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Biblioteconomia | Achille Ratti (Pio XI), bibliotecário de Cristo

21 mar 2022

Artigo arquivado em Biblioteconomia

"A história, é o tecido vivo dos fatos: tecido no qual os desígnios e as ações dos homens se confundem e compenetram com os desígnios de Deus para lançar estes à posteridade e aparecer a soberania e realeza divinas mais esplendentes com o amor de Deus ao homem que se revela em toda a urdidura..."
(Achille Ratti, 1895)

Filho de um supervisor de uma fábrica de seda em uma pequena cidade ao norte de Milão, Ratti decidiu, ainda criança, que seria sacerdote. Nascido em 31 de maio de 1857 em Desio, foi batizado um dia depois de ter nascido, com o nome de Achille Ambrogio Damiano Ratti.

Achille Ratti dedicou sua juventude aos estudos, revolvendo arquivos, manuseando incunábulos, interpretando palimpsestos, fomentando e publicando velhos códices e manuscritos históricos. É fácil de compreender a sua feição intelectual. Muito jovem ainda, apenas terminados os seus estudos eclesiásticos, toma contato, na Biblioteca Ambrosiana, com aqueles elementos que hão de cativá-lo e prendê-lo, como na lenda beneditina, o monge a transcrever os antigos manuscritos.

Entregue inteiramente aos estudos, rapidamente tornou-se um auxiliar de valia a quem se recorria com prazer e se consultava nas dificuldades. Sua cultura histórica logo se impôs e revistas passaram a disputar sua valorosa colaboração. Suas obras estão espalhadas em revistas, documentos e opúsculos vários (cerca de 60). Dizem a respeito à Igreja em Milão, à própria biblioteca, à liturgia ambrosiana, às artes, à literatura, tudo isto com um nexo geral: a história religiosa de Milão.

Ávido de saber, Ratti percorreu diversas bibliotecas pela Itália e Europa. Em 1888, tornou-se parte do colégio de doutores da famosa Biblioteca Ambrosiana, instituição histórica milanesa que também abriga a Pinacoteca Ambrosiana, tornando-se prefeito em 1907. Como bibliotecário, além de equipar a Biblioteca com sistemas de segurança contra incêndio, reorganizou e melhorou seu espaço, restaurou as antigas salas da Pinacoteca, reconstruiu o antigo Museu Settala, estabeleceu um gabinete fotográfico, um laboratório de restauração e ainda publicou um guia resumido para visitantes do local, descrevendo as coleções do acervo.

Homem de vasta cultura e erudição, graduou-se por três vezes: Filosofia, Direito Canônico e Teologia; colaborou temporariamente com o professor de mineralogia e vulcanologia Giuseppe Mercalli; foi professor de matemática no seminário menor; estudou hebraico no seminário arquiepiscopal e aprofundou os seus estudos com o Rabino Chefe de Milão, Alessandro Da Fano; como professor de hebraico, mantinha o hábito de levar seus pupilos à Sinagoga de Milão para que se familiarizassem com a pronúncia do idioma.

Em 1914, Ratti foi nomeado prefeito da Biblioteca do Vaticano, cargo que supunha ser o último que ocuparia na vida. Mas, de modo inesperado, Bento XV, o papa reinante, o escolheu, em 1918, para ser seu enviado à Polônia, onde ele testemunhou a invasão do Exército Vermelho no desdobramento da Revolução Russa e desenvolveu uma repulsa pelo comunismo que duraria até o fim da vida.

Chamado de volta a Roma em 1921, Ratti foi nomeado cardeal e arcebispo de Milão. Mal assumira o cargo quando, depois da morte do papa Bento XV, os cardeais o escolheram papa na décima quarta votação, em fevereiro de 1922. No dia 6 de fevereiro assumiu o nome de Pio XI e foi papa até 1939.
Daniel Fernandes

Para saber mais, acesse:

http://memoria.bn.br/DocReader/843822/2532

http://memoria.bn.br/DocReader/090972_08/12812

http://memoria.bn.br/DocReader/829706/4815

http://memoria.bn.br/docreader/003581/2092

http://memoria.bn.br/DocReader/029033_11/19540

http://memoria.bn.br/DocReader/175102/16547

http://memoria.bn.br/DocReader/367729/8875