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Anais da Biblioteca Nacional

10 ago 2014

Artigo arquivado em Hemeroteca

Criado em 1876 por Benjamim Franklin de Ramiz Galvão, um dos mais notáveis diretores (1870 -1882) da Biblioteca Nacional em seus mais de 200 anos, os Anais da Biblioteca Nacional é a principal publicação desta instituição por divulgar, ao longo de 137 anos, vasto e original material documentário, bibliográfico e interpretativo referente ao seu precioso acervo e as suas atividades técnicas. Hoje ainda é esta a finalidade do periódico, tal como anunciado pelo barão de Ramiz Galvão na apresentação do primeiro volume:

“Satisfazendo ao preceito da lei e ao mesmo tempo a uma das mais legitimas necessidades da BIBLIOTHECA NACIONAL do Rio de Janeiro, sáe hoje a público o 1º fasciculo de seos ANNAES.

Trabalho sem precedentes no paiz, e dedicado á publicação de nossas riquezas litterarias, que até agora viveram sepultadas no exquecimento e ignoradas, já se não diz do mundo d’além mar, mas ainda dos próprios nacionaes, - é de crer-se que este commettimento encontre a animação e a benevolência, a que tem direito pelo seu objecto e pela sua intenção.

Valiosamente auxiliado pelos dignos chefes de secção e mais empregados da Bibliotheca, desejo inserir nesta publicação: os nossos inéditos mais preciosos, noticia assim dos livros raros e altamente estimáveis que povôam as nossas estantes, como das peças mais curiosas que compõem nosso gabinete de estampa, trabalhos biobibliographicos sôbre os mais celebres escriptores e amadores nacionaes, - emfim tudo que interesse não só á bibliographia em geral, mas ainda, e em particular, á bibliographia brazileira, que até hoje ainda não teve sinão raros cultores e registros incompletos.” (Anais da Biblioteca Nacional, Ano I, vol. 1, 1876-1877, ps. VII e VIII.)

A lei a que ele se referia é o Artigo 4° do Decreto nº 6, de 1876, que contém o Regulamento da Bibliotheca Nacional e vinha reproduzido no centro da página inicial do volume: “(...) Ao bibliothecario (nome que tinha então o dirigente máximo da instituição) compete (...) § 10º - Dirigir a publicação dos Annaes da Bibliotheca Nacional, revista periódica onde deverão ser publicados os manuscriptos interessantes da Bibliotheca, e trabalhos bibliographicos de merecimento, cponstos pelos empregados da repartição, ou por indivíduos extranhos a Ella.”

São inúmeros os documentos preciosos publicados pelo periódico, que também é o mais antigo da Instituição. Um dos mais significativos desses documentos é a História do Brasil do frei Vicente do Salvador, de 1637, considerada a primeira obra de história do Brasil (foi a primeira usar este nome como título), porém inédita até ser publicada no volume 13 dos Anais, em 1899. Embora houvesse algumas cópias do manuscrito em Portugal e pelo menos uma no Brasil, ela era praticamente desconhecida pelos estudiosos (o historiador Francisco Adolfo de Varnhagen foi exceção, mas, como observou Capistrano de Abreu, não lhe deu a devida publicidade). A cópia existente no país foi doada à instituição, por um conhecido livreiro fluminense, isto em 1881, poucos dias antes da grande Exposição de História do Brasil organizada nesse ano pelo mesmo Ramiz Galvão.

Outros títulos e trabalhos inéditos, e de inequívoco valor, publicado nos Anais são, por exemplo, o Manuscrito Guarani da Bibliotheca Nacional do Rio de Janeiro sobre a Primitiva Catechese dos Índios das Missões, composto em castelhano pelo p. Antonio Ruiz Montoya (...) (vol. 6); a Historia ou Annaes dos feitos da Companhia privilegiada das Indias Ocidentais desde o seu começo até ao fim do anno de 1636, por Joannes de Laet, director da mesma companhia (vols. 33 e 41-42); as Cartas de Luiz Joaquim dos Santos Marrocos, escritas do Rio de Janeiro à sua família em Lisboa, de 1811 a 1821 (vol. 56); a Correspondência entre Maria Graham e a Imperatiz D. Leopoldina e cartas anexas, além do Escorço biográfico de Dom Pedro I, com uma notícia do Brasil e do Rio de Janeiro, também da mesma autora (vol. 60); Do Descobrimento dos Diamantes, e Diferentes Methodos, que se tem Praticado na sua Extração (vol. 80); a História do Reinos Vegetal, Animal e Mineral do Brasil, Pertencente à Medicina, por Francisco Antônio de Sampaio (vol. 89), ou ainda Tesouro Descoberto no rio Amazonas, do padre João Daniel, considerado o mais importante escrito sobre a região no período colonial e um conjunto de depoimentos quefazem parte dos Autos da Devassa determinada pela Coroa portuguesa para apurar a Conjuração dos Alfaiates que estava sendo organizada em Salvador nos idos de 1798.

Também de extrema importância para a memória e a pesquisa no país tem sido a publicação de catálogos, inventários e bibliografias elaborados pelos técnicos da instituição, a começar pelo imenso Catálogo da Exposição de História do Brasil (CEHB), mencionada acima, e que até hoje é fonte valiosíssima de pesquisa em diversas áreas do conhecimento. Foi publicado em dois alentados tomos e um suplemento do volume 9, 1881, que totalizam 20.337 referências, em 1.758 páginas (incluindo-se o suplemento). Destacam-se,ainda, o Catálogo dos Manuscritos da Biblioteca Nacional, publicado em fascículos nos volumes 4, 5, 10, 15, 18 e 23; o Catálogo da Exposição Permanente dos Cimélios [obras e documentos raros] da Biblioteca Nacional, no volume 13; o Catálogo da Exposição Nassoviana Comemorativa da Chegada de Maurício de Nassau; o Catálogo por ordem chronologica das Biblias, Corpos de Biblia, Concordancias e Commentarios existentes na Bibliotheca Nacional. E ainda os catálogos de manuscritos referentes a inúmeros estados do Brasil, o catálogo da Exposição Camoneana organizada em conjunto com o Real Gabinete Português de Leitura, o Instituto Histórico e Geográfico Brasil, além de outras instituições, e ainda a Brasiliana da Coleção Barbosa Machado. Abade de Santo Adriano de Sever, Diogo Barbosa constituiu no século XVIII uma preciosa coleção de opúsculos raros sobre a história de Portugal e do Brasil doada, juntamente com o resto de sua biblioteca e outros documentos, à Real Biblioteca portuguesa que, entre 1810 e 1811, foi trazida para o Brasil (oito tomos do vol. 92). Por isso, aliás, ele foi homenageado por Ramiz Galvão logo no primeiro volume dos Anais.

Os assuntos tratados nos 129 números (e um número bem maior de tomos) publicados até hoje são os mais diversos, espelhando o caráter enciclopédico do acervo. Escreve-se sobre tudo – ou quase tudo – que se refere à formação econômica, cultural, política e social do Brasil: de documentos dos governos centrais, provinciais ou estaduais e municipais; de biografias e arquivos de personagens da nossa história a coleções de documentos sobre importantes episódios da história do Brasil, como as conjurações Mineira e Baiana; de manuscritos a documentos cartográficos e iconográficos; das políticas interna e externa, como as questões e tratados de limites; sobre franceses e holandeses no Brasil Colonial; sobre a Independência e a Proclamação da república; sobre línguas indígenas e a atuação dos jesuítas e demais ordens missionárias; sobre a conquista da Amazônia e de outras regiões brasileiras; da Igreja Católica a diversas instituições de ensino; sobre folclore e mitologia; sobre medicina, botânica, zoologia, geologia e mineralogia; sobre viajantes e sociedades científicas; sobre teatro e música no Brasil etc. Além, como não poderia deixar de ser, de assuntos técnicos relacionados à catalogação, organização e preservação da documentação, isto é, questões da biblioteconomia e da arquivologia.

Entre personagens e autores, muitos destes últimos antigos funcionários da Biblioteca Nacional, sobressaem nomes (e respectiva documentação) como os de José de Anchieta, Antônio Vieira, Maria Graham, Shakespeare, Albrecht Dürer, Luís de Camões, Américo Vespúcio, Claudio Manoel da Costa, Tiradentes, Miguel de Cervantes, Mem de Sá, Manuel de Borba Gato, José Bonifácio de Andrada e Silva; e escritores e bibliotecários como Capistrano de Abreu, Manuel Duarte Moreira de Azevedo, Plácido Barbosa, Clóvis Bevilacqua, Alfredo do Vale Cabral, José Severino de Menezes Brum, Maria Graham, Lygia da Fonseca Fernandes da Cunha, Afonso Celso de Assis Figueiredo, Darcy Damasceno, Rodolfo Garcia, Celuta Moreira Gomes, Leandro Tocantins, José Veríssimo, Arnold Wiznitzer, Ronaldo Menegaz, Ana Virgínia Pinheiro e tantos outros que se valeram dos Anais da Biblioteca Nacional para divulgar seus estudos e conhecimentos.O volume de número 100, correspondendo ao ano de , traz os índices por assunto, autor e título, além do sumário dos volumes.

Nos últimos anos os Anais da Biblioteca Nacional publicaram também as palestras de importantes seminários realizados em torno de seu acervo, entre os quais “Abolição & Abolicionistas”, realizado em maio de 1996 por ocasião do lançamento do livro José do Patrocínio (vol. 116): Coletânea de Artigos; “A Coleção do Imperador. Fotografia Brasileira e Estrangeira no Século XIX”, que complementou a exposição do mesmo nome montada no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, e também em São Paulo, Lisboa e Buenos Aires (vol. 117) ou ainda o seminário “Diário de Campo. Arthur Ramos, a Antropologia e os Antropólogos”. Também estão sendo publicados nos números mais recentes estudos elaborados por pesquisadores selecionados pelo Plano Nacional de Apoio à Pesquisa (Pnap) da Fundação Biblioteca Nacional.

Os 16 primeiros volumes foram publicados na Tipografia G. Leuzinger & Filhos; os seguintes (até o v. 22)na Tipografia Leuzinger; o vol. 23 na Tipografia Nacional; de 24 a 50 na Oficina Tipográfica da Biblioteca Nacional; de 51 a 60 na gráfica do Ministério da Educação e Saúde/ Ministério da Educação e de 61 a 96 na Imprensa Nacional. Desde então passou a ser impresso em gráficas particulares.