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27 de maio | Dia Nacional da Mata Atlântica

27 maio 2021

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Em resposta a uma demanda de seu superior, Padre José de Anchieta (Iconografia) escreve a Carta de São Vicente: uma descrição de quase 25 páginas “acerca do que suceder conosco que seja digno de admiração ou desconhecido nessa parte do mundo” (Cartas, Informações, Fragmentos Históricos e Sermões do Padre Joseph de Anchieta). O documento foi escrito em 27 de maio de 1560 e, por causa da narrativa pormenorizada que Anchieta mantém sobre as terras por ele visitadas no litoral da colônia portuguesa, foi tomado como marco descritivo fundamental do ambiente natural dado a conhecer e que, posteriormente, foi denominado Mata Atlântica.

Na carta, o Padre Anchieta descreve desde os regimes das chuvas, que pautam as estações do ano, passando pelos animais e plantas silvestres característicos da região compreendida como São Vicente (atual estado de São Paulo) até a Bahia, dedicando-se a citar os elementos naturais por ele vislumbrados. Assim, tanto a fauna terrestre quanto a aquática foram listadas, bem como a flora exuberante. Serpentes, peixes, aves, felinos, insetos: toda a sorte de animais são elencados por ele, oferecendo ao seu leitor informações sobre hábitos dos animais, propensão à caça pelos indígenas, se representavam alimento ou perigo aos homens. Prosseguindo a narrativa, Anchieta fala sobre os aspectos peculiares da vegetação que compõe a região visitada. São ervas, tubérculos, árvores frondosas, das quais destacamos o seguinte trecho:

Entre outras, há aqui certa erva espalhada por toda a parte e que muitas vezes vimos e tocamos, a que chamamos viva, porque parece ter tal ou qual sentimento: pois, se a tocares de leve com a mão ou com qualquer outra coisa, imediatamente as suas folhas, fechando-se sobre si mesmas, se ajuntam e como que se grudam; depois, daí a pouco tornam a abrir-se (Cartas…, p. 126 - grifo do autor).

Viva e pulsante, como na descrição acima sobre a plantinha encontrada, a Mata Atlântica apresenta, ao seu desbravador, “diversas árvores de frutos excelentes para comer-se, muitos de suavíssimo cheiro, e de mui deleitável sabor” (Cartas…,p. 127). Um manancial de riquezas naturais que, até então, vivia em equilíbrio, oferecendo aos seus habitantes o necessário a sua sobrevivência.

O bioma, originalmente, estendia-se do Rio Grande do Sul até o Rio Grande do Norte - usando as nomenclaturas atuais dos estados -, cobrindo uma faixa litorânea de cerca de 1.110.182 Km², o que representaria cerca de 15% do território brasileiro. Devido a sua extensão, influenciava diretamente no regime de chuvas, gerando abundância desse bem precioso: a água. A partir desse elemento, animais e vegetais cresciam em profusão trazendo, aos indígenas, os povos originais, alimento e medicamento, quando se fazia necessário curar alguma enfermidade.

Em razão do uso predatório do solo e da vegetação - que ocorre desde a extração do pau-brasil, passando pela agroindústria canavieira, pela cafeeira, etc. -, da ocupação dessa faixa por grandes cidades - cujo crescimento desordenado acentua a perda de cobertura vegetal -, seu tamanho foi progressivamente reduzido, restando, em dados de 2020, pouco mais de 12% de sua cobertura vegetal inicial, o que representa um pouco mais de 130 mil Km².

Motivado pelas preocupações sócio-ambientais, discutidas a partir de meados do século XX - em especial no contexto da década de 1990, com movimentos como a Eco-92 (Jornal do Brasil), crescimento de Organizações não Governamentais (ONGS) de proteção ao meio ambiente (Ciência e Cultura), divulgação de protocolos de recuperação ecológica e climática mundial -, e tendo como referência o citado documento de José de Anchieta, o dia 27 de maio foi instituído, por Decreto Federal de setembro de 1999, como Dia Nacional da Mata Atlântica (Jornal do Brasil).

Percebe-se, a partir de então, um aumento dos eventos de preservação ambiental, com plantios e reflorestamentos de áreas de proteção, parques, margens e nascentes de rios (Jornal do Commércio), despoluição de rios, lagos, praias (Jornal do Commércio; Jornal do Commércio/AM, http://memoria.bn.br/DocReader/170054_02/88853 e http://memoria.bn.br/DocReader/170054_02/96508), que entraram no calendário anual de comemoração pela data. Uma tentativa de reduzir, por meio da educação ambiental, a derrubada desenfreada da vegetação e, por consequência, restaurar as condições de recuperação da vida existente na área, ainda que parcialmente.

Um dos grandes componentes dessa mudança é a organização civil, através de ONGs e instituições voluntárias de proteção ambiental, o que vem progressivamente se estabelecendo desde o final da década de 1980. Nesse caminho, a ONG SOS Mata Atlântica, fundada em 1987, (Correio do Povo/SC) é uma das mais antigas em atuação, organizando ações de monitoramento e reflorestamento de áreas degradadas, bem como produzindo documentos como o Atlas da Mata Atlântica (Tribuna da Imprensa).

A ação desses grupos ajuda a propagar informações sobre os benefícios de se manter a floresta, inclusive em meio urbano, o mais preservada possível. As árvores retiram o gás carbônico - produzido por veículos e indústrias, por exemplo - do ambiente e liberam, através de suas folhas, o oxigênio - imprescindível para que nós tenhamos um ar com qualidade para respirar. A cobertura vegetal proporciona diminuição das temperaturas ao seu redor, eliminando ilhas de calor que tanto assolam nossos grandes centros urbanos. As raízes absorvem as águas das chuvas, evitando os temidos alagamentos. Encostas de morros, com vegetação preservada, tendem a manterem-se firmes, diminuindo a ocorrência de deslizamentos de terra. A lista de benefícios segue enorme!

Muitas entidades civis mantém-se atuantes no caminho da preservação, orientando os moradores de bairros e comunidades a fazerem hortas comunitárias, a apoiarem o plantio de árvores em suas calçadas, a adotarem uma árvore regando mudas plantadas por prefeituras e por voluntários, a não cimentarem canteiros - optando, por exemplo, a fazerem um jardim de chuvas. Também são contínuos os movimentos de limpeza de praias e florestas, com a atuação de voluntários (Tribuna da Imprensa; O Fluminense).

Devido às pressões sociais, atuação de ONGs e grupos ambientalistas, e ações de educação ambiental (Tribuna da Imprensa), foram criadas leis que definem os crimes ambientais, bem como as sanções devidas (Jornal do Commércio).

Muitas outras alternativas de preservação já foram pensadas e estão sendo encaminhadas. Uma delas propõe agregar o turismo à preservação, através do turismo sustentável (Jornal do Commércio/AM). Outras soluções passam pela adoção de sistemas agroflorestais de produção, aliando a preservação da floresta à produção de alimentos de origem vegetal e animal.

Contudo, para o século XXI, a agenda de preservação segue, infelizmente, defasada. A recuperação, especialmente em áreas limítrofes aos centros urbanos, continua vagarosa. As demandas por políticas públicas de proteção ambiental - que compreendem questões como captação de financiamentos de apoio às ações de reflorestamento e recuperação de áreas degradadas, adoção da educação ambiental como projeto pedagógico, efetivo, nas escolas, campanhas de alerta e reflexão para a preservação das florestas, inclusive em meio urbano, não só como patrimônio, mas como garantidor da vida humana -, crescem à medida que nossa sociedade aumenta.

E o que o cidadão comum pode fazer para contribuir com a proteção à floresta? Cada pequena atitude conta: pode preservar a árvore em sua calçada; pode regar uma muda; não deve jogar lixo no chão, ou nas praias, ou nos rios. Pode passar essa ideia adiante!

Dia 27 de maio, ajude a preservar a Mata Atlântica.

Explore outros documentos:

Annaes da Academia Brasileira de Ciências

Diário de Pernambuco

Jornal do Commércio

Rodriguésia

http://memoria.bn.br/DocReader/144398/15353

http://memoria.bn.br/DocReader/144398/15439

O Fluminense

http://memoria.bn.br/DocReader/100439_14/76962

http://memoria.bn.br/DocReader/100439_14/77015

http://memoria.bn.br/DocReader/100439_14/88874

http://memoria.bn.br/DocReader/100439_14/598

http://memoria.bn.br/DocReader/100439_14/876

http://memoria.bn.br/DocReader/100439_14/13812

http://memoria.bn.br/DocReader/100439_14/13941

O Município

http://memoria.bn.br/DocReader/891720/44177

http://memoria.bn.br/DocReader/891720/2912

http://memoria.bn.br/DocReader/891720/610

http://memoria.bn.br/DocReader/891720/4390

Uno Fato (RS)

O Pioneiro (RS)

http://memoria.bn.br/DocReader/885959/257459

http://memoria.bn.br/DocReader/885959/160655

Gazeta de Caxias

Folha do Sul

Jornal do Brasil

http://memoria.bn.br/DocReader/030015_12/163823

http://memoria.bn.br/DocReader/030015_12/237640

http://memoria.bn.br/DocReader/030015_12/237769

Tribuna da Imprensa

http://memoria.bn.br/DocReader/154083_05/29048

http://memoria.bn.br/DocReader/154083_06/2303

http://memoria.bn.br/DocReader/154083_06/4899

http://memoria.bn.br/DocReader/154083_06/7863

Correio Braziliense

Preserve a Mata Atlântica (Caderno de Seguro da Funenseg)