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Città di Caxias

13 nov 2014

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Fundado em Caxias do Sul (RS) em 1º de janeiro de 1913, Città di Caxias foi um “Periodico settimanale d’interesse coloniale”, ou seja, um semanário colonial. Voltado ao desenvolvimento caxiense e aos interesses da colônia italiana na Região Sul, bem como às atualidades na Itália, foi dirigido inicialmente por Ernesto Scorza, seu fundador, embora seu proprietário tenha sido sempre Emilio Fonini. Impresso em tipografia própria, primeiro a vapor e depois elétrica, circulava em tamanho standard, publicando tanto conteúdo em italiano quanto em português.

Logo quando lançado, o jornal teve boa aceitação de público e grande adesão de anunciantes. Inicialmente com quatro páginas por edição, em pouco tempo aumentou o número para seis, com publicidade abundante. Um ano depois de sua fundação, quando engrossava sua cobertura internacional em face da Primeira Guerra Mundial, Città di Caxias já circulava com oito ou dez páginas. Em geral, eram publicados artigos, reportagens, crônicas, editais municipais, telegramas internacionais, informes a pedidos, discursos de autoridades italianas, anúncios, editais, etc.

Crítico e opinativo, sempre enaltecendo o labor e os valores morais da colônia, Città di Caxias abordava assuntos diversos, de rigor essencialmente local – sobretudo em seus primeiros momentos. Inicialmente, tiveram grande destaque em suas páginas questões relativas ao sistema de trabalho em cooperativas, aplaudindo-se o empreendedor cooperativista local Giuseppe de Stefano Paternò, e o deficiente transporte férreo regional, criticado na série “La compagnia della morte”. Em ocasiões em que grandes acontecimentos se desdobravam na Itália, esse foco local se voltava para o velho continente. Durante a Primeira Guerra Mundial, por exemplo, Città di Caxias noticiava os rumos do conflito sob o ponto de vista italiano – nesse sentido, acabou divulgando propaganda de guerra, como a suposta notícia de que marinheiros da frota alemã teriam oferecido um berço tingido de sangue francês a uma princesa da família imperial germânica (ver edição de 30 de agosto de 1916).

Simpático à intendência municipal do Major José Penna de Moraes, o jornal, de uma forma geral, tratava de economia e comércio, agricultura (sobretudo viticultura), enologia, indústria, impostos, serviços, variedades em colônias dos arredores de Caxias (Nova Milão, Nova Pádua, Nova Vicenza, etc.), cotidiano administrativo oficial e forense, infraestrutura, política brasileira, saúde e atendimento médico, educação e instrução pública, eventos e festividades, questões ligadas à infraestrutura e peculiaridades urbanas de Caxias, futebol, cultura e entretenimento, atualidades científicas, personalidades ilustres regionais, casos de polícia, lições morais e comportamento, acontecimentos políticos e variedades internacionais, religião, turismo, entre outras coisas.

Além de sua declarada preferência por Penna de Moraes, no campo político, o periódico chegou a lançar em 1915 um suplemento de cerca de 40 páginas “dedicato all’Esimo Presidente dello Stato Del Rio Grande do Sul”, Antônio Augusto Borges de Medeiros, figura sempre louvada em sua linha editorial. Ali, entre registros fotográficos de Caxias e informações gerais sobre os municípios de Bento Gonçalves, Alfredo Chaves e Antônio Prado, aplaudia-se ainda a figura de Pinheiro Machado e diversas iniciativas comerciais locais.

A partir da edição nº 137, de 20 de outubro de 1915, o jornal passou a contar com Silvio Dal Zotto como seu gerente. No nº 165, de 18 de maio de 1916, ainda com Ernesto Scorza como diretor geral, Mario Rey Gil assumiu a gerência da folha. Pouco tempo depois, no entanto, a configuração do expediente de Città di Caxias passou por novas mudanças: Scorza faleceu em 14 de julho de 1916, tendo Giuseppe Buzzoni e Luigi Bancalari assumido o seu posto na direção da folha. Rey Gil também não figurava mais ali, tendo a gerência ficado diretamente com o proprietário Emilio Fonini. No nº 185, de 16 de novembro do mesmo ano, Ercole Donadio acabou substituindo a dupla Buzzoni-Bancalari. Mesmo mantendo-se em seu cargo, Donadio desapareceria do expediente do jornal em outubro de 1917, momento em que nenhum nome aparecia como responsável pela direção.

Città di Caxias fecharia o ano de 1917 fazendo campanha para Borges de Medeiros para a sua reeleição à presidência do Rio Grande do Sul, na ocasião das eleições de 25 de novembro daquele ano. Nesse momento, seu expediente vinha apenas com Ernesto Scorza como seu fundador e com o endereço da redação: o nº 28 da Rua Sinimbú.

Iniciando 1918, o periódico havia deixado de lado questões mais ligadas ao cotidiano colonial e à economia agrícola locais, dando maior atenção à realidade italiana do momento e à política brasileira e europeia. Città di Caxias havia reduzido o seu número de páginas para quatro: a quantidade de anúncios publicada não era a mesma de outrora, embora estes ainda tomassem boa parte das edições.

No início de março de 1918, Ercole Donadio mudou-se para Porto Alegre, deixando a direção de Città di Caxias a José Joaquim de Vargas. Com a morte de Vargas em outubro do mesmo ano (ver edição do dia 19 deste mês), o jornal passa a ser dirigido brevemente por Adolpho Peña, que cerca de um mês depois deixa o cargo a Benício Dantas. Na ocasião, M. Marchetinni foi colocado em expediente como redator principal.

Em 1919, Benício Dantas substitui Marchetinni no cargo de redator-chefe por Ulysses Castagna, até então responsável principalmente pela coluna de viticultura e enologia do jornal (mesmo com a promoção, a coluna continua sendo publicada, com mais destaque). No ano seguinte, a direção de Città di Caxias passou a Arthur de Lavra Pinto.

Aparentemente, Città di Caxias circulou apenas até 1922, sendo suspenso, possivelmente, em sua edição nº 464, de 30 de setembro. Em seus últimos momentos, a folha publicava mais textos em português do que em italiano. Até o fim de sua edição, o periódico foi, formalmente, propriedade de Emilio Fonini.

Città di Caxias teve redatores diversos. De 1913 a 1922, alguns dos colaboradores do jornal foram Giuseppe de Stefano Paternò, Octavia Paternò, V. Bornancini, Guido d’Andrea, Antonio Casagrande, Mario Mariani, Silvio Becchia, Jacintho Godoy, Samorim Gustavo de Andrade, entre outros.

Fontes

- Acervo: edições do nº 1, ano 1, de 1º de janeiro de 1913, ao nº 464, ano 10, de 30 de setembro de 1922.