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Imprensa | Adolpho Bloch

06 dez 2020

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Russo, de religião judaica, Avram Yossievitch Bloch - ou Adolpho Bloch (1908-1995) -, chegou ao Rio de Janeiro com a família em 1922, depois de sofrer privações, como fome e perseguições antissemitas, ocasionados pelo contexto da Guerra e pela Revolução Russa de 1917. O projeto inicial da família, após passar alguns meses em Nápoles, na Itália, seria vir para o Brasil e, posteriormente, seguir para os Estados Unidos. Todavia, após chegar ao Rio de Janeiro e estabelecer residência na Zona Norte da Cidade, decidiram aqui permanecer.

Seguindo o ofício ensinado pelo pai, Joseph Bloch, que já possuía uma oficina de litotipografia na Ucrânia, a primeira empreitada da família foi montar, em 1923, uma pequena tipografia para impressão de cartões numerados de jogo do bicho, antes liberado e hoje considerado contravenção. Naturalizou-se brasileiro em 1931 e, já em 1939, inauguraria na Rua Frei Caneca a sede de sua própria gráfica, transferida posteriormente para Parada de Lucas. Estaria iniciada sua ligação com o espaço editorial brasileiro que, passando, na década de 1940, pelo trabalho na Rio Gráfica Editora - da família Marinho -, se consolidaria, em 1952, com a fundação da Revista Manchete, culminando com a fundação da Rede Manchete de Televisão, em 1983.

A revista Manchete tornaría-se a principal concorrente da gigante O Cruzeiro, de Assis Chateaubriand, nos anos que se seguem ao seu lançamento. Durante governo Kubitschek (Manchete), apostou nas promessas do programa de desenvolvimentismo do presidente e, aproveitando a construção da nova Capital, aumentou a tiragem da revista e seu volume publicitário. Além disso, reequipou a gráfica, criou novas revistas como Fatos & Fotos, Pais & Filhos, Desfile, Sétimo Céu, etc.

Na década de 1960, com o exílio de Juscelino e, posteriormente, seu falecimento, a amizade entre Bloch e o ex-presidente ficou patente através das menções recorrentes nas revistas Bloch e na edição das memórias em três volumes pela empresa, apesar da censura imposta pela ditadura, em relação a divulgação sobre Juscelino na mídia. Em 12 de setembro de 1982, data em que o ex-presidente Juscelino completaria 79 anos, inaugurou em Brasília o Memorial JK, projetado por Oscar Niemeyer e construído, sob seu comando, a partir de doações (Manchete)

Mas não foi só nas revistas e na TV que Adolpho Bloch atuou: foi nomeado presidente da Fundação dos Teatros do Estado do Rio de Janeiro (Funterj), promovendo a restauração do Theatro Municipal, do Teatro João Caetano bem como construiu o Teatro Vila-Lobos, entre os anos de 1975 e 1979. Ainda nesse período, receberia os títulos e prêmios: Benemérito da Comunicação (1971); Prêmio Mascate (1977); título de doutor honoris causa, no Instituto Weizmann de Ciência, em Israel (1978). Pela sua ligação com a cultura israelita, recebeu a Ordem do Mérito Judaico e a Personalidade Brasil-Israel, na década de 1980.

À semelhança de Adolfo Aizen, proprietário da Editora Brasil-América Limitada (EBAL), seu pensamento empresarial caracterizava-se pelo entendimento de que o trabalhador precisava entender a empresa como uma segunda “família”, e ligar-se afetivamente de modo que seus filhos queiram permanecer e continuar o trabalho de seus pais, como expresso na passagem de O Estado de Florianópolis:

O trabalhador deve ter o melhor tratamento possível, e as melhores oportunidades, para que possam se interessar pela firma.
E é nosso desejo que os filhos dos nossos operários também se interessem pelo nosso trabalho, de forma a continuar a tarefa dos pais(...)

Dentre outros fatores, essa forma de compreender a relação patronal, distinta do típico empresário brasileiro, lhe rendeu o Prêmio Empresário Nacional em 1983.

Contudo, sem dúvida, sua maior colaboração para a mídia brasileira foi Rede Manchete de Televisão, atuante entre os anos de 1983 e 1995. A rede possuía estações nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Fortaleza, além de 40 afiliadas pelo país. Sua programação atendia a todos os públicos, desde o infantil até o mais idoso. Foi responsável pelo lançamento de personalidades como Xuxa e Angélica, bem como transmitia com exclusividade os desfiles carnavalescos da cidade do Rio de Janeiro.

O vertiginoso crescimento da Rede Manchete de Televisão (Manchete), entretanto, levou Bloch a contrair dívidas estratosféricas e, menos de 10 anos após seu lançamento, afundou em grave crise financeira. Perdeu 49% de suas ações, em 1992, para Hamilton Lucas de Oliveira, do grupo Indústria Brasileira de Formulários (IBF), em uma transação obscura e que envolvia o ex-tesoureiro de campanha do presidente Collor, Paulo César Farias.

Com a iminente falência, os funcionários deixaram de receber seus salários, vindo a entrar em greve e ocupar a sede da emissora, paralisando a programação em represália. Procurando ser fiel ao seu pensamento de respeito ao funcionário, Bloch contraiu novos empréstimos para tentar honrar a folha de pagamentos, mas as dificuldades financeiras continuavam, levando ao Banco do Brasil a arrestar os equipamentos como garantia do pagamento das dívidas e, consequentemente, ao encerramento das atividades da emissora.

Adolpho Bloch faleceu devido a uma embolia pulmonar, em 19 de novembro de 1995, aos 87 anos, durante um procedimento de cirurgia cardíaca no Hospital da Beneficência Portuguesa, em São Paulo. Sua biografia possui dois volumes, um lançado em 1978, composto por artigos que escrevera para a revista Manchete durante a década de 70 e o segundo publicado cerca de 10 anos depois.

Explore outros documentos:

Observador Econômico

Folha mineira (sobre Joseph Bloch)

O Jornal (Homenagem a Joseph Bloch, em turma do Liceu de Literário Português)

Cinelândia

Manchete

Manchete Esportiva

Manchete Rural

Mundo Illustrado

O Cruzeiro

Artigo de Bruno Brasil, pesquisador da FBN, sobre a Manchete


Adolpho Bloch – Manchete