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Acervo da BN | O Cruzeiro

10 nov 2020

Artigo arquivado em Acervo da BN
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“Depomos nas mãos do leitor a mais moderna revista brasileira (…). Seu nome é o da constelação que, há milhões incontáveis de annos scintila, aparentemente immovel, no céo austral, e da nova moeda em que ressuscitará a circulação do ouro.” (Editorial.O Cruzeiro, Ano 1, n.1)

Com um texto de abertura eufórico e festivo, a revista Cruzeiro, que anos mais tarde ganharia o artigo “O” para integrar o título, passando a se chamar O Cruzeiro, seria fundada por Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo, no dia 10 de novembro de 1928. Durante os mais de 50 anos de circulação, a publicação buscou ser um símbolo de modernidade e prometia revolucionar as técnicas tradicionais de edição e diagramação, entre os impressos periódicos do país. Teve sua circulação interrompida em 1975, retornado depois com novos padrões de edição, sendo encerrada definitivamente em 1985. Atualmente, os direitos da publicação encontram-se sob propriedade da D.A Press, uma empresa do grupo Diários Associados, com sede em Brasília.

Em uma ousada aposta, sob a direção de Carlos Malheiros Dias - jornalista português e principal idealizador da revista -, o primeiro número teve a impressionante tiragem de 50 mil exemplares, em uma festa de lançamento que foi precedida por uma chuva de panfletos informativos da estreia do semanário pelas ruas do Rio de Janeiro, então Capital do país. Ela possuía escritórios em vários estados brasileiros, além de correspondentes internacionais nas principais capitais europeias e norte americanas como Lisboa, Roma, Londres, Paris, Berlim e Nova York. Entre os anos de 1950 e 1960 Chateaubriand investiria ainda no público internacional, com edições em espanhol que circulariam, dentre outros locais, no Uruguai e na Argentina.

Em suas páginas escreveram renomados autores de literatura brasileira, jornalistas, cartunistas, comentaristas sociais. Passaram pela revista, Austregésilo de Athaíde (O Cruzeiro), José Lins do Rego (O Cruzeiro), Rachel de Queiroz (O Cruzeiro), Dinah Silveira de Queiroz (O Cruzeiro), David Nasser (O Cruzeiro), Adonias Filho, que chegou a ser diretor da Biblioteca Nacional, entre 1961 e 1971 (O Cruzeiro).

Pioneira no Brasil do chamado fotojornalismo somavam-se, àquelas figuras de destaque na intelectualidade brasileira, sofisticadas propostas de edição, com uso das mais modernas tecnologias de diagramação e fotografia daquele momento. Também conhecidas como fotorreportagens, caracterizavam-se pelo uso prioritário de imagens, em destaque central nas páginas da revista, bem como utilização de papel diferenciado, de qualidade superior que, por ser mais encorpado e, por vezes, até acetinado, ressaltava as imagens ali publicadas.

Como uma revista de ampla circulação e de alcance nacional e internacional, procurava expressar temas que transitavam entre saúde, esportes, passando por cinema, teatro, política. A atuação de Chateaubriand, no meio político, praticamente garantiu a sobrevivência da revista mesmo em tempos de endurecimento político, em especial nas décadas de 1930 e 1960. A revista manteve qualidade, apesar da censura existente, nesses momentos em que o Brasil assistiu ao empastelamento de vários veículos de comunicação, como o caso de O Jornal, do próprio Chateaubriand, em 1933, devido a perseguições políticas e censura.

O auge da revista se deu entre os anos de 1940 e 1960, com as crônicas semanais de vários jornalistas brasileiros, como os já citados anteriormente, reportagens de David Nasser e Jean Manzon (O Cruzeiro), bem como a tentativa de manter uma revista internacional – empreendimento iniciado em 1952 e suspenso em meados da década de 1960. Entretanto, com a concorrência de outras revistas mais modernas, como Manchete - (1952-2000) e Fatos & Fotos (1961-1984), ambas de Adolpho Bloch, gradualmente a revista perde seu peso no cenário midiático nacional: não consegue renovar seu modelo editorial, mantém publicidade excessiva em suas páginas - em algumas ocasiões chegando a mais de 40% do total de páginas da revista -, muitos dos seus jornalistas migram para outros veículos de comunicação. O golpe final foi o falecimento de Chateaubriand, em 1968, e a perda de qualidade dos padrões editoriais dali em diante. Em 1975, descontinuam-se as atividades da revista. Posteriormente, em 1977, os Diários Associados retomam a publicação, mas, sem o mesmo glamour de antes, a revista O Cruzeiro foi definitivamente encerrada em 1985 (O Cruzeiro).

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O Cruzeiro, Ano 1 N. 1