BNDigital

A Estação - Jornal illustrado para a família

17 ago 2015

Artigo arquivado em Hemeroteca
e marcado com as tags Arte e cultura, Arthur Azevedo, Colunismo social, Comportamento, Conservadorismo, Costumes tradicionais, Entretenimento, Literatura, Machado de Assis, Moda, Rio de Janeiro

Lançado no Rio de Janeiro (RJ) em 15 de fevereiro de 1879, o periódico A Estação era propriedade da livraria, tipografia e litografia Lombaerts & Cia., gerida pelo belga Jean Baptiste Lombaerts e seu filho, Henri Gustave Lombaerts, com sede no nº 7 da Rua dos Ourives. Impresso na Europa e graficamente bem-acabado, o periódico era especializado em moda, comportamento, etiqueta, costumes, literatura e “vida mundana”, com foco no público feminino de classe média. Tendo reproduzido ao público brasileiro - principalmente o feminino - padrões de beleza e vestuário tipicamente europeus, ao passo em que mantinha boa linha literária, com textos de Machado de Assis, Arthur Azevedo, Olavo Bilac, Júlia Lopes de Almeida, Luiz Murat, Raymundo Corrêa, entre outros, foi mantido até 1904 em periodicidade quinzenal, saindo sempre nos dias 15 e 30 de cada mês.

A Lombaerts trabalhava especialmente com jornais e revistas importados. A partir de 1872 a livraria produziu um suplemento em português que acompanhava alguns dos periódicos estrangeiros de maior destaque em seu catálogo, em especial a revista francesa La Saison, que circulou no Brasil de 1872 a 1878. Tendo seu pai falecido em 1875, em 1879 Henri Gustave Lombaerts passou a editar A Estação como uma versão brasileira de La Saison, chegando a copiar a identidade visual do cabeçalho da publicação francesa. O suplemento originado em 1872 é, assim, considerado precursor de A Estação, já que o mesmo traz em seu nº 1 a marca de “oitavo anno do nosso jornal”.

Quando lançado, A Estação mostrava-se um “jornal brazileiro indispensavel a toda mãi de familia economica, que deseje trajar e vestir suas filhas, segundo os preceitos da época”. Como publicação voltada ao público feminino, o periódico fazia eco ao Jornal das Famílias, sendo, no entanto, graficamente mais luxuoso e editorialmente menos conservador: não trazia ensinamentos religiosos e defendia a instrução feminina, embora com moderação. Em seus primeiros momentos, A Estação somente podia ser assinado anualmente, ao preço de 12$000 para moradores da corte e de 14$000 para as demais províncias.

A Estação foi um periódico dividido em duas partes independentes: uma de “jornal de modas”, inicial, com oito páginas impressas em alta qualidade na Alemanha; e outra de literatura, com inicialmente quatro páginas, impressa no Brasil. A parte dedicada à moda era quase que legitimamente “importada”: fora alguns textos da seção de abertura do jornal, seu conteúdo era reproduzido da revista alemã Die Modenwelt, publicada em Berlim pela editora Lipperhide, que fazia circular praticamente o mesmo periódico em inúmeros países, com edições em alemão, holandês, inglês, português, dinamarquês, sueco, francês, italiano, espanhol, russo, polonês, checo e húngaro (esta é a razão desta parte do jornal ser impressa na Alemanha). A seção de abertura dessa primeira parte do jornal era intitulada “Chronica da Moda”, que, além de registrar a vida elegante da elite carioca, reproduzia ao público feminino brasileiro o padrão europeu de vestuário, expondo as principais tendências da moda parisiense mesmo com o descompasso climático entre Brasil e a França, que a fazia apresentar roupas pesadas em pleno verão e roupas frescas no inverno. Essas crônicas eram majoritariamente escritas em Paris, embora dedicadas especialmente à edição brasileira do periódico. Nos primeiros anos, a “Chronica da Moda” era assinada por Antonia Aubé ou por Brasilia Pinheiro, que podem ser pseudônimos; já nos momentos finais do jornal, saíam sob a assinatura do “Correio da Moda”, então sob responsabilidade de Paula Cândida.

Fora a seção de abertura do jornal, o restante da primeira parte de A Estação, de moda, era composto basicamente por gravuras – com extensas legendas explicativas – mostrando vestuário elegante para situações diversas, figurinos para crianças, moldes para a fabricação de artigos de moda e ilustrações para a produção de artigos domésticos (ornamentos, tapetes, cestos, brinquedos, etc.). Uma ou duas páginas com ilustrações eram impressas a cores, coloridas a aquarela.

Como possuísse apenas quatro páginas, o caderno de literatura do jornal inicialmente se assemelhava a um encarte. Com colabores de destaque nas letras nacionais, a “Parte Litteraria” de A Estação tinha seções de literatura, variedades, teatro e espetáculos, feitas especialmente para a edição brasileira, independentemente do conteúdo da Die Modenwelt. Assim, publicava contos, poemas, romances, crônicas teatrais, críticas, relatos de viagens, resenhas, notícias variadas (sobre o cotidiano cultural da corte brasileira, nobrezas de outros países, assuntos curiosos, entre outras amenidades), dicas de entretenimento, conselhos e informações de utilidade para a mulher e a família (orientações sobre higiene, comportamento, vida sentimental, moral, beleza, etiqueta, sugestões de economia e utilidade doméstica, etc.), anedotas, pensamentos e máximas, belas artes (com partituras de músicas e reproduções de pinturas, normalmente xilogravuras retiradas de Die Modenwelt), cartas de leitores, passatempos, anúncios publicitários, etc.

Toda a parte literária do jornal teve grande importância, sendo expandida para seis páginas em 1890. Entre 1879 e 1898, A Estação publicou um número expressivo de colaborações de Machado de Assis, incluindo contos, poemas, romance, crítica, resenhas, editoriais, traduções e textos de variedades. Casa Velha, O Alienista, as Histórias sem data e a seriação do romance Quincas Borba saíram na seção literária do periódico, sendo que as últimas duas obras ainda foram reimpressas pela Lombaerts como livro, posteriormente, para o editor Baptiste Louis Garnier. As crônicas teatrais, assinadas por “X-Y-Z”, possivelmente eram de responsabilidade de Arthur Azevedo, que, a partir de 1885, passou a manter a seção “Chroniqueta” sob seu pseudônimo mais conhecido: “Eloy, o heróe”. Além de Machado de Assis e Arthur Azevedo, outros nomes que tiveram seus textos publicados no periódico foram Olavo Bilac, Júlia Lopes de Almeida, Luiz Murat, Raymundo Corrêa, Alberto de Oliveira, Luiz Delfino, Guimarães Passos, Lúcio de Mendonça, Luiz Guimarães Júnior, José de Moraes Silva, Alfredo Leite, Lúcio de Mendonça, Adelina A. Lopes Vieira, Dantas Júnior, A. Augusto de Pinho, Oscar Rosas, Gastão Bousquet, Palmyra Ityberé, Ignez Sabino, Theotonio de Oliveira, A. Azamor, entre outros, incluindo vários autores franceses traduzidos.

Conforme editorial da edição de 15 de março de 1882, a tiragem de A Estação nesse ano era de 10 mil exemplares, sinal de que o periódico havia conquistado boa aceitação frente ao público. No entanto, com a desestabilização econômica durante os primeiros anos da República, em 1891 A Estação aumentou os seus preços. Assinaturas semestrais e anuais para residentes na capital e para leitores de outros estados passaram a ser, respectivamente, de 9$000, 15$000, 10$000 e 17$000. Ainda em 1891, na edição do dia 15 de maio, os editores-proprietários do periódico, que até então apareciam apenas como “H. Lombaerts & C.”, passaram a figurar como “Lombaerts, Marc Ferrez & C.” por um curto período, voltando o expediente a estampar apenas o nome de Lombaerts depois de alguns meses.

A partir do aumento nos preços de assinaturas em 1891, A Estação só viria a custar ainda mais caro. No ano seguinte, na edição de 15 de novembro de 1892, as assinaturas foram corrigidas para 10$000 e 18$000 (semestral e anual para moradores do Rio de Janeiro) e 11$000 e 20$000 (semestral e anual para fora da capital). Em 15 de agosto de 1893, com a crise econômica ocasionada pela Revolta da Armada, os preços de assinaturas tornaram a aumentar e, pela primeira vez, os números avulsos passaram a ser disponibilizados para compra, por 1$500. Mas mesmo em crise financeira, com o passar do tempo A Estação aparecia com mais páginas. O periódico vinha contando com mais publicidade e com uma nova capa em suas encadernações, onde lia-se, além do título, o subtítulo “Jornal de modas parisienses dedicado as senhoras brasileiras”.

Em meados de 1896, a página de rosto da publicação trazia o nome de Henri Lombaerts sozinho na propriedade e na direção do jornal, sem o “& Cia.”. Em verdade, sua livraria e casa impressora chegava ao fim: nas capas de edições de A Estação do segundo semestre de 1896 informava-se que as assinaturas do periódico deveriam ser feitas na livraria A. Lavignasse Filho & Cia., “successores de H. Lombaerts”. Na edição de 15 de janeiro de 1897, ano de falecimento de Henri Lombaerts, A. Lavignasse Filho & Cia. passaram a ocupar definitivamente o lugar do antigo editor no expediente da folha, como diretores-proprietários.

Ao fim da década de 1890, A Estação dava sinais mais explícitos de sua frágil saúde financeira. Na edição de 15 de janeiro de 1897 o jornal expunha que “Muitas e terriveis teem sido as difficuldades ultimas da existencia de uma folha exclu[s]ivamente artistica; as torturas do cambio são constantes e cada vez mais oppressoras; são entretanto poderosos os auxilios das nossas distinctissimas protectoras que a Estação tem podido continuar”. Em 1898 novos preços foram estipulados para as assinaturas.

A Estação parou de circular em sua edição de 15 de fevereiro de 1904, possivelmente pelo fim de sua casa editora. Neste ano a loja de A. Lavignasse Filho & Cia., que funcionava no antigo endereço da livraria Lombaerts, teve de ser demolida para dar lugar à nova avenida Central (atual Avenida Rio Branco).

Fontes:

- Acervo: edições do nº 1, ano 8, de 15 de janeiro de 1879, ao nº 3, ano 33, de 15 de fevereiro de 1904.

- Catálogo de jornais e revistas do Rio de Janeiro (1808-1889) existentes na Biblioteca Nacional. In Anais da Biblioteca Nacional, vol. 85. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1965.

- CRESTANI, Jaison Luís. O perfil editorial da revista A Estação: jornal ilustrado para a família. Tese de doutorado. São Paulo: Universidade Estadual Paulista, 2008. Disponível em: http://www.anpoll.org.br/revista/index.php/revista/article/viewFile/67/61 Acesso em 21 de mai. 2012.

- HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. São Paulo: Edusp, 2005.