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Efemérides | Entre seringas e revoltas: os 150 anos de Oswaldo Cruz

16 ago 2022

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e marcado com as tags 150 Anos de Oswaldo Cruz, Ciências Biológicas, Epidemiologia, FioCruz, Medicina, Saúde Pública

No último 5 de agosto, o filho pródigo da bela e pacata São Luiz do Paraitinga, no torrão paulista do Vale do Paraíba, completou 150 anos. Mesmo quem nunca viu o rosto de tal distinto cavalheiro – com sua farta cabeleira branca e bigodes despontados para cima, à moda dos hipsters de hoje – certamente sentiu os efeitos de seu trabalho: na pele, principalmente. Pois cá estamos a falar de Oswaldo Gonçalves Cruz, médico e sanitarista. Não foi à toa que, nos anos 1980, as cédulas tupiniquins de 50 cruzados vinham com seu rosto estampado, ao lado da imagem de sua principal ferramenta, o microscópio – e atrás, um aspecto do Instituto Oswaldo Cruz, a atual FioCruz. Que teria se passado, para o merecimento de tamanha honraria? Ora, nosso cientista simplesmente mudou os rumos do combate a epidemias no maior país da América Latina, ao início do século XX. Sem ele, teríamos perdido muito mais vidas para males como a varíola, a febre amarela e a peste bubônica. Por sua atuação inovadora nas políticas públicas de saneamento no país, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 1912, curiosamente se tornando ainda, pouco depois, também prefeito de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro. A Oswaldo Cruz, patrono das ciências e da saúde pública no Brasil, hoje, toda a nossa atenção.

***

Nascido em São Luiz do Paraitinga, no interior de São Paulo, em 5 de agosto de 1872, Oswaldo Cruz era o primogênito de Amália Taborda Bulhões Cruz e do médico Bento Gonçalves Cruz, que, depois dele, tiveram mais cinco meninas. A família se mudou para a então capital do Império, o Rio de Janeiro, quando o futuro cientista contava apenas cinco anos de idade. Enquanto seu pai montava uma clínica médica e angariava boa clientela, Oswaldo desenvolvia interesse pela medicina. Estudou em bons colégios, que, em 1886, já quase na virada entre a monarquia e o regime republicano, o valeram a entrada na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Na ocasião, era um guri de apenas 14 anos.

Ávido e ascendente, Oswaldo Cruz obteve doutorado na Faculdade de Medicina em 1892. Desde sua entrada no ensino superior, seu interesse pela microbiologia teve pasto e gáudio: o garoto tinha mesmo chegado a montar um pequeno e improvisado laboratório no porão de casa, para dar conta de suas investigações mesmo fora do ambiente acadêmico. Mas, em sala de aula, embora aplicado, não era tido como brilhante: tímido, se atrapalhava todo em provas orais e demais formas de exposição ao público. Tendo publicado dois artigos sobre seu tema favorito de pesquisa na revista Brasil Médico antes mesmo de obter o doutoramento, sua tese dava sinais quanto ao futuro brilhante do jovem higienista: “A vehiculação microbiana pelas águas”. Como não poderia deixar de ser, o trabalho valia-se de estudos atualíssimos em relação à propagação de doenças via microrganismos.

No mesmo ano em que obtivera seu doutorado, Oswaldo Cruz sofreu uma perda e tanto: o falecimento de seu pai. Seu aprofundamento nos estudos teve que dar um tempo, em face às necessidades. Assumiu a clínica paterna com 22 anos de idade. Por sorte, o pai de sua também jovem esposa, Emília da Fonseca, um próspero comerciante português, havia lhe dado de presente de casamento uma série de instrumentos e insumos que atualizavam seu laboratório pessoal – agora clínico, uma necessidade profissional.

Em 1894, enfim, o jovem médico começou a trabalhar na Policlínica Geral do Rio de Janeiro, em Botafogo, onde foi de responsável pela montagem à chefia do laboratório de análises clínicas. Havia sido convidado por Egydio Salles Guerra, um amigo que mais tarde se tornaria também seu biógrafo. Embora em sua passagem pela Policlínica Oswaldo tenha desenvolvido pesquisas em relação ao combate à febre amarela, pode-se dizer que só mesmo em 1897 seus estudos foram retomados, em viagem a Paris, novamente patrocinado pelo sogro: lá, até 1899, o jovem prodígio sanitário passou pelo Instituto Pasteur, onde atualizou seu conhecimento não só no tocante à microbiologia, mas também nas áreas de imunologia e soroterapia. Deu também as caras no Instituto de Toxicologia, onde estudou medicina legal, encontrando ainda tempo de se aprofundar um tanto em urologia, por aquele curto período.

Bem na virada entre os séculos XIX e XX, quando a modernidade dava promissores sinais de avanço nos campos científico e cultural, sobretudo, Oswaldo Cruz, com sua bagagem intelectual recém-adquirida na França, voltava aos trópicos com muito trabalho pela frente. De volta à Policlínica, no Rio, mal desfez as malas: junto aos colegas Vital Brazil e Adolfo Lutz logo se engajou numa comissão chefiada por Eduardo Chapot-Prévost, para conter um surto de peste bubônica – a mesma que gerara a chamada Peste Negra na Europa da Baixa Idade Média – em Santos, devido à infestação local de ratos.

A atuação da comissão em que Oswaldo Cruz teve dedo, no combate à peste, foi crucial para a saúde pública. Tudo porque, basicamente, o Brasil, na época, não produzia o soro antipestoso que combatia o mal. As autoridades não dormiram mais no ponto: decidiram pela rápida criação de dois órgãos que o produzissem: o Instituto Soroterápico Federal, no Rio de Janeiro, e o Instituto Butantan, em São Paulo. Não é preciso dizer que ambos, ainda hoje, guardam a devida importância. Então, já em maio de 1900, Rio e São Paulo passaram a ter os primeiros soros antipestosos made in Brazil: o local de vacinação na capital federal foi a mesma Policlínica de Botafogo, onde Oswaldo trabalhava.

Nesse ponto de sua história, após sua passagem por Santos, Oswaldo Cruz deu um salto determinante. Tendo atraído a atenção das autoridades, no seu regresso à capital da República passou a fazer parte da direção técnica do Instituto Soroterápico Federal. Este, por sua vez, não havia sido criado do nada. Era, na verdade, a reformulação do até então Instituto Vacínico Municipal, estabelecido por decreto em 15 de setembro de 1894, no Rio de Janeiro, como resultado de um projeto elaborado por Pedro Affonso Franco (popularmente conhecido como Barão Pedro Affonso) e contemplado pela Diretoria Geral de Higiene e Assistência Pública naquele mesmo ano, com o objetivo, entre outras coisas, de promover e progredir o serviço de vacinação contra a varíola. Transformada no Instituto Soroterápico Federal em 1900, a instituição funcionava na Fazenda Manguinhos, no atual bairro carioca de mesmo nome, onde atualmente se encontra, justamente, a Fundação Oswaldo Cruz. O nome atual do órgão, como mesmo bactérias e demais microrganismos sem cérebro podem presumir, só se pode explicar por uma razão: ali, Oswaldo entrou para a História.

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Tendo entrado para o quadro de diretores técnicos do Instituto Soroterápico Federal, em 1902, contando exatamente 30 anos de idade, Oswaldo Cruz, promissor como nunca, assumia a direção geral da instituição. Foi graças a ele que ela passou de basicamente produtora de soro antipestoso a um centro de pesquisa aplicada e de formação. Em seguida, o notável trabalho e as boas relações elevaram Oswaldo mais uma vez, dessa vez à Diretoria Geral de Saúde Pública, em 1903. O convite para o cargo, equivalente ao de ministro da Saúde nos dias de hoje, havia sido feito pelo próprio presidente da República, Rodrigues Alves, e José Joaquim Seabra, então ministro da Justiça. Em breve, aliada ao contexto histórico de seu tempo, a nova posição tornaria Oswaldo Cruz um dos cientistas mais famosos da história brasileira.

Nos primeiros anos da década de 1900, o Rio de Janeiro vivia a pleno vapor a Reforma Passos: promovida pelo prefeito Pereira Passos, e devidamente respaldada por Rodrigues Alves, os melhoramentos urbanos visavam, de fato, dotar a capital de ares mais “civilizados”, ou seja, mais semelhantes aos europeus, conforme as mentes elitistas daquele tempo. E, de quebra, buscava-se uma cidade mais salubre, quebrando-se práticas, comportamentos, rotinas e crenças que, naqueles dias, apenas recentemente haviam sido comprovados como maléficos, do ponto de vista científico e sanitário. Afinal, como ter “civilidade” e qualidade de vida num ambiente onde epidemias grassam?

Jornalistas e literatos, salvo exceções, ressaltavam então no periodismo a importância cultural e moral da Reforma Passos. Conforme Jeffrey Needell, no livro “Belle époque tropical: sociedade e cultura de elite no Rio de Janeiro na virada do século”, tais figurões  “(...) não consideravam o afrancesamento do Rio apenas como um conjunto saudável e eficiente de novas vias, mas também como símbolo e instrumento da reabilitação do país e de um futuro ‘civilizado’ (isto é, europeu)” (p. 68). Cortiços, favelas e vielas estreitas mereciam então da prefeitura apenas uma ordem: a do “bota abaixo”. Confluindo com as preocupações das autoridades quanto à imponência “civilizadora” da Avenida Central (atual Avenida Rio Branco), aberta naquele contexto, um texto publicado em 10 de setembro de 1904 no semanário carioca Rua do Ouvidor, era enfático quanto ao significado da nova via, sintetizando em poucas linhas o raciocínio pró-reforma:

Para os que meditam (...) sobre o passado e futuro da Pátria, a abertura dessa rua é de um alcance extraordinário, não só para o engrandecimento material desta cidade, como para o seu engrandecimento moral. E como o Rio de Janeiro é o centro do progresso e da civilização brasileira, e como é por ele que se julga de todo o Brasil, a Avenida Central, representando conforto, higiene, opulência, irá convencer aos que jamais aqui vieram e só ajuízam do que somos não raro por informações errôneas ou ditadas pelo despeito, que o Brasil não é aquilo que lhe disseram.

De fato, não foi por acaso que o governo brasileiro acabou, em seguida às reformas, laureado por autoridades internacionais, especialmente por feitos na política saneadora. E, nesse ponto, Oswaldo Cruz foi essencial. Rodrigues Alves recebeu moção de louvor pelo Congresso Sanitário de Copenhague, em 1904 e medalha de ouro no Congresso Sanitário de Berlim, em 1907, fora os aplausos de periódicos como The Times, de Londres, e o parisiense Le Figaro. Em “A Revolta da Vacina: mentes insanas em corpos rebeldes”, Nicolau Sevcenko crava: “As autoridades brasileiras colaboravam na constituição de bolsões de ordem e saúde, onde as burguesias nacional e internacional poderiam circular e investir com segurança, cálculo e previsibilidade” (p. 112).

Na imprensa da década de 1900, não era raro dar de cara com caricaturas de Oswaldo Cruz a cavalo, empunhando escudo e seringa: é que o desafio de nosso cruzado científico era considerável. Coordenada por ele, uma campanha de saneamento foi iniciada, para combater os principais males do Rio da bela época – talvez não tão bela assim, dados os níveis locais alarmantes de contágio de febre amarela, varíola e peste bubônica. E foi justamente aí que Oswaldo deixou muita gente de pulga atrás da orelha: poucos, de autoridades e figuras proeminentes na imprensa à população em geral, entendiam as recentíssimas medidas sanitárias pregadas pelo médico. Que dirá suas teorias, mais em sintonia com a medicina do velho mundo do que com a dos trópicos.

Embora tivesse carta branca de Pereira Passos à frente da DGSP, usando o Instituto Soroterápico Federal como base técnica, Oswaldo Cruz enfrentou resistência ao determinar o isolamento de infectados. A notificação compulsória dos doentes e a desinfecção de áreas de foco, com o extermínio de vetores como ratos, pulgas e mosquitos, foram medidas contestadas. Não raro, embora necessárias, tais ações de fato vinham junto à truculenta postura de “bota-abaixo” por parte profissionais da prefeitura.

Seja como for, ciência é ciência: se faz de testes, observação e resultados. E os últimos vieram. Em poucos meses, com o ataque aos vetores, a peste bubônica diminuiu consideravelmente na capital. A DGSP, nesse sentido, recompensava a população pela captura de ratos, estimando-se, no período, a eliminação de cerca de 50 mil roedores. Em relação à febre amarela, entretanto, havia um problema extra, fruto da desinformação e do atraso educacional, mesmo dentro da própria classe médica: ainda que Oswaldo Cruz batesse o pé ao afirmar que o contágio se dava por picadas de mosquitos, muitos jalecos brancos, assim como boa parte da população, creditavam a transmissão da doença ao contato com sangue, suor e secreções dos enfermos.  Para muitos, absurdamente, o sanitarista-chefe da nação parecia uma besta quadrada mais preocupada em caçar animais nojentos, porém “inofensivos”, do que atacar o problema pela “raiz”. Suspender os tratamentos de desinfecção já em curso, nesse sentido, para em seguida enviar brigadas sanitárias a percorrer as ruas do Rio de Janeiro em busca de focos de insetos, foi um trabalho digno de Hércules – que o digam os comentários a respeito na imprensa da época (ver os links ao final deste texto).

Como não poderia deixar de ser, toda vez que se mexe nos vespeiros da convenção social, os zangões se enfurecem. Sem a devida compreensão, boa parte da população não gostou de ver os funcionários de Oswaldo Cruz entrando em suas casas, percorrendo suas dependências, mexendo nas coisas e dando ordens. Mas nada era tão ruim que não pudesse piorar: a gota d’água foi no combate à varíola. Com novo surto da doença em 1904, o sanitarista ainda viera com uma medida extrema, nunca antes vista: determinar a vacinação obrigatória da população, em massa.

Do ponto de vista da população, havia não só o temor da vacina. Certa truculência por parte de agentes de saúde no ato da imunização, realmente, não ajudava. Uma parcela da imprensa, aquela que em geral louvava a Reforma Passos, até que defendia a medida, pelo esclarecimento, embora a estranhasse. Mas outra, já contrariada com o autoritarismo do “bota-abaixo”, sentia o termômetro popular: os casos do Correio da Manhã, do Jornal do Brasil e da revista O Malho são emblemáticos. A atuação do sanitarista provocou violenta reação de boa parte dos cariocas.

A questão da vacina compulsória só fazia crescer: mesmo congressistas se manifestaram contrariamente, com a organização de uma liga contra a imunização obrigatória. O ápice veio em 13 de novembro de 1904: populares colocaram em prática aquilo que a historiografia batizou como Revolta da Vacina. Veículos apedrejados, iluminação pública arrancada, bondes virados, lojas saqueadas. No dia seguinte, o Exército foi acionado e a insurreição só foi abafada cerca de dez dias depois. Custou. No processo houve até uma sublevação na Escola Militar. Apesar da (quase) normalização dos ânimos nas ruas, o governo, buscando o apaziguamento, derrubou a vacina em caráter compulsório. Que se promovesse a educação, então. Fato é que, em 1907, ao menos a febre amarela foi erradicada do Rio; um ano depois, parte considerável da população procurou espontaneamente os postos de imunização, quando um novo surto de varíola se fez sentir.

***

Apesar da Revolta da Vacina, que, como vimos, contou com liga de congressistas e com parte da imprensa carioca a seu favor, aos poucos, a figura de Oswaldo Cruz se assentou dentro do prestígio, e fora de polêmicas. Os visíveis resultados de sua atuação no comando da DGSP não se restringiram às brigadas sanitárias. Ligado nas implicações da crescente globalização do comércio, o cientista foi incansável no estabelecimento de um código sanitário internacional, tendo empreendido uma expedição em cerca de 30 portos marítimos e fluviais do Brasil, entre 1905 e 1906, para tratar a respeito. O 14º Congresso Internacional de Higiene e Demografia de Berlim, ocorrido em 1907, na Alemanha, não titubeou: laureou Oswaldo Cruz com uma medalha de ouro, por sua performance em favor da saúde pública do Rio de Janeiro. No ano seguinte seu nome foi aclamado como o de um verdadeiro herói nacional. Em 1909, o Instituto Soroterápico Federal virou, simplesmente, Instituto Oswaldo Cruz (IOC), contando com a presença do homenageado em sua diretoria, que naquele mesmo ano deixava a DGSP.

À frente do IOC, Oswaldo Cruz passou a ter, afinal, importância que vai além do Rio de Janeiro de Pereira Passos. Já em 1910 embrenhou Amazônia adentro, quando foi combater a malária em plena construção da Ferrovia Madeira-Mamoré – sua atuação, afinal, permitiu a finalização da obra, entre surtos que paralisavam ou matavam o operariado. Encabeçou a erradicação da febre amarela no Pará. A partir de então, sempre no IOC, empreendeu pesquisas que, através de expedições científicas, levantou as condições de saneamento do interiorzão do país, do chamado “Brasil profundo”. Isso o levou a ser um dos responsáveis pela reforma do Código Sanitário nacional, tocando toda e qualquer unidade de saúde e higiene do Brasil, de Norte a Sul.

A década de 1910 foi menos agitada, na vida de Oswaldo Cruz. Virou imortal em 26 de junho de 1913, quando tomou posso da cadeira número 5 da Academia Brasileira de Letras, na sucessão de Raimundo Correia. Mas, pouco depois, em 1915, sua saúde dava sinais de que não andava muito bem, sobretudo no trato respiratório. A direção do Instituto Oswaldo Cruz foi deixada a outro responsável, com o já histórico sanitarista se estabelecendo em Petrópolis. O plano era plácido: dedicar-se ao plantio de flores. Mas, decerto, Oswaldo era inquieto: não ficava sem ter o que fazer.

Lá pelas tantas, Oswaldo Cruz arrumou para a cabeça, sendo nomeado prefeito da bela cidade imperial em 18 de agosto de 1916. Como era uma figura mais técnica que política, foi pego no fogo cruzado da polarização partidária do momento em Petrópolis, não assumindo nenhum lado da contenda. E chegou a sofrer difamação na imprensa local. Porém, traçou um plano de urbanização então tido como “vasto”, influenciado pelos melhoramentos da Reforma Passos. Nada que conseguisse ver, depois. No dia 11 de fevereiro de 1917, antes mesmo do término de seu mandato, na mesma cidade serrana em que vivia, Oswaldo Cruz enfim partia deste mundo, vítima de uma crise de insuficiência renal. Apesar da vasta cabeleira branca, era um jovem de 44 anos. Que mais não teria feito, com um tiquinho de tempo além?

 

Explore os documentos:

Já em 1892, lá estava ele: Oswaldo Cruz, em colaboração à imprensa científica, na revista Brasil Médico:

http://memoria.bn.br/DocReader/081272/2367

 

Na revista O Malho de 24 de outubro de 1903, visita de Oswaldo Cruz ao palácio do Catete, para reunião com o presidente Rodrigues Alves, rende charge crítica ao sanitarista:

http://memoria.bn.br/DocReader/116300/1670

 

Revista da Semana, o semanário ilustrado do Jornal do Brasil carioca, mostra a 7 de agosto de 1904, às vésperas da Revolta da Vacina, um “doloroso contraste”: arames empregados na coleta de animais, para não sofrerem, e “ferro de lanceta” das vacinas à população:

http://memoria.bn.br/DocReader/025909_01/2314

 

Contra a “escravidão sanitária”, nas palavras de seu colaborador Gil Vidal, o jornal carioca Correio da Manhã criticava a imunização obrigatória proposta por Oswaldo Cruz. Em charge de Raul Pederneiras, a cidade pede clemência ao sanitarista numa “tragédia lyrica fantasmagórica”:

http://memoria.bn.br/DocReader/089842_01/6643

 

A 20 de agosto de 1904, O Malho mostra “A hygiene da Igreja sobre a varíola”: no embate entre fé e ciência, Oswaldo Cruz dá sua palavra:

http://memoria.bn.br/DocReader/116300/3155

 

No dia 27 de agosto, a mesma revista mostra certo desconforto entre Oswaldo Cruz e o ministro da Justiça José Joaquim Seabra, em meio à epidemia na capital:

http://memoria.bn.br/DocReader/116300/3217

 

No dia 29 de agosto de 1904, Gazeta de Notícias, o maior jornal do Brasil da Primeira República, trata da articulação da oposição à vacina compulsória:

http://memoria.bn.br/DocReader/103730_04/8261

 

A 3 de setembro de 1904, Jornal do Brasil coloca em pauta o debate sobre a vacinação obrigatória na Câmara dos Deputados. Em charge, prefeito Pereira Passos passa com um rolo compressor por cima do pessimismo, com “Boas intenções!”:

http://memoria.bn.br/DocReader/030015_02/14634

 

Já a 29 de outubro daquele ano, chargista Leônidas de O Malho parece prevê a eclosão da Revolta da Vacina. Ou melhor, da “Guerra Vacino-obrigateza”:

http://memoria.bn.br/DocReader/116300/3567

 

Em 14 de novembro de 1904, jornal O Paiz trata do momento mais quente da Revolta da Vacina:

http://memoria.bn.br/DocReader/178691_03/8655

 

Na capa da revista ilustrada O Malho de 11 de fevereiro de 1905, ministro da Justiça Seabra lamenta o enforcamento do código sanitário, com a suspensão da vacina obrigatória:

http://memoria.bn.br/DocReader/116300/4168

 

A 15 de abril de 1905, já com a Revolta da Vacina superada, fantasma da febre amarela volta a assombrar Oswaldo Cruz, n’O Malho:

http://memoria.bn.br/DocReader/116300/4563

 

Em 19 de agosto daquele ano, O Malho trata da capilaridade do trabalho de Oswaldo Cruz pelo interior brasileiro. Mas gozação ilustrada com o sanitarista continua: já que não se pode vacinar o gado contra moléstias, vacina-se o leite. Nos dias 7 e 14 de outubro, Leônidas trata Oswaldo Cruz por “Czar dos mosquitos”:

http://memoria.bn.br/DocReader/116300/5348

http://memoria.bn.br/DocReader/116300/5716

http://memoria.bn.br/DocReader/116300/5763

 

Em 16 de junho de 1906, campanha de O Malho para desacreditar Oswaldo Cruz lança uma das charges mais ferinas contra o sanitarista: por onde andava sua capacidade para lidar com a tuberculose?

http://memoria.bn.br/DocReader/116300/7491

 

“Hão de fazer-me justiça”, dizia personagem de Oswaldo Cruz, no humor ilustrado d’O Malho, em 7 de julho daquele ano:

http://memoria.bn.br/DocReader/116300/7593

 

A 25 de agosto de 1906, um novo mal é colocado à frente do sanitarista: um surto de peste bubônica em Campos:

http://memoria.bn.br/DocReader/116300/7846

 

Em 2 de fevereiro de 1907, O Malho explora posição de Oswaldo Cruz frente a realidade sanitária dos portos brasileiros, em dificuldades para lidar com a peste bubônica. A 20 de abril, assunto voltava à pauta:

http://memoria.bn.br/DocReader/116300/8727

http://memoria.bn.br/DocReader/116300/9166

 

Em 29 de junho de 1907, Oswaldo Cruz consegue dar uma “vassourada” na decisão judicial que limitava o código sanitário:

http://memoria.bn.br/DocReader/116300/9572

 

Ainda O Malho, em 8 de junho de 1907, lança a talvez mais utilizada caricatura de Oswaldo Cruz nos livros de História: no contexto da Reforma Passos, o sanitarista passando o “pente fino” da Delegacia de Hygiene no então chamado Morro da Favela, ao lado da Central do Brasil. Moradores foram intimados, na ocasião, a se retirarem do local em dez dias.

http://memoria.bn.br/DocReader/116300/9446

 

A 3 de agosto de 1907, Oswaldo Cruz se despende do Brasil. Voltaria da Europa laureado, despertando tratamento diferente por parte da imprensa e de figuras públicas. Em 15 de fevereiro do ano seguinte, portanto, crônica de O Malho cobre a manifestação popular com a volta do higienista ao país:

http://memoria.bn.br/DocReader/116300/9766

http://memoria.bn.br/DocReader/116300/10871

 

Em 25 de junho de 1910,  n’O Malho, Oswaldo novamente vira um “cruzado” sanitário: missão então era contra os “micróbios do Norte”. Em 2 de julho, em tratamento diverso do recebido anteriormente pelo médico, revista fala em “viagem de triumpho”.

http://memoria.bn.br/DocReader/116300/16427

http://memoria.bn.br/DocReader/116300/16490

 

A 3 de setembro de 1910, Oswaldo Cruz volta ao Rio de Janeiro como heroi, com recepção no Palácio Monroe em “Homenagem á sciencia”:

http://memoria.bn.br/DocReader/116300/16929

http://memoria.bn.br/DocReader/116300/16980

 

Chega a vez da profilaxia no Pará: em 17 de junho de 1911, O Malho ilustra a passagem de Oswaldo Cruz pelo estado. Em seguida, novas homenagens ao “saneador do Rio de Janeiro e do Pará” na revista. Na edição de 16 de dezembro da revista, o higienista ganha um “medalhão histórico” do semanário ilustrado, com direito a topete retumbante:

http://memoria.bn.br/DocReader/116300/19066

http://memoria.bn.br/DocReader/116300/20173

http://memoria.bn.br/DocReader/116300/20485

 

Em 18 de maio de 1912, O Malho aborda outra conquista de Oswaldo Cruz: sanitarista era eleito à Academia Brasileira de Letras. No mesmo dia 11 daquele mês, Félix Pacheco também era escolhido como “imortal”. Na edição de 5 de julho do ano seguinte, o sanitarista tomava posse e discursava:

http://memoria.bn.br/DocReader/116300/21661

http://memoria.bn.br/DocReader/116300/24914

 

No ano de 1914, após presidir o Congresso Sanitário Internacional e de uma passagem pela Argentina e pelo Uruguai, Oswaldo Cruz tem novo desafio: a febre amarela no Ceará, conforme O Malho de 27 de junho daquele ano:

http://memoria.bn.br/DocReader/116300/27697

A 15 de abril de 1915, Oswaldo Cruz enfrentava o tifo, nas páginas de O Malho:

http://memoria.bn.br/DocReader/116300/31837

 

Enfim, edição de 17 de fevereiro de 1917 de O Malho declara: ciência em luto pela morte de Oswaldo Gonçalves Cruz:

http://memoria.bn.br/DocReader/116300/33770

http://memoria.bn.br/DocReader/116300/33771

 

Bibliografia:

ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Oswaldo Cruz. Perfil do acadêmico. Disponível em: https://www.academia.org.br/academicos/osvaldo-cruz. Acesso em: 2 de agosto de 2022.

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FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. A trajetória do médico dedicado à ciência. Portal FioCruz. Texto adaptado da edição nº 37 da Revista de Manguinhos, publicada em maio de 2017. Disponível em: https://portal.fiocruz.br/trajetoria-do-medico-dedicado-ciencia. Acesso em: 2 de agosto de 2022.

NEEDELL, Jeffrey. Belle époque tropical: sociedade e cultura de elite no Rio de Janeiro na virada do século. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

SCLIAR, Moacyr. Oswaldo Cruz. Série Essencial. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2009.

Secretaria Especial de Comunicação Social da cidade do Rio de Janeiro. 1904: Revolta da Vacina: a maior batalha do Rio. Cadernos de Comunicação. Série Memória, volume 16. Rio de Janeiro: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 2006.

SEVCENKO, Nicolau. A Revolta da Vacina: mentes insanas em corpos rebeldes. São Paulo: Cosac Naify, 2010.