BNDigital

A Razão (Rio de Janeiro, 1916)

17 ago 2015

Artigo arquivado em Hemeroteca
e marcado com as tags anticomunismo, Carlos Lacerda, Censura e repressão, Conservadorismo, Crítica política, Ditadura civil-militar brasileira, Espiritualidade, Estado Novo, Filosofia, Getúlio Vargas, Liberalismo econômico, Questões morais, Questões trabalhistas, Racionalismo cristão, Rio de Janeiro, União Democrática Nacional

Lançado no Rio de Janeiro (RJ) em 19 de dezembro de 1916 e circulando até a atualidade, A Razão é o jornal oficial da doutrina conhecida como racionalismo cristão. Foi criado por Luiz José de Mattos e Luiz Alves Thomaz, os fundadores da corrente filosófico-espiritual no Brasil.

Em sua primeira fase, A Razão circulou de 19 de dezembro de 1916 a 30 de julho de 1921. Com sede e oficina própria no nº 65 da Rua da Quitanda, era um diário matutino, propriedade de sociedade anônima, contando com “serviço telegraphico das agencias Havas, Americana e de correspondentes especiais”, conforme seu próprio subtítulo. Sendo inicialmente um típico jornal de imprensa diária, tinha linha predominantemente política e econômica, abordando atualidades e efemérides em plano local e internacional, variedades do comércio e da indústria brasileiros, noticiário geral de outros estados, esportes, entretenimento e “vida mundana”, cotidiano militar e institucional, etc. Havia em suas páginas uma coluna com noticiário específico sobre Portugal, folhetim, uma “secção livre”, anúncios, charges e fotos. Algum destaque era dado ao movimento operário em geral, mas com certas restrições: conservador e governista, o jornal refutava teses “comunistas” e “anarquistas”. Importante ressaltar ainda que, nas oito páginas de tamanho standard de A Razão, nesta primeira fase, o tema do racionalismo cristão foi aparecendo aos poucos, através da abordagem direta da doutrina ou de assuntos ligados a ela.

Com o tempo, até 1921, instituiu-se o Centro Redentor, a instituição do racionalismo cristão no Rio de Janeiro. Como era de se esperar, esta foi regularmente colocada em pauta pelo jornal. Após a suspensão da folha em 30 de julho de 1921, quando já atingia a marca de 1.674 edições publicadas, calcula-se que em 1938 A Razão voltou a ser publicado. No entanto, a nova fase durou pouco: muito pelo seu caráter crítico ao governo Vargas, o jornal foi fechado pelos órgãos de repressão política do Estado Novo.

Após sua suspensão em plena Era Vargas, A Razão foi retomado na sua edição 1.683, de 8 de dezembro de 1948. Na ocasião tendo Emir Nunes de Oliveira como diretor e redator-chefe, com Nelson Nunes de Oliveira como diretor-gerente, o jornal expunha o seguinte, no editorial que anunciava seu retorno:
Após a extinção da nefasta ditadura getuliana é este o primeiro número de A Razão que surge, demonstração viva que a truculência pode atenuar e até paralisar a expressão do pensamento, porém jamais extinguirá as forças de reação que o próprio pensamento potencialmente encerra. Fomos forçados por imposição do abjeto DIP, a deixar de circular. Os então senhores do Brasil, orientadores da opinião, os depositários da “verdade”, os donos do tesouro público, por imposição do bacamarte, de suplícios, da rolha dirigida por censores analfabetos e indignos, entenderam, que a modesta A Razão, circulando quinzenalmente não lhes servia aos desígnios, e mandaram o ukass de suspensão. Não havia probabilidade para a luta, e os responsáveis pelo nosso jornal, tiveram que obedecer, não sem antes ter apelado para um conselho, comissão, ou que outro nome usasse, composta por títeres, que desprezou o recurso. É bom que não se esqueça que dessa turma faziam parte donos ou diretores de alguns chamados grandes jornais, que por aí andam, agora, também a denegrir a ditadura, com a qual comeram, comungaram e tripudiaram. A carne é fraca, e quando se trata de grandes papanças ou figurações, só possuindo a fibra de um Luiz de Mattos, é possível resistir.

Nessa retomada, A Razão continuava abordando temas caros ao racionalismo, com destaque a ensinamentos espirituais diretamente derivados do pensamento de Luiz Thomaz e Luiz de Mattos e a atividades e variedades promovidas pelo Centro Redentor, (em 1949 presidido por Antonio do Nascimento Cottas), A Razão tinha então perspectiva política liberal quando o assunto era economia, enquanto, no sentido moral, era conservador. Anti-comunista, era próximo da União Democrática Nacional (UDN). Consequentemente, foi um órgão de imprensa a criticar duramente o governo de João Goulart e a apoiar o golpe militar de 1964 – época em que, no plano fluminense, louvava as ações de Carlos Lacerda. Nesse sentido, periódico focou, ao longo de sua trajetória, assuntos como política nacional, questões educacionais, avanços científicos, filosofia, juízos de valores sobre determinados tópicos da vida em sociedade, economia, a assistência social no Brasil, questões trabalhistas e atuação sindical, questões agrárias, urbanismo, eutanásia, inseminação artificial, divórcio, saúde, psicologia e comportamento, etc. Publicavam-se, sobretudo, artigos de opinião, entre algumas notícias, editoriais, comentários, uma coluna feminina, anúncios e colunas sociais.

Apesar de ter sido relançado como quinzenário, nesta nova fase A Razão logo passou a sair mensalmente, todo dia 20. Ademais, pouco tempo após a retomada da edição, Nelson Nunes de Oliveira deixou a gerência da folha para Orlando José da Cruz. Com a morte deste em 28 de outubro de 1975, no entanto, Joaquim Pereira da Costa assumiu seu posto, até que, a partir da edição de 19 de fevereiro de 1977, Costa passou a ser o responsável pela direção geral do jornal, dado o afastamento de Emir Nunes de Oliveira. Nesse momento, João Baptista Cottas se firmou como o novo diretor-gerente de A Razão.

Já na década de 1990 Cottas era o diretor-responsável pelo periódico. Em seguida João Batista Cotas Gomes (possivelmente parente do primeiro Cottas, apesar da diferente grafia no sobrenome) ocupou seu lugar, para então, e até a data em que este texto foi produzido, Gilberto Silva assumir.

Fontes:

- Acervo: edições do nº 1, de 19 de dezembro de 1916, ao nº 1. 674, de 30 de julho de 1921; edições do nº 1.683, ano 8, de 8 de dezembro de 1948, ao nº 2.212, ano 62, de 19 de dezembro de 1980; edição 2.365, ano 77, de janeiro de 1994; edição nº 2.547, ano 93, de fevereiro de 2009; edição nº 2.615, ano 97, de setembro de 2014.

- SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966.