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Imigração Japonesa | Cooperação Brasil-Japão: a Câmara de Comércio Nipo-Brasileira

16 jun 2022

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Antes que o Brasil começasse a receber imigrantes japoneses (o que só se concretizou em 1908, com a chegada do navio Kasato Maru ao porto de Santos), foi preciso formalizar a cooperação entre os dois países através de um Tratado de Amizade, Comércio e Navegação, assinado em 5 de novembro de 1895 em Paris e aprovado pelo Congresso Nacional no ano seguinte, passando a valer a partir da publicação do Decreto n. 2.489, de 31 de março de 1897. O texto integral do Tratado, em francês e português, pode ser acessado nos Relatórios do Ministério das Relações Exteriores (RJ), com os comentários enviados pelo então ministro Carlos Augusto de Carvalho ao presidente Prudente de Moraes. Pela breve exposição que acompanha o texto encaminhado ao Congresso Nacional, sabemos que, embora não se mencione emigração/imigração em nenhum momento, ela era parte das motivações do governo brasileiro para este acordo:



Fonte: Relatório do Ministério das Relações Exteriores, 1896, p. 187.

O estímulo às relações comerciais entre os dois países, como fica evidente a partir do próprio nome do tratado, também integra os seus objetivos principais - ainda que o termo "agentes comerciais", de uso estabelecido pelo Decreto n. 997 B de 11 de novembro de 1890, tenha sido substituído por "agentes consulares" por solicitação do governo japonês, sob a justificativa de que não incluía em seus tratados funcionários desta categoria. Tudo ajustado, nada parecia ameaçar a "paz perpétua e amizade constante" entre os dois países.

Um grande impulso para as relações comerciais foi a criação da Câmara de Comércio Nipo-Brasileira em dezembro de 1937. Apesar das intenções e dos esforços da liderança da Câmara, com a situação conflituosa na Europa e o cenário se desenhando para que Japão e Brasil estivessem em lados opostos, não foi possível ter o resultado desejado — mesmo que ainda assim houvesse um bom resultado, como escreve o presidente, Sr. Orlando Soares de Carvalho, no 1o. Boletim da Câmara de Comércio Nipo-Brasileira, publicado em novembro de 1941.



Capa do 1o. número do Boletim da Câmara de Comércio Nipo-Brasileira | Fonte: Acervo Digital da FBN (o link dá acesso ao número completo)

Um exemplo das ações da Câmara à época foi a organização da "Exposição de Arte Industrial", com a demonstração de artigos manufaturados japoneses.  Na revista semanal O Cruzeiro (RJ), por exemplo, vemos algumas fotos e informações sobre a edição de 1940, realizada no Palace Hotel. Os produtos foram apresentados não apenas como itens de utilidade, mas como obras de arte exóticas, prontas para serem contempladas. A exposição durou somente dois dias, dos quais só o segundo foi aberto ao público. No primeiro, foi permitida a presença apenas de autoridades, jornalistas e críticos de arte, especialmente para um vernissage às 17h, com a presença de um grupo seleto da alta sociedade.

Somente um número do Boletim foi publicado, uma vez que no mês seguinte os integrantes brasileiros da Diretoria da Câmara pediram demissão (fato que foi noticiado em vários jornais). Não demorou muito até que o Conselho Nacional de Imprensa se manifestasse publicamente, interditando de maneira definitiva uma série de periódicos, ligados também a alemães e italianos. Era impossível manter a Câmara sob os mesmos auspícios de antes na situação política e econômica vigente. O Boletim demonstra, porém, que os comprometidos com esta Câmara atuaram o quanto foi possível.



Fonte: Jornal O Radical (RJ), 12 de dezembro de 1941, p. 3.

De atuação intensa, embora curta, no período anterior à guerra, a Câmara de Comércio Nipo-Brasileira não deve ser confundida com a Câmara que existe hoje: a  Câmara de Comércio e Indústria Japonesa do Brasil, que nasceu em 1926 como "Cooperativa de Comércio Japonesa", teve suas atividades também interrompidas por causa da guerra, porém retomou-as após 1951, sob o nome de " Câmara de Comércio Japonesa do Brasil" (a Indústria vindo a ser acrescentada ao nome em 1962).