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Cinema| Metrópolis, o clássico de Fritz Lang

10 jan 2021

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Metrópolis estreou no cinema Ufa-Palast am Zoo na cidade de Berlim em 10 de janeiro de 1927. A Ufa, empresa mais importante da indústria cinematográfica alemã encabeçava o projeto de retomada do cinema alemão a partir dos anos 1923 e 1924. A produção altamente sofisticada, contou com um orçamento em torno de 60 milhões de dólares e é considerada a primeira película de ficção científica.

A história, adaptada pelo livro homônimo de Thea Von Harbou, mulher de Fritz Lang, realizador do filme, se passa no ano de 2026, cem anos após a sua produção. A sinopse conta a história de uma população dividida entre a elite e a camada de trabalhadores, confinada ao mundo subterrâneo sob a pressão de monstruosas máquinas. Insatisfeitos, os operários se organizam para uma revolução, movimento frustrado por Maria, personagem vivida por Brigitte Helm e que assume função redentora bem aos moldes virtuosos da Virgem. Como estratégia, Joh Fredersen, (Alfred Abel) chefe da cidade, junto ao cientista Rotwang, (Rudolf Klein-Rogge) planejam a criação de um robô à imagem e semelhança de Maria para impedir a rebelião, que, a essa altura contavam com a simpatia de Freder (Gustav Fröhlich), filho do grande magnata Fredersen e que se apaixona por Maria. Os operários, como partes integrantes ao funcionamento frenético das máquinas, são constantemente monitorados por Fredersen também dono da fábrica e que acompanha o ritmo dos relógios operados 10 horas a fio.

Conta que o impulso para a produção do filme partiu da viagem de Lang à Nova York. Impactado com a arquitetura da cidade, o diretor foi envolvido pela ideia de "cidade do futuro". A experiência da guerra como consequência da desumanização da sociedade, também influenciou a produção artística.

Para a paisagem urbana futurística, coube ao cinegrafista Günther Rittau, ao diretor de arte Erich Kettelhut e ao designer Eugen Schüfftanos efeitos especiais, de inúmeros truques e jogos de ilusão projetados pela câmera. Arcos elétricos, copos borbulhantes, elevadores contínuos, dirigíveis, câmeras de vigilância, telefones instalados em carros, cenários de grande porte somam um conjunto de recursos disponíveis para a execução de tecnologias que estavam bem à frente do seu tempo.

A atmosfera do filme é repleta de influências que partem desde o expressionismo alemão, através das imagens distorcidas, passando por outros movimentos da arte moderna, como Art Déco, Dada e o Surrealismo. A trilha sonora de Gottfried Huppert conta como elemento fundamental para o desdobramento de toda narrativa, oferecendo movimento e densidade às cenas.

As filmagens foram concluídas em menos de 1 ano, um feito memorável em se tratando de uma produção tão complexa, mas, em contrapartida, se mostrou uma experiência extenuante, muito por conta do perfeccionismo de Lang. Sua biografia revela um diretor obcecado e por vezes cruel, tornando o convívio entre elenco e figurantes um verdadeiro martírio. Cenas de multidão gravadas ao longo de jornadas que avançavam a madrugada, repetição indiscriminada de takes, exposição dos atores a condições insalubres. Para a cena da execução do androide que se faz passar por Maria, a atriz teve que lidar com o calor real do fogo para dar mais verossimilhança à cena. Críticos apontam a incongruência entre o autoritarismo de Lang e a proposta moralizadora do filme ao sugerir de forma utópica um acordo entre as mãos (operários) e a cabeça (Joh Fredersen) mediados pelo coração (Freder). De acordo com os críticos, o sentimentalismo conferido na relação entre Freder e Maria e a solução ingênua de uma convivência pacífica entre forças radicalmente opostas, não diminui o impacto do filme como obra de inovação técnica e monumental.

Metrópolis teve a sua primeira exibição em 1927 com mais de 2 horas de fita. Na sequência, foram realizados cortes para que fosse adaptado para projeções no Reino Unido e nos E.U.A. Somente em 2008 uma versão recuperada do filme, localizada no Museo del Cinema Buenos Aires, na Argentina, possibilitou seu relançamento. O festival internacional de cinema em Berlim – Berlinale em 2010 apresentou a reestreia do filme com 30 minutos de fita adicionais, oferecendo aos expectadores o reencontro com a cidade do futuro, edificada por uma Babel cruel, mas também conciliadora como queria o diretor ao eternizar a máxima: “O mediador entre o cérebro e as mãos deve ser o coração!”

Seção de Iconografia

Excelsior 1928