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Escritores Brasileiros | O Intimista Lúcio Cardoso

05 abr 2022

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Escritor, tradutor, poeta e dramaturgo, Lúcio Cardoso foi um dos primeiros e maiores expoentes da literatura de cunho psicológico no Brasil. 

Joaquim Lúcio Cardoso Filho (Curvelo, MG, 1912 – Rio de Janeiro, 1968) era o mais novo dos seis filhos de Joaquim Lúcio Cardoso e Maria Wenceslina Alves de Souza. Entre os irmãos estavam Adaucto, futuro deputado pela UDN e Ministro do Supremo Tribunal Federal, e Maria Helena, que também viria a ser escritora. Chamado de “Nonô” pela família, o caçula desde cedo se apaixonou pelo cinema, e, com a ajuda das irmãs, costumava improvisar projeções usando lâmpadas e caixas de papelão. 

Em 1923, após cursar o primário em Belo Horizonte, Lúcio Cardoso se mudou para o Rio de Janeiro, onde estudou por algum tempo no Instituto Lafayette. Nessa época já se interessava por Literatura, e começou a escrever um romance no gênero capa e espada. Voltou para Belo Horizonte a fim de concluir o ginásio, depois regressou ao Rio. Ali, enquanto trabalhava em diferentes empregos, passou a produzir contos, romances e poemas, além de uma peça teatral que foi elogiada pelo escritor Aníbal Machado.

Em 1934, com apenas 22 anos, o jovem publicou seu primeiro livro, “Maleita”. Seu protagonista, o idealista Joaquim, foi inspirado no pai do autor, que participou da fundação do município mineiro de Pirapora. Acerca desse livro, Cardoso afirmaria mais tarde que não pensou em escrever um romance: a história saiu num só jorro, fragmentada, sem obedecer a parâmetros formais. A mesma opinião teve o crítico Nelson Werneck Sodré, para quem o autor mineiro só tentou de fato escrever um romance a partir da segunda obra, “Salgueiro”, (1935) ambientada no morro carioca desse nome, que conta a história de três gerações de uma família. Os livros seguintes, “A Luz no Subsolo” (1936) e “Mãos Vazias” (1938), aprofundaram os aspectos intimistas e psicológicos já presentes nas obras anteriores e consolidaram o nome de Lúcio Cardoso no cenário da Literatura brasileira.

Leia a apreciação de Nelson Werneck Sodré sobre a obra de Lúcio Cardoso, publicada em 1940 na revista “Vamos Lêr!” 

Saiba o que disse Adonias Filho sobre “A Luz no Subsolo” em seu artigo no “Letras e Artes”, suplemento dominical de “A Manhã” (1954).

Nas décadas de 1940 e 1950, Lúcio Cardoso colaborou com vários periódicos enquanto continuava a escrever romances, poemas e peças teatrais. “O Filho Pródigo”, de sua autoria, foi escrita especialmente para ser a primeira peça encenada pelo Teatro Experimental do Negro, de Abdias do Nascimento, em 1947. Com Ruth de Souza e o próprio Nascimento no elenco, o espetáculo foi considerado o melhor do ano por Nelson Rodrigues, apesar de alguns críticos teatrais acharem que o tema não foi muito bem explorado pelo dramaturgo. 

O maior sucesso do autor, considerado sua obra-prima, foi publicado em 1959. Escrito em sequência a algumas novelas de cunho psicológico, “Crônica da Casa Assassinada” inova em termos de técnica literária, valendo-se de cortes cinematográficos entre as cenas para construir a tensão à maneira de Dostoievski. 

Leia o conto “O Afogado”, de Lúcio Cardoso, ilustrado por Osvaldo Goeldi e publicado em 1946 no “Letras e Artes”, suplemento dominical de “A Manhã”.

Confira a apreciação do crítico Luiz Santa Cruz acerca de “Crônica da Casa Assassinada”, publicada na revista “Leitura” em 1959.

Em 1961, Lúcio Cardoso foi um dos dez autores do romance policial “O Mistério dos MMM”, publicado em várias partes na revista “O Cruzeiro” e mais tarde como livro. Em 1962 escreveu o roteiro de “Porto das Caixas”, longa-metragem estrelado por Irma Alvarez e dirigido por Paulo César Saraceni, que, anos depois, levaria às telas dois outros filmes baseados na obra do escritor mineiro: “A Casa Assassinada” (1971) e “O Viajante” (1999). 

Leia o terceiro capítulo de “O Mistério dos MMM”, colaboração de Lúcio Cardoso para o livro organizado por João Condé e publicado na revista “O Cruzeiro” em 1961. 

Lúcio Cardoso se encontrava em plena atividade quando sofreu um derrame cerebral, que paralisou um lado de seu corpo e o impediu de escrever. Durante os seis anos que ainda viveu, dedicou-se à pintura e chegou a realizar duas exposições. Foi também homenageado pela Academia Brasileira de Letras, que lhe conferiu o Prêmio Machado de Assis, pelo conjunto da obra, em 1966. Sua irmã, Maria Helena Cardoso, fez um relato dos últimos anos do escritor no livro autobiográfico “Vida, Vida”, publicado em 1973. Lúcio – chamado ainda por ela de “Nonô”, como na infância -- se fora cinco anos antes, deixando como legado uma sólida obra literária que influenciou vários escritores da vertente intimista, entre os quais sua grande amiga Clarice Lispector.  



O jovem Lúcio Cardoso em foto publicada na “Vamos Lêr!”, 1940.