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Biblioteconomia | Anatole France, um bibliotecário Nobel de Literatura

18 mar 2022

Artigo arquivado em Biblioteconomia

Poucas figuras de bibliotecário tornaram-se famosas pela sua atuação, mas, muitos protagonistas da cultura literária e filosófica a tiveram. É o caso, por exemplo, de Anatole France, bibliotecário do Senado.

Anatole François Thibault, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 1921, em reconhecimento das suas brilhantes realizações literárias, passou à História da Literatura Universal com o nome de Anatole France. Nasceu em 1844 e morreu em 1924 e foi um dos mais notáveis escritores franceses dos tempos modernos. Autor de um grande número de livros, estreou nas letras em 1873 com um volume de versos intitulado "Poemas dourados", seguido de outro em 1876: "Núpcias coríntias". Mas ficou apenas nesses dois, dedicando logo à prosa.

A sua popularidade e o seu merecimento nas letras francesas, vem-lhe da clareza de linguagem e da rigorosa forma de expressão. O seu primeiro romance "O crime de Silvestre Bonnard", foi premiado pela Academia Francesa, em cujo seio ingressaria em 1896.

Amante dos livros desde cedo, Anatole France passou sua infância no cais Malaquais, em Paris, onde seu pai, um ex-militar, possuía uma livraria, frequentada por muitos escritores e eruditos, como os irmãos Goncourt.

A partir de 1863, começou a colaborar com revistas bibliográficas até que em 1867 foi contratado pela editora e livraria parisiense Lemerre como leitor. Sua tarefa é propor e cuidar da publicação de novos trabalhos. Foi na Livraria Lemerre, que Anatole France conhecera Leconte de Lisle, que era sub-bibliotecário no Senado desde 1.º de janeiro de 1873. O poeta e o bibliotecário o apresentaram a Charles Edmund, bibliotecário-chefe, que o admitiu.

Nomeado vigilante da biblioteca do Senado francês a 1.º julho de 1876, Anatole France só deixou o cargo em 1890. Pelo regulamento, sua tarefa era fazer as fichas para o catálogo metódico e tê-las em dia, e reunir e classificar os impressos das duas Câmaras e prepará-las para a encadernação.

Por esse tempo, trabalhavam nessa biblioteca Leconte de Lisle, Auguste Lacaussade, que havia sido o secretário de Sainte-Beuve entre 1844 e no início dos anos cinquenta, Ratisbonne, testamenteiro de Alfred de Vigny, e o próprio Anatole France, já célebre, todos sob a direção de Charles Edmund, que também era romancista e autor de peças dramáticas.
No entanto, para entrar no emprego, Anatole France teve de esperar muito tempo, nada menos que dez anos. O seu primeiro pedido data de 1866: "O que eu desejo principalmente, dizia ele ao seu protetor, é a admissão a um emprego nessa biblioteca, seja qual for a remuneração. Além dos títulos necessários, creio ter uma recomendação no conhecimento dos livros com que se ocupa meu pai há trinta anos, bastante, para me ter dado certa experiência. Ouso esperar que não me recusareis vosso apoio..."

Tornou-se bibliotecário por essa razão: tinha amor pelos livros como profissão. Era um bibliófilo. Não só apreciava apenas seu conteúdo intelectual ou artístico, mas gostava também de tudo que era relacionado ao volume: a qualidade do papel, a beleza da tipografia, a encadernação, o talento de quem o ilustrava e o nome e a história de seu antigo dono.

Ninguém amou os livros com tanta paixão e nem os exaltou tanto quanto ele, na vida e em sua obra. Bibliotecas e livros estão sempre presentes em seus contos e romances, por vezes de forma incomum, como aquela biblioteca de A Revolta dos Anjos, que mantinha relações misteriosas e mágicas com o além-mundo.

Para saber mais sobre Anatole France, explore os documentos:

G. Michaud, Anatole France, "Dom Casmurro"

Almanaque do "Correio da Manhã", Anatole France: a via e a obra do poeta e romancista-filósofo

http://memoria.bn.br/DocReader/157880/3255

http://memoria.bn.br/DocReader/157880/3256

http://memoria.bn.br/DocReader/157880/3257

http://memoria.bn.br/DocReader/157880/3258

http://memoria.bn.br/DocReader/157880/3259