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Acervo da BN | A série de gravuras Les Bohémiens, de Jacques Callot

25 fev 2021

Artigo arquivado em Acervo da BN
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A gravura apresentada é a cópia de uma gravura de Jacques Callot (1592-1635), feita por um artista desconhecido. Nesta cena da vida doméstica cigana vemos um acampamento onde alguns dedicam-se à preparação de um banquete, outros jogam cartas e até mesmo uma mulher que dá à luz uma criança. A gravura original de Callot, intitulada La halte des bohémiens: les apprêts du festin, compõe a série conhecida como Les Bohémiens. Esta série, formada por quatro gravuras a água-forte e buril realizadas na década de 1620, foi uma obra muito copiada.

As cópias podem ser reconhecidas por diversas características, como diferenças nas dimensões e inscrições e, evidentemente, pela sutileza do desenho e da técnica. No caso da gravura apresentada vemos no canto inferior esquerdo a inscrição “Callot in.” (invenit), enquanto no original consta “Callot fe.” (fecit). Nas palavras de Jed Perl, no artigo Jacques Callot's Line Sublime, em faces com menos de um quarto de polegada, Callot é capaz de registrar emoções humanas e em figuras menores que meia polegada é possível vislumbrar pessoas com físico e comportamento particulares.

A série Les Bohémiens apresenta episódios da vida dos ciganos em quatro gravuras de aproximadamente 12 x 24 cm. As duas primeiras representam Les bohémiens en marche, isto é, a marcha de um grupo de indivíduos a pé, a cavalo e em uma carroça, alguns caminhando descalços carregando consigo os pertences e animais domésticos (Les bohémiens en marche: l'arrière-garde; Les bohémiens en marche: l'avant-garde ou le départ). Em seguida, a gravura La halte des bohémiens: les diseuses de bonne aventure retrata a parada do grupo de ciganos em uma fazenda, onde se alimentam, fazem a predição da sorte, roubam o celeiro e alguns são furiosamente perseguidos. A quarta e última gravura da série é a que ilustra a postagem e representa a parada dos ciganos e os preparativos de um banquete.

De interpretação controversa, a série foi muitas vezes associada a um episódio lendário da vida de Callot, no qual ele ainda muito jovem teria fugido da casa da família em Nancy, no Ducado da Lorena (atual França), para ser um artista em Roma, juntando-se a um grupo de ciganos que estava a caminho de Florença. Edward Sullivan, no artigo Jacques Callot's Les Bohémiens, menciona que a identificação das figuras como ciganos não foi contestada até 1955, quando Georges Sadoul sugeriu identificá-las como soldados mercenários alemães que destruíram a região da Lorena durante a Guerra dos Trinta Anos(1618-1648). Diane Wolfthal, autora de Princes and Paupers, The Art of Jacques Callot, assinala que as quatro gravuras têm exatamente as mesmas dimensões e, justapostas, formam um friso contínuo com elementos composicionais unindo uma gravura à outra, introduzindo no conjunto um elemento temporal.Considera que Callot incluiu muitos detalhes realistas, mas também estereótipos negativos dos ciganos, especialmente na terceira gravura, e omitiu aspectos como, por exemplo, suas atividades na metalurgia, na criação de cavalos e nas artes.