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29 de junho | Dia do Pescador

29 jun 2020

Artigo arquivado em Datas comemorativas
e marcado com as tags Dia do Pescador, Jorge Amado, Mar Morto, São Pedro

O pescador tem dois amor
Um bem na terra, um bem no mar
O pescador tem dois amor
Um bem na terra, um bem no mar
O bem de terra é aquela que fica
Na beira da praia quando a gente sai
O bem de terra é aquela que chora
Mas faz que não chora quando a gente sai
O bem do mar é o mar, é o mar
Que carrega com a gente, pra gente pescar
O bem do mar é o mar, é o mar
Que carrega com a gente, pra gente pescar

(O bem do mar – Dorival Caymmi)

A pesca é uma das mais antigas atividades de sobrevivência humana. As referências a ela
aparecem em pinturas rupestres, relatos medievais, estudos sobre as culturas originárias das
Américas. Contudo, foi graças às escrituras bíblicas que um pescador, de nome Simão, se
notabilizou. Adotou o nome Pedro e passou a ser celebrado pela religião Católica como São Pedro Apóstolo, bem como é considerado fundador da Igreja Cristã, em Roma, e seu primeiro Papa, após desígio de Jesus: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei minha Igreja”(Mt 16:18). Em referência a sua atividade, antes de se tornar apóstolo, é Padroeiro dos Pescadores, sendo o dia 29 de junho,estabelecido como data festiva dedicada a São Pedro e aos Pescadores.

Profissão que também mexe com imaginário de músicos, literatos, artistas plásticos, encontrou
especial atenção, em Jorge Amado, Dorival Caymmi e Oswaldo Goeldi que juntos, compuseram
belas referências a esses trabalhadores que, independente das marés e do clima, atiram-se ao mar em busca do alimento e do sustento da família.

As referências em questão, estão presentes em obras como o romance Mar Morto, de Jorge
Amado. Cheio de poesias e inspirado nas mitologias dos marinheiros e pescadores de Salvador, em especial, em sua referência a Iemanjá, o livro Mar Morto, do baiano Jorge Amado (1912-2001), publicado em 1936, é uma das mais marcantes obras brasileiras sobre o tema: um painel poético, porém trágico, sobre a luta desses trabalhadores pela sobrevivência, onde um dos personagens, o jovem mestre de saveiro Guma, simboliza o destino desses profisisonais que, ao saírem para a pesca, não sabem se retornarão aos lares ou se serão levados com Iemanjá para as lendárias terras de Aiocá.

Contemplado, em 1937, com o Prêmio Graça Aranha (Vamos Lêr! http://memoria.bn.br/DocReader/183245/1063), o livro discute ainda o destino das mulheres

desses marinheiros que são tragados pelo mar: com a ausência de seus companheiros, estariam
fadadas ao caminho da prostituição, por não terem mais seu sustento. Até que a jovem Lívia,
companheira de Guma, quebra esse paradigma e ressignifica opapel das mulheres (Fon-Fon,
http://memoria.bn.br/DocReader/259063/94326).

O livro inspirou compositor baiano Dorival Caymmi (1914-2008) a compor um de seus maiores
sucessos: o mote “Como é doce morrer no mar”, que se repete ao longo do romance, se
transformaria em tema do compositor. Trechos de áudio da música encontram-se no acervo
sonoro da Biblioteca Nacional (A Jangada Voltou só – É doce Morrer no Mar, http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_musica/pas_mus/1055670.mp3)

É doce morrer no mar
Nas ondas verdes do mar
É doce morrer no mar
Nas ondas verdes do mar
Saveiro partiu de noite foi
Madrugada não voltou
O marinheiro bonito
Sereia do mar levou
É doce morrer

(É doce morrer no mar - Dorival Caymmi. O Cruzeiro, http://memoria.bn.br/DocReader/003581/47960)

Essa obra apresenta, também, belas gravuras do ilustrador, e professor, carioca Oswaldo Goeldi
(1895-1961), disponíveis no acervo digital da Biblioteca Nacional, e que foram utilizadas na
composição da obra de Jorge Amado. As imagens, também cheias de um olhar poético, ilustram
cenas do trabalho dos pescadores, sua paixão pelo mar e, também, a emoção deixada para trás,
ao partirem rumo ao mar desconhecido em busca do sustento.

Gravuras de Oswaldo Goeldi para a obra Mar Morto:

http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_iconografia/icon457452.jpg

http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_iconografia/icon457453.jpg

http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_iconografia/icon457456.jpg

Finalizamos com mais uma bela composição de Dorival Caymmi, em homenagem a esses
profissionais. Parabéns aos pescadores pelo seu dia!

Minha jangada vai sair pro mar
Vou trabalhar, meu bem querer
Se Deus quiser quando eu voltar do mar
Um peixe bom eu vou trazer

(Suíte do Pescador – Dorival Caymmi)

Explore os documentos:

Nota sobre Jorge Amado
Vamos lêr! http://memoria.bn.br/DocReader/183245/1435

Gravuras de Pescadores
Pescador em Pernambuco, H Lewis, 1848,

http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_iconografia/icon393042i7/icon393042i7.jpg

Pesca Indígena, Franz Keller Séc XIX,

http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_iconografia/icon303720/icon303720.jpg

Dois Pescadores, Oswaldo Goeldi,

http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_iconografia/icon447702.jpg

http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_obrasraras/or230577p175.jpg

GOELDI, Oswaldo. Dois pescadores. [S.l.: s.n.]. 1 grav., col., 26,5 x 36,5cm.