Atalaia
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Silva Lisboa tinha grande prestígio frente à coroa, no que se tratava de sua oratória. Quando, entre 1808 e 1821, apenas impressos da Impressão Régia tinham permissão de circular, esta era dirigida por uma junta composta por Silva Lisboa, José Bernardes de Castro (oficial da Secretaria de Estrangeiros e de Guerra) e Mariano José Pereira da Fonseca; o trio deveria se certificar de que nada atentando contra a religião, o governo ou os “bons costumes” fosse impresso. Para tanto, contavam com o exame prévio dos censores reais: o frei Antônio de Arrábida, o padre João Manzoni, Carvalho e Mello e o próprio Silva Lisboa. Com o processo de Independência do Brasil, que se estendeu de 1821 a 1825, e a turbulência política do período, o visconde de Cairú manteve-se ao lado de Dom Pedro I, ajudando-o através da redação e da impressão de inúmeros periódicos de apoio ao monarca e, sobretudo, de revide a seus opositores liberais. O Conciliador do Reino Unido, Reclamação do Brasil, Sabbatina Familiar de Amigos do Bem-Commum, Heroicidade Brasileira e Honra do Brasil Desafrontada de Insultos da Astréa Espadaxina foram alguns dos pasquins do áulico publicista.
Nelson Werneck Sodré, no livro “História da Imprensa no Brasil”, reserva as seguintes palavras a Silva Lisboa, referindo-se ao visconde no contexto pós-Independência. Naquele momento,
Esse áulico empedernido continuaria a desovar impressos. É discutível incluí-los na categoria de imprensa, mas são característicos e por isso devem ser mencionados. Mal se findara o seu sexto periódico, a Causa do Brasil, a 20 de março de 1823, engendrou o Atalaia, de que apareceram 14 números pelo menos. (...) Silva Lisboa e suas publicações, de distante parentesco com a imprensa, mostra o grau de decadência a que ela chegara em 1825: era o mais fundo o abatimento a que o absolutismo conduzira o país. Em 1825, por outro lado, encerravam-se, com os acordos presididos pelo representante inglês Stuart, as negociações para o reconhecimento da Independência, cujos termos revoltaram os espíritos. Ia começar, desse fundo de poço, a arrancada liberal, em que a imprensa desempenharia papel relevante. (p. 97)
Cerca de dois anos depois do fim de Atalaia, dado o início da Guerra Cisplatina em 1825, quando o recém-nascido Império do Brasil disputaria com as Províncias Unidas do Rio da Prata a posse da Província Cisplatina, Silva Lisboa ainda veio a editar o Triumpho da Legitimidade Contra Facção de Anarquistas, para fazer propaganda da campanha junto à opinião pública, já que o conflito não era visto com bons olhos para a população brasileira: implicaria altos gastos de dinheiro público, gerando, naturalmente, um aumento nos impostos.
Fontes:
- Acervo: edições do nº 1, de 31 de maio de 1823, ao nº 14, de 2 de setembro de 1823.
- SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966.
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[Periódico] Atalaia, edição 01, de 1823.