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Cultura Popular | Mestre Bimba

23 nov 2020

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Armada, rabo de arraia, tesoura, meia lua, cabeçada, galopante, ponteira e queixada são alguns dos mais de 50 golpes conhecidos na prática da capoeira. Importantes mestres como Bentinho, Caiçara, João Pequeno, João Grande e Pastinha compunham o hall dos capoeiras que, assim como Mestre Bimba, cumpriram papel vital na desconstrução da capoeira como prática marginalizada.

Manoel dos Reis Machado antes de se consagrar como Mestre Bimba, trabalhava como minerador de carvão. Nascido em 1899, Mestre Bimba cresce na freguesia de Brotas,cidade de Salvador em um contexto profundamente marcado pelos efeitos da escravidão. Bimba foi um dos responsáveis pela transformação nos códigos corporais que dominavam a capoeira antes da abolição. Na virada do século XIX para o XX, a capoeira era tratada como um problema social, ou desvio a ser combatido. Enquadrada como infração no Código Penal Brasileiro, pelo Decreto nº 487, de 11 de outubro de 1880, Capítulo XIII, art. 402, a imagem do vagabundo e desordeiro estava associada à capoeiragem. Em contraponto, Bimba fomenta um novo tratamento da prática capoeirista,atuando como estratégia de resistência e emancipação da coerção policial.

A fundação de uma escola-academia em 1932, o Centro de Cultura Física Regional Baiano, localizado no Pelourinho de Salvador, atribuiu ao Mestre Bimba notoriedade, atraindo médicos, engenheiros, oficiais do exército, da aviação e policiais como seus seguidores. Criador da luta regional baiana, caracterizada pela luta do batuque com elementos da capoeira angola e do gingado constante do lutador em guarda, além da supressão de certos golpes chamados “floreios”,Bimba tornava-se referência da capoeira moderna.

Seu método,tão bem sucedido, formou gerações de discípulos, multiplicadores de suas técnicas. Bimba conquistava a alcunha de “sobrenatural’ tamanha habilidade. Segundo ele, o segredo da mandiga era a aplicação de golpes rápidos e manter, sempre, o efeito surpresa.

Bimba tencionava tornar a capoeira um esporte oficial em nível nacional, o que de fato aconteceu no início das décadas de XX. Mestre Bimba foi agraciado pelo presidente Getúlio Vargas com o título de “Pai da capoeira moderna” o que lhe possibilitou o reconhecimento de profissional de Educação Física pela Secretaria de Educação do Estado da Bahia. A adesão das elites e autoridades brasileiras passa pela nomeação da prática como ginástica brasileira.

A fama lhe rendeu inúmeros convites. Exibições especiais no Ginásio do Pacaembu em São Paulo, no Copacabana Palace no Rio de Janeiro e no Palácio do governo de Salvador, sendo recebido pelo então governador Juracy Magalhães. Eventos amplamente divulgados pelos jornais da época que traziam um discurso maravilhado com as virtudes e façanhas de Mestre Bimba e seus alunos, porém reservando a eles a mística das apresentações ditas exóticas e de comentários cercados de expressões como “dança bárbara” e “instrumentos primitivos” a exemplo do uso do berimbau, tido como curioso elemento.

Em entrevista ao periódico Semanário (RJ) de 1959, Bimba afirma que a capoeira nascera no Brasil e não na África como se costuma pensar e que foi inventada pelos escravos para reparar as saudades de África.

Os anos finais são marcados pela transferência para Goiânia, onde pode ter uma vida mais razoável, posto que passava por problemas financeiros e não contava com apoio ou incentivo do governo.

Mestre Bimba morre aos 74 anos, vítima de um derrame cerebral.

(Seção de Iconografia)