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Literatura | Joel Silveira

26 mar 2022

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Um dos maiores repórteres brasileiros, e autor de cerca de 40 livros, Joel Silveira foi um pioneiro do chamado “Novo Jornalismo” em nosso país.

Joel Magno Ribeiro da Silveira (Lagarto, SE, 1918 – Rio de Janeiro, 2007) encontrou bem cedo a sua vocação: aos 14 anos, começou a trabalhar no jornal “A Voz do Operário”, publicação dirigida aos trabalhadores da indústria têxtil de Aracaju.

Aos 19 anos, após um desentendimento com seu pai, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde cursou por dois anos a Faculdade de Direito antes de se voltar definitivamente para o jornalismo. Seu primeiro emprego foi no jornal literário “Dom Casmurro”, de propriedade de Brício de Abreu e Álvaro Moreyra, e em seguida se tornou repórter e secretário da revista “Diretrizes”, dirigida por Samuel Wainer. Ali se projetou como um jornalista de destaque, principalmente após a reportagem “Granfinos em São Paulo”, cujo tom irônico e permeado de deboche rendeu a seu autor o apelido de “víbora”.

Leia uma crônica de Joel Silveira publicada em “Diretrizes”, em 1941.

Leia a reportagem “Granfinos em São Paulo”, de 1943.

Em 1944, após um artigo ter desagradado a Getúlio Vargas, “Diretrizes” foi fechada por ordem do DIP – Departamento de Imprensa e Propaganda. Joel Silveira, então, aceitou o convite de Assis Chateaubriand, dono do que era na época o maior conglomerado de mídias do país – e que fora, aliás, o responsável por apelidá-lo de “víbora”, devido à sua língua ferina -- para trabalhar nos “Diários Associados”, onde sua primeira grande missão foi cobrir a II Guerra Mundial, como correspondente.

Leia as declarações de Joel Silveira sobre si mesmo publicadas em 1944 na revista “Leitura”.

Em 1944, após várias tentativas do DIP de impedir seu embarque, o jornalista partiu para a Itália. Levava na memória a recomendação de Assis Chateaubriand: “Não me morra, Seu Joel. Repórter é pra dar notícias e não pra morrer”. Em cumprimento à ordem, Silveira não morreu, embora tenha se arriscado para cobrir a guerra: ao contrário de outros correspondentes, entre os quais Ernest Hemingway, ele não ficou apenas em Roma, mas fez várias viagens pelo país para estar próximo dos combates. Recebeu a patente honorária de capitão, o que era de praxe na época, e produziu as 107 crônicas que, no regresso, foram reunidas no livro “Histórias de Pracinha”, publicado em 1945. O tema reapareceu em vários dos livros que publicou nas décadas seguintes.

Outro assunto recorrente nas crônicas e reportagens de Joel Silveira eram os bastidores da política nacional e internacional. Além de conviver com intelectuais e grandes nomes da Literatura, Joel Silveira pôde acompanhar de perto os passos de muitas personalidades políticas, tais como Lourival Fontes, Carlos Lacerda, Juscelino Kubitschek, João Goulart e Jânio Quadros, do qual se tornou bastante próximo. Também conheceu de perto Getúlio Vargas, embora este sempre tenha se recusado a dar uma entrevista a Joel – o incidente, é claro, foi devidamente documentado. Dentre os muitos livros publicados sobre o tema ao longo dos anos, destaca-se “A Feijoada que Derrubou o Governo” (2004), coletânea de artigos políticos escritos desde a década de 1940.

Leia reportagem sobre Joel Silveira publicada na revista “Manchete” em 1970.

Além de “Diretrizes” e “Diários Associados”, Silveira colaborou com diversos periódicos, tais como “Manchete”, “Última Hora”, “O Estado de São Paulo”, “Diário de Notícias” e “Correio da Manhã”. Foi redator-chefe de “O Mundo Ilustrado”. Além da “língua ferina” notada por Assis Chateaubriand, seu trabalho se distinguia pela extensa pesquisa, necessária a construir o background dos artigos e reportagens, e pela linguagem literária, que fugia ao estilo jornalístico e deixava o texto mais saboroso. Isso já pode ser percebido em Joel Silveira desde os anos 1940 – duas décadas, portanto, antes que o estilo conhecido como “Novo Jornalismo” se consolidasse, especialmente nos Estados Unidos, com expoentes como Truman Capote e Norman Mailer.

Joel Silveira recebeu muitos prêmios e homenagens ao longo da vida. Em 1998 foi agraciado com o Prêmio Machado de Assis pelo conjunto da obra, e foi também ganhador do Jabuti, do Golfinho de Ouro, do Prêmio Esso Especial e do Prêmio Líbero Badaró. Em 2005, numa de suas últimas entrevistas, declarou jamais ter feito do jornalismo uma “escada” para subir na vida ou se “vender”, o que teria sido uma traição à sua profissão. Em maio de 2007, foi homenageado no II Congresso de Jornalismo Investigativo, promovido pela ABRAJI (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo). Sua filha o representou no evento, em vista de estar debilitado pelo câncer de próstata que o levaria à morte em agosto do mesmo ano.


Joel Silveira na “Revista da Semana”, 1941.