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Acervo da BN | Abraham Bosse e seu Tratado de Gravura

20 mar 2021

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Abraham Bosse (1602 ou 1604-1676) foi um gravador francês natural da cidade de Tours, um mestre da água-forte que viveu no século XVII um período de revolução na gravura, em que o domínio da gravura em madeira na produção de imagens cedeu espaço ao florescimento da gravura em metal na França.

Bosse foi aprendiz de Melchior Tavernier, gravador e impressor do rei Luís XIII, além de editor, que desempenhou um papel crucial em sua carreira, tanto por ter sido seu mestre como pela colaboração em diversas ocasiões. Bosse foi um gravador prolífico e grande parte de sua obra é dedicada à ilustração de livros. Cerca de 1600 gravuras são atribuídas a ele, abordando uma ampla gama de temas: religiosos, históricos, alegóricos, literários e cenas da vida cotidiana, que o tornaram muito popular. Sua obra gravada inspirou motivos para a decoração de móveis e peças de ourivesaria, por exemplo, e foi muito copiada em pinturas, nas quais a interpretação pessoal dos pintores variou enormemente.

Além de gravador, é autor de livros sobre arquitetura e perspectiva, abordando as perspectivas linear, aérea e em superfícies irregulares. Adquiriu notoriedade com a publicação de obras utilizando as teorias geométricas de seu amigo Girard Desargues, pioneiro nos estudos da geometria projetiva. Teórico reconhecido, Bosse foi convidado a ministrar aulas de perspectiva na Académie Royale de Peinture et de Sculpture em 1648, afastando-se da instituição em 1661, após um conflito entre ele e outros acadêmicos, entre os quais Charles Le Brun.

Bosse é o autor do primeiro manual sobre gravura, publicado em Paris em 1645, intitulado “Traité des manières de graver en taille douce sur l'airain par le moyen des eaux fortes et des vernix durs et mols, ensemble de la façon d'en imprimer les planches...”. Bosse procurou apresentar o que o gravador deveria dominar para obter em água-forte uma imitação dos entalhes nítidos e precisos do buril. O manual é dedicado à gravura em metal, particularmente à água-forte. Explica a composição e a maneira de fazer os vernizes, como aplicá-los sobre as chapas de cobre e desenhar sobre elas, como reconhecer um bom cobre, forjar e polir as chapas. Oferece explicações sobre a gravura a buril e a maneira de imprimir as chapas, descrevendo as partes da prensa e o processo de impressão.

Segundo William M. Ivins, em Prints and visual communication, a obra foi de consulta obrigatória durante mais de um século. Teve grande divulgação e diversas reedições, sendo traduzida inclusive para o português. Ao longo das sucessivas edições novas considerações e ilustrações foram acrescentadas. A edição em língua portuguesa, traduzida do francês pelo padre José Joaquim Viegas Menezes, foi publicada em 1801 pela Tipografia Calcográfica, Tipoplástica e Literária do Arco do Cego, em Lisboa. Cabe lembrar que das 22 gravuras elaboradas para ilustrar tal edição, as matrizes de 11 gravuras encontram-se sob a guarda da Biblioteca Nacional.

(Seção de Iconografia)

Estampa nº 4, Modo de governar as pontas sobre a chapa, que ilustra o “Tratado da gravura a água-forte, a buril e em maneira-negra, com o modo de construir as prensas modernas e de imprimir em talho doce” (Lisboa, 1801).

A ilustração acompanha a instrução de como gravar linhas retas ou curvas, com a mesma espessura de uma ponta à outra (AB) ou com espessuras desiguais em seu comprimento (ab), para as quais é necessário que o gravador module a pressão com que sulca a chapa de cobre. As figuras (mn), (op) e (qgr) mostram que os traços convenientes à gravura não são mais que uma reiteração dos tipos de linhas indicados anteriormente. Na parte inferior indica-se que mesmo nas hachuras empregam-se traços retos ou curvos de mesma espessura ou com extremidades delgadas.