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Acervo da BN | A arte da escrita de Manuel de Andrade de Figueiredo

12 abr 2021

Artigo arquivado em Acervo da BN

A obra Nova Escola para aprender a ler, escrever e contar, de Manuel de Andrade de Figueiredo, publicada no início do século XVIII, é um manual para aprender a ler, escrever e contar. Possui um estilo de caligrafia criado pelo autor, baseado na Nueva Arte de escribir, do famoso calígrafo espanhol Morante, impressa em 1615. Na dedicatória, o autor diz ser seu livro o primeiro no gênero que se publica em Portugal e tornou-se referência para calígrafos que vieram depois dele. Segundo o bibliófilo Rubens Borba de Moraes, a caligrafia ensinada por Figueiredo vigorou até o período de D. José I, em Portugal, quando então os mestres-escola passaram a ensinar a escrever segundo o estilo dos calígrafos ingleses e franceses. O manual chegou a ser recomendado pelo governador da Capitania de São Paulo, Antônio Manuel de Melo Castro e Mendonça, a partir de 1771.

Manuel de Andrade de Figueiredo era filho do governador da capitania do Espírito Santo, onde nasceu, em torno de 1670. Teve uma formação jesuíta, foi educador, poeta e, em Lisboa, tornou-se um famoso calígrafo. Faleceu em Lisboa, em 1735.

O livro é dividido em quatro tratados. No primeiro, o autor ensina a ler o idioma português, com várias "advertências" sobre a forma de ensinar e os "métodos" que devem ser observados pelos mestres. No segundo, é abordado o ensino da escrita, incluindo os instrumentos utilizados. São descritos tipos de suporte, como papel e pergaminho, receitas de tintas, os tinteiros mais recomendados, variados tipos de letras e as penas utilizadas para cada uma. O terceiro trata da ortografia portuguesa, a partir de sete regras, e o quarto ensina as regras da aritmética.

A obra encanta pela sua beleza estética, com ilustrações repletas de simbolismo, letras ornamentadas e muito bem elaboradas. Alguns traços caligráficos compõem imagens, que formam uma poesia visual junto com o texto, representadas em gravuras. Contém ainda um frontispício com o retrato do autor, na idade de 48 anos.

A Nova escola para aprender a ler, escrever e contar está inserida num contexto de produção de manuais para o ensino da escrita, que existem desde o século XVI. Segundo a historiadora Marcia Almada, a "arte de escrever", nos séculos XVII e XVIII incluía a ortografia e a caligrafia e o domínio da técnica da escrita fazia os bons e grandes escrivães. Em consonância com a pesquisadora, esses manuais são regidos por determinadas normas, de acordo com a época, e ajudam a entender a adoção de algumas regras na escrita. No caso dos manuais de caligrafia impressos, em Portugal,no século XVI, existia o de Manuel Barata, intitulado Exemplares de diversas sortes de letras. No século XVIII, o ensino da caligrafia atingiu um novo patamar, em Portugal, com a publicação da obra de Manuel de Andrade de Figueiredo. Na Espanha, havia uma produção maior desses manuais, tendo sido utilizados em Portugal. O próprio Manuel de Andrade de Figueiredo fez referência a sete autores espanhóis.

A obra transcende a função de ser apenas um manual de caligrafia. Na introdução do fac-símile, publicado pela FBN, em 2010, o historiador Arno Wehling aponta que seu conteúdo vai além do ensino da arte de caligrafia, aborda normas pedagógicas, didáticas e metodológicas sobre alfabetização, ensino de português e aritmética. Figueiredo, por exemplo, critica o método tradicional de alfabetização, propondo a aprendizagem das sílabas e não do abecedário. Por esse motivo, a Nova Escola [...] ganha importância também para a história da Pedagogia, no âmbito do mundo luso-brasileiro.


A Nova escola para aprender a ler, escrever e contar está sob a guarda da Seção de Obras Raras e pertence à Coleção Real Bibliotheca.