou a concluir, e que só seria publicado em 1984, por iniciativa de Luiz Carlos da Silva Dantas, ex-diretor do Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas, Unicamp, e publicada depois pela Biblioteca Nacional (https://www.bn.gov.br/producao/publicacoes/japao).

O álbum de fotos “Collecção D. Thereza Christina Maria”, considerado o maior acervo de um governante no Século XIX, possui inúmeras imagens fotográficas do Japão. Aficcionado por fotografia, D. Pedro II chegou a reunir um vasto acervo sobre a riqueza arqueológica de diversos países, incluindo o Japão. Nunca visitou o país. Porém, não o desconhecia. Entre as 20.000 fotografias do acervo doadas à Biblioteca Nacional do Brasil, há 24 imagens de paisagens japonesas, templos, palácios e outros locais históricos.

Dentre as obras preciosas de nossa Divisão de Manuscritos encontra-se um romance japonês, recebido em 1883 por doação de Carlos von Koseritz (1830-1890). Trata-se de uma narrativa em rolo horizontal que combina texto e imagem, forma de comunicação comum no Japão entre os séculos XI e XVI, utilizando predominantemente papel ou seda. Produzido no Período Kamakura (1185-1333), o romance narrado no rolo chama-se Shimizu no Kanja Monogatari, ou História do Vassalo de Shimizu, e conta a luta entre os clãs Minamoto e Taira, parte de uma série de conflitos conhecidos na história do Japão como Guerras Genpei (1180-1185)

Além dessa raridade existente em nosso acervo, em 2018, pesquisadores descobriram outro tesouro: um exemplar do ‘Vocabvlario da Lingoa de Iapam’ (título original), guardado na seção de Obras Raras da Biblioteca Nacional. Publicado em 1603, em Nagasaki, pelos missionários jesuítas, com uma prensa de tipos móveis metálicos importada da Europa, a obra é um dicionário bilíngue japonês-português e faz parte do chamado Kirishitan-ban (em tradução literal, Publicações Cristãs), que consiste de um conjunto de livros sacros, linguísticos e literários produzido pela Companhia de Jesus no Japão. O Vocabulário é o quarto de que se tem notícia e o primeiro do continente americano.

Para Maria Eduarda Castro Magalhães Marques, diretora executiva da Biblioteca Nacional e doutora em História Social da Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, parece razoável supor que o "Vocabvlario da Lingoa de Iapam" tenha sido incluído nas coleções originais que formaram o que viria a ser a Biblioteca Nacional do Brasil, mas não é possível ter certeza. Ele poderia ainda ter sido parte da Real Bibliotheca enviada de Portugal quando o tribunal foi instalado no Rio de Janeiro. Ou poderia ter vindo com uma coleção particular de um dignitário português. "Bem se poderia imaginar que um livro tão raro, relativo às atividades dos missionários jesuítas no Japão no âmbito do império ultramarino português, tivesse sido depositado na Real Bibliotheca no decurso de sucessivas aquisições e doações que marcaram a sua história até sua chegada turbulenta ao Brasil. [....] As coleções dos jesuítas também foram depositadas na Real Bibliotheca. O Vocabulário poderia ter sido enviado, sem registro, entre os livros realocados para o Brasil. Infelizmente, não há evidências materiais de sua procedência. O título não é mencionado em nenhum manifesto de acervos da Biblioteca enviado para o Brasil. Também não existe qualquer selo ou ex-libris ligando o Vocabulário à Biblioteca antes da independência do Brasil. Embora não haja evidências, não é totalmente impossível que tenha escapado do zelo dos bibliotecários reais. A lista dos livros originalmente pertencentes à Casa do Infantado inclui alguns referentes à presença portuguesa no Japão. O Vocabulário, porém, não é um deles." (Cf. Maria Eduarda Castro Magalhães Marques, The Vocabulário da Língua do Japão in Brazil’s National Library. Tradução livre). O mistério de sua procedência permanece.

Em 2002, a Revista Poesia Sempre prestou homenagem à grande poesia e cultura do Japão. Na edição foram abordados não apenas a formação do haicai, mas, sobretudo, certos matizes do pensamento oriental. A revista apresentou uma pequena antologia dos quatro poetas clássicos do país, Bashô, Buson, Issa e Shiki, ilustrada pela calígrafa Hisae Sagara. Os poetas Casimiro de Brito e Ban’ya Natsuishi traduziram e selecionaram 60 haicais japoneses do século XX, debatendo, antes disso, as razões fundamentais da escolha. A seleção, que incluiu poetas de renome como Yamamuchi, Sumitaku, Tomizawa, Kawahara e Natsuishi, foi capaz de produzir – além do frescor de uma poesia pouco conhecida em nosso país – um comportamento de fundamental relevância, frente ao olhar generoso que duas culturas devem guardar afervoradamente, uma diante da outra.

A imigração japonesa no Brasil constitui ainda um vasto campo de pesquisas não só históricas, como para as ciências afins. No dia 21 de junho de 2021, às 17 horas, um episódio da série “Lives da BN”, "Imigração japonesa em Parintins, Amazonas - registros em fontes de outros estados", falará de como, a partir da década de 1930, um pequeno grupo de imigrantes japoneses chegou à Amazônia, tendo como primeira morada a Vila Batista, no município de Parintins/Amazonas, mais tarde renomeada como Vila Amazônia. Os participantes vão contar um pouco da história destes imigrantes japoneses e apresentarão, por meio de itens do acervo da Biblioteca Nacional, como as informações sobre eles chegavam a outros lugares do Brasil
(https://www.bn.gov.br/acontece/eventos/2021/06/imigracao-japonesa-parintins-amazonas-registros-fontes).

Depois de mais de um século, contrariando os pessimistas, a integração dos japoneses e brasileiros em solo nacional mostrou-se não apenas possível, mas também fecunda, e já podemos considerar seu legado parte integrante da cultura brasileira. O Brasil recebeu deles lições de disciplina, dedicação, lealdade, diligência, além de abertura para o saber e do firme propósito de tudo aperfeiçoar. Em retribuição, deu-lhes a acolhida amistosa que só os povos que se querem bem mutuamente podem dar.