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Biblioteconomia | Rubens Borba de Moraes, o bibliotecário bibliófilo

28 mar 2022

Artigo arquivado em Biblioteconomia

É certo, como já observou Wilson Martins, que é impossível escrever a História da Biblioteca do Brasil sem passar pelo bibliotecário dos bibliotecários brasileiros, Rubens Borba de Moraes (1899-1986).

Descendente de Borba Gato, nascido em 23 de janeiro de 1899 em Araraquara, interior de São Paulo, Borba de Moraes estudou na Europa, e fez sua graduação em letras na Universidade de Genebra (Suíça), concluída em 1919. No início da década de 1930, fora estudar biblioteconomia nos Estados Unidos e, retornando ao nosso país, foi um dos protagonistas da difusão das bibliotecas públicas na cidade de São Paulo e da criação de sua Escola de Biblioteconomia.

Justamente cognominado o “Mestre dos Livros”, Borba de Moraes foi, além de exímio bibliotecário, bibliógrafo, bibliófilo, historiador, pesquisador brasileiro, um dos organizadores da Semana de Arte Moderna, pioneiro da biblioteconomia no país e diretor da biblioteca da Organização das Nações Unidas, em Nova Iorque.

Edson Nery da Fonseca diz que ele foi, no Brasil, uma espécie de Ramiz GaIvão de seu tempo. Sua atuação como diretor da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, de 1945 a 1947, e suas contribuições à bibliografia brasileira - tanto quanto sua sólida formação humanística feita, aliás, na Europa - recordam muito a figura e a obra do antigo Barão.

Colecionador de livros raros e antigos, Rubens Borba de Moraes contribuiu amplamente para o avanço bibliográfico nacional com a inventariação de estudos brasileiros no Manual bibliográfico de estudos brasileiros, publicado em 1949, e na Bibliografia brasileira do período colonial, tornando-se um dos pioneiros da área.

Entre as décadas de 60 e 80, Borba correspondeu-se com o “livreiro-antiquário” português António Tavares de Carvalho, à frente da Old Books and Prints, em Lisboa. Tais cartas mostram as mãos apaixonadas de bibliófilo e realçam os traços psicológicos de alguém que verdadeiramente amava viver num ambiente de biblioteca. A posse dos livros “enche[-o] de alegria”.

Já como bibliógrafo, atividade que foi desdobramento natural de sua paixão de bibliófilo e de seu insaciável desejo de estudar o Brasil e compreendê-lo bem, deixou-nos o monumento de perícia e erudição que é a Bibliographia brasiliana, além do até hoje útil Manual bibliográfico de estudos brasileiros (citado acima), que coordenou junto com o brasilianista William Berrien.

No entanto, segundo Briquet de Lemos, seu papel mais importante foi na formação de novos bibliotecários, nos quais sempre procurou incutir a necessidade de adquirirem uma cultura robusta e não apenas um receituário de preceitos técnicos. Valorizava a tecnologia, mas muito mais que ela, enfatizou a importância da cultura na formação bibliotecária. Sua presença era a de um humanista, que inspirava a todos um exemplo a ser seguido.

Para saber mais, explore os documentos:

http://memoria.bn.br/DocReader/030015_12/224386

http://memoria.bn.br/DocReader/028274_06/37892