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A Estrela Brasileira – Independance et Verité

13 nov 2017

Artigo arquivado em Hemeroteca
e marcado com as tags Conservadorismo, Crítica política, Dom Pedro I, Imprensa Áulica, Pierre Plancher, Primeiro Reinado, Rio de Janeiro

Até o retorno da Corte portuguesa do Brasil para a Europa, em 1821, havia a proibição da circulação de impressos que não fossem da Impressão Régia na colônia: somente a imprensa oficialmente ligada a Dom João VI tinha autorização para circular. No entanto, conforme Pedro de Alcântara assumiu como príncipe regente e seus interesses na ruptura entre a colônia e a metrópole cresciam, iniciando-se o processo de Independência e estabelecendo-se o fim da censura ao material impresso, esse quadro mudou. Foi nesse contexto em que diversas folhas periódicas começaram a surgiram: caso de A Estrela Brasileira, um pasquim de curta existência, editado pelo impressor e livreiro francês Pierre René François Plancher de la Noé entre 20 de outubro de 1823 e julho de 1824, para promover a política do regente, no processo de Independência do Brasil, que se estendeu de 1821 a 1825.

Apesar de a Independência ter sido uma pauta de setores de ideologia liberal, que tinham voz principalmente no Correio do Rio de Janeiro, no Revérbero Constitucional Fluminense, n’A Malagueta, e na Sentinella da Liberdade, na prática, para consolidar seus interesses, o já aclamado imperador Dom Pedro I lançou mão de puro absolutismo: postura em que o uso de uma imprensa áulica era estritamente necessário. A isso se prestava A Estrela, que, de certa forma, apesar de lutar pela Independência, não foi muito diferente da Gazeta do Rio de Janeiro, que, lançada a 10 de setembro de 1808 e extinta em 31 de dezembro de 1822, era o órgão oficial do reinado de Dom João VI no Brasil, mantido pela Impressão Régia, então capitaneada por José Bernardes de Castro, Mariano José Pereira da Fonseca e José da Silva Lisboa. A suspensão desta última folha quando do início da Independência abria espaço para o surgimento de periódicos como A Estrela Brasileira, de linha governista, embora a serviço da ruptura entre o Brasil e Portugal, e do imperador brasileiro: assim foi que, em sua edição de 17 de novembro de 1823, o pasquim de Pierre Plancher publicava pronunciamento de Dom Pedro defendendo a dissolução da Assembleia Constituinte até então em vigor – decisão autoritária que frustrou as correntes liberais do país. Nas páginas d’A Estrela, cabe dizer, o monarca publicava textos de seu próprio punho, assim como faria futuramente em outras folhas conservadoras dotadas de certo rigor oficial, mais lembradas pela historiografia: o Diário Fluminense, a Gazeta do Brasil e O Analista.

Em edições de quatro ou seis páginas, de formato 31 x 21 cm, impressas na Typographia de Manuel Joaquim da Silva Porto & Cia., A Estrela Brasileira era publicada às segundas, quartas e sextas-feiras de cada semana. Seus exemplares podiam ser adquiridos por assinatura, “em caza de Mr. Dairreau, rua da Cadeia n. 101”, ou na livraria de Pierre Plancher, situada primeiro no nº 60 da Rua dos Ourives, depois no nº 80 da Rua do Ouvidor.

Fontes:

- Acervo: edições do nº 13, de 17 de novembro de 1823, ao nº 106, de 12 de julho de 1824.

- FONSECA, Gondin da. Biografia do jornalismo carioca (1808-1908). Rio de Janeiro: Quaresma, 1941.

- SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966.

- MOLINA, Matías Martínez. História dos jornais no Brasil: da era colonial à Regência (1500-1840) v. 1. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.