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BNs pelo Mundo | 10 de março - Fundação da Biblioteca Nacional de Ruanda

17 mar 2022

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A República de Ruanda - país da África centro-oriental localizado na região dos Grandes Lagos e que faz fronteira com Uganda, Burundi, República Democrática do Congo [R.D.Congo, antigo Zaire] e Tanzânia (Manchete) -, frequentemente ocupou os noticiários internacionais com histórias sobre guerras civis, massacres, desastres naturais, crises sanitárias. Contudo, a diversidade cultural (Manchete) e a natural do país são bastante ricas. Ruanda foi, inclusive, considerada um dos últimos santuários de espécies como a dos gorilas (Manchete).

Segundo Elikia M’Bokolo (2008), há vestígios humanos, como artefatos de metal e cerâmica, que datam entre os séculos II e I a.C, podendo haver mais antigos, já que as escavações arqueológicas se encontram defasadas na região. A ocupação dos Grandes Lagos, ainda de acordo com o historiador congolês, é considerada uma das mais antigas do Continente Africano e as tradições culturais e históricas, dos povos ali residentes, são fundamentadas na oralidade. Ruanda, cujo mito fundador reside na figura heróica de Gihanga, manteve perfil militar e expansionista entre os séculos XVI ao XVII. A estrutura social era formada por clãs familiares - no caso de Ruanda é o Banyarwanda que fornece matriz linguística comum, com subgrupos compostos pelos hutu, tutsi e tawa - que se designavam de acordo com a flora ou a fauna da região: clã do leão ou do inhame, por exemplo (M’BOKOLO, 2008, p. 70, 575,578-579).

No século XIX, com as ações imperialistas europeias, a chamada Partilha da África - ocorrida na Conferência de Berlim, em 1885 -, destinou o território de Ruanda aos alemães que a ocuparam, efetivamente, a partir de 1890. Contudo, após a derrota dos alemães na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o território foi entregue à Bélgica, que executou uma política colonial extremamente dura e radical, seguindo a linha dos alemães, e provocando uma oposição violenta entre dois dos antigos clãs familiares ruandeses: os hutus e os tutsis, que passaram a se enxergarem como antagonistas irreconciliáveis. Manipulados pelos belgas, membros da elite tutsi adotaram políticas de segregação social, trabalhos forçados às comunidades hutus e cobranças de impostos exorbitantes. Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o território foi restituído às Nações Unidas como um seu protetorado, tendo a Bélgica como autoridade administrativa.

A independência só ocorreria em 1962, época em que foi declarada a República de Ruanda. Nessa ocasião, os hutus estavam no poder e abraçaram a oportunidade de reprimirem violentamente os tutsis. A instabilidade política levou a várias revoltas entre os dois grupos até que, com a presidência de Juvénal Habyarimana, em fins da década de 1980 e início dos anos 1990, foram adotadas políticas genocidas contra os tutsis, ocasionando um dos maiores massacres já vistos pela humanidade, com a morte de mais de 800 mil pessoas. O Genocídio de Ruanda (1994), como ficou conhecido, foi amplamente divulgado pela mídia internacional e, ainda assim, as autoridades da ONU e outras instâncias de assistência humanitária, demoraram a tomar providências. Nem mesmo os apelos por ajuda do Papa João Paulo II foram suficientes para estancar a onda sanguinária (Correio Braziliense). Além das reportagens - sintéticamente levantadas nos links abaixo - indicamos, para aqueles que desejam conhecer mais sobre essa história, os filmes Hotel Ruanda (2004) e Aperte as mãos do Diabo (2007).

Ruandeses mal haviam se recuperado das tragédias humanitárias dos anos anteriores, com os processos de julgamento de genocidas ainda em curso (Correio Braziliense), retorno de refugiados que estavam no Zaire [R.D. Congo] (Manchete) e o cenário de devastação ganharia outro elemento: o vulcão Nyiragongo, localizado próximo à fronteira entre R. D. Congo e Ruanda, entrou em atividade no início do ano de 2002, provocando centenas de mortos e desabrigados, que saíram da R.D.Congo e entraram em território ruandês, em fuga (Correio Braziliense).

Em meio a toda essa história visceralmente dramática, uma joia foi criada. Uma pequena semente que, devidamente enraizada, traria forte transformação social e cultural em seu entorno. Estamos falando da Biblioteca Nacional de Ruanda [Inkoranyabitabo - em quiniaruanda], estabelecida pela ordem presidencial 132/06, de 10 de março de 1989, como orientação do Ministério do Ensino Superior e Pesquisa. Segundo artigo de Musa Wakhungu Olaka (2015), foram grandes e difíceis os esforços pela coleta de documentação para a formação do acervo da biblioteca que, inicialmente, contava com cerca de seis mil peças. Olaka discute que, por causa da preocupação em eliminarem-se os vestígios das atrocidades cometidas, no genocídio dos anos anteriores, várias bibliotecas comunais e particulares, incluindo fundos documentais dos governos, foram destruídos.

Na contramão daqueles acontecimentos terríveis surgiram, nos anos posteriores, o Arquivo Nacional, escolas particulares com bibliotecas para os estudantes, Universidades, além da criação do da Autoridade de Arquivos e Serviço Bibliotecário de Ruanda, pela Lei 12/2014. Também na década de 2010, mais precisamente em 2012, foi inaugurado o novo prédio que abrigaria a Biblioteca Nacional: a Biblioteca Pública de Kigali, cuja proposta é, além da guarda documental e preservação da memória e da cultura ruandesa, promover ações educativas, incentivar a leitura e eventos culturais. Em um prédio contemporâneo belíssimo, bem dividido e iluminado, as obras contam com o zelo de seus funcionários e dos visitantes que o frequentam. Seus números atuais informam uma coleção de mais de 45 mil peças documentais, consolidando a cada dia a sua missão de levar informação ao seu público.

Atualmente, a República de Ruanda desponta com um nível de desenvolvimento social elogiado - apesar de ainda existirem momentos de preocupação com o retorno das antigas tensões sociais (Jornal do Brasil, http://memoria.bn.br/DocReader/030015_13/8579). Em reconhecimento pela conservação urbana e segurança, Kigali - capital de Ruanda - ganhou o Habitat Scroll of Honor Award. Em 2008, foi o primeiro país a eleger uma legislatura nacional majoritariamente feminina.

Explore outros documentos:

Manchete

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http://memoria.bn.br/DocReader/028274_04/13336

http://memoria.bn.br/DocReader/028274_04/13597


Livro


Outras fontes:

KIGALI PUBLIC LIBRARY. Disponível em: <https://www.kplonline.org/>. Acesso em: 4 de março de 2022.

M’BOKOLO, Elikia. África Negra: História e Civilizações (Tomo I- até o século XVIII). Tradução de Alfredo Margarido. Salvador: EDUFBA; São Paulo: Casa das Áfricas, 2008.

OLAKA, Musa Wakhungu. Renaissance of libraries and archives in Rwanda. In: IFLA WLIC 2015: Cidade do Cabo/África do Sul. Disponível em: <http://library.ifla.org/id/eprint/1217/1/078-olaka-en.pdf>. Acesso em: 4 de março de 2022.

República de Ruanda – Mapa (Manchete).