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Ingleses no Brasil: relatos de viagem 1526 - 1608*

23 mar 2014

Introdução

O presente trabalho partiu da observação de um descompasso entre o grande número de relatos, cartas, roteiros e outros documentos quinhentistas escritos por ingleses, sobre as viagens pelo Atlântico, em que há referências ao Brasil, 1 e a escassa fortuna crítica sobre essa ampla produção textual. Diante desse contraste, e da visível relevância dos relatos ingleses para a história do Brasil desse período, o projeto de pesquisa desenvolvido com o apoio da Fundação Biblioteca Nacional teve como principal objetivo proceder a um levantamento de relatos de viagens ingleses quinhentistas nos quais há referências ao Brasil, abrangendo desde a viagem de Sebastião Caboto, em 1526, até a de William Davies, em 1608, de modo a sistematizar essas fontes. O projeto previa a elaboração de um catálogo bibliográfico comentado e um estudo de conjunto sobre os relatos, de modo a pensar a sua relação com as narrativas produzidas por portugueses e franceses, entre outros, e o seu lugar em meio a estas, com a intenção de dar a conhecer e resgatar as fontes para a história da presença inglesa no Brasil no século XVI.

Ao contrário da popularidade dos relatos escritos por portugueses, franceses e holandeses, que efetivamente estiveram envolvidos em projetos de colonização do Brasil, a produção textual inglesa sobre a colônia não teve grande repercussão justamente por não se vincular a um projeto colonizador ou a uma concreta colonização do território brasileiro.

O desconhecimento desse amplo corpus de relatos de viagem relaciona-se ao fato de muitos deles não se centrarem exclusivamente no Brasil e de abrangerem outras regiões do então chamado Mar do Sul (expressão genérica que abrangia tanto o Atlântico Sul quanto o Pacífico), e também ao fato de estarem, em sua grande maioria, ‘perdidos’ em meio às quase seis mil páginas de duas grandes coletâneas inglesas de relatos de viagem. A compilação Principall Navigations, organizada por Richard Hakluyt, impressa em 1589 e reeditada, em três volumes, entre 1598 e 1600, e a coleção Hakluytus Porthumus or Purchas his Pilgrimes, organizada por Samuel Purchas, e publicada, em quatro alentados volumes, em 1625, reúnem descrições, roteiros, cartas, narrativas, notícias, observações e relatos de viajantes ingleses e de outras nacionalidades. Purchas publica os relatos de André Thevet, Jean de Léry e também, pela primeira vez, o de Fernão Cardim, sem atribui-lo corretamente a seu autor, mas a um “Manuel Tristão”, justificando a publicação do texto português com as seguintes palavras: “I may well adde this Jesuite to the English Voyages, as being an English prize and captive”.2

As coletâneas de Hakluyt e Purchas são iniciativas editoriais ligadas à origem do Império britânico e empenhadas em sua legitimação e divulgação entre os ingleses,3 numa época em que as rotas de navegação pelo Atlântico, Pacífico e Índico, conhecidas e utilizadas por portugueses e espanhóis, eram objeto do interesse comercial e político inglês.

Sobre a parca difusão desses relatos, outro aspecto a ser observado é a imagem negativa que muitas dessas narrativas constroem sobre o Brasil, redigidas em uma época em que a Inglaterra começava a sua expansão marítima, cuja justificativa ideológica se construía na crítica ao caráter da colonização ibérica no Novo Mundo – o que viria a forjar o mito da Leyenda Negra –, em que espanhóis, e também portugueses, eram representados como um povo cruel e impiedoso com as populações indígenas. Não deixa de ser proveitoso citar aqui uma carta de Vincenzo Gradenigo, embaixador de Veneza na Espanha, em que podemos observar a não singularidade do ponto de vista inglês sobre a colonização hispânica da América (Veneza também se alinhava contra o monopólio comercial ibérico das rotas comerciais no Novo Mundo):

About Drake there is positive news that he has passed the Canaries, and, after capturing the flag ship of the Peruvian fleet with four hundred thousand crowns, has sailed towards Brazil. If he lands there, as they fear he has already done, there is not the smallest doubt but that the whole country will be thrown into confusion and danger, for there are no forts nor troops, and only discontent among the people on account of the brutal usage they experience from the Spaniards.4

É importante salientar que a extrema polarização política entre a Inglaterra e os países ibéricos durante parte do século XVI e o conseqüente ponto de vista construído a partir desse antagonismo fazem com que os relatos ingleses revelem aspectos sobre a sociedade, o comércio e a política colonial brasileira não considerados nas narrativas feitas por cronistas de outras nacionalidades, o que os torna uma rica e inexplorada fonte.

Talvez eclipsados tanto pela vitalidade dos estudos sobre o Brasil francês, cujo fértil terreno foi assentado desde o século XIX pelo clássico livro de Paul Gaffarel, como pelo farto aporte documental da posterior presença holandesa no Brasil, os ingleses, por não terem efetivamente estabelecido uma colônia no país, escreveram um capítulo pouco lido de nossa História.

Esse olhar ‘estrangeiro’ sobre o nosso primeiro século, e impiedosamente crítico em relação às práticas coloniais e comerciais ibéricas, contribuiu para que grande parte desses relatos não fosse recuperada quando, no século XIX, houve um resgate de descrições e narrativas do século XVI, capitaneado pelo Instituto Histórico e Geográfico, no Brasil, e pela Real Academia das Ciências, em Portugal, com as edições de Gabriel Soares de Sousa,5 Fernão Cardim,6 Pero de Magalhães de Gândavo,7 Jean de Léry,8 André Thevet e Hans Staden.9 O único relato inglês publicado nesse movimento de recuperação de fontes quinhentistas foi a narrativa de Anthony Knivet, traduzida em 187810 a partir de uma edição holandesa incompleta.11

Navegantes, corsários, piratas e comerciantes ingleses que aportaram nas costas brasileiras no século XVI deixaram testemunhos de sua passagem ou estada no Brasil em uma série de textos, de estilos e gêneros variados (indo do roteiro de navegação à narrativa de viagem, do tratado descritivo à epistolografia), escritos por almirantes, capitães, marinheiros, cirurgiões,12 aventureiros, religiosos, pilotos, negociantes e outros membros das tripulações. Entre esses textos merecem destaque os livros de Anthony Knivet e de Richard Hawkins,13 duas excepcionais narrativas tanto por seu valor literário quanto pela qualidade de suas informações, bem como a narrativa de Peter Carder14 – prisioneiro no Brasil entre 1578 e 1586 –, integrante da viagem de circunavegação de Francis Drake. A presente pesquisa levantou relatos ou notícias de aproximadamente 19 viagens, escritos por cerca de 33 autores, visto que de muitas destas viagens há mais de um testemunho. É importante notar que, deste conjunto de textos, apenas o de Anthony Knivet foi traduzido para o português e publicado no Brasil.15

Contrastando com a presença de franceses e holandeses no Brasil, cuja ação é concentrada em períodos bem delimitados, a presença dos ingleses no Brasil tem uma história descontínua. Seu assédio às costas brasileiras foi irregular e inconstante, sendo interrompido pela guerra entre Inglaterra e França na década de 1540, e depois retomado com novo ímpeto no reinado de Elisabeth I. O caráter de seus interesses e intenções também variou, incluindo o período inicial de comércio pacífico, seguido por episódios de pirataria, empreitadas bélicas – como o ataque às vilas de Santos e São Vicente em 1592 por Thomas Cavendish, ou o saque de Recife em 1595 por James Lancaster –, e incipientes tentativas de fixação – como a possível construção de um forte, próximo à Bahia de Todos os Santos, em 1542, pelo comandante John Pudsey. Richard Hakluyt, empenhado na colonização inglesa da América do Norte e figura próxima à rainha, sugeriu que fossem estabelecidas bases navais inglesas no estreito de Magalhães e em território brasileiro, nas cidades de São Vicente e de Santos, observando:

The Iland of St. Vincent is easely to be wone with men, by meane it is nether manned nor fortified, and being wonne it is to be kept with. This iland and the mayne adjoyning doth so abound with victual that it is able to victual infinite multitudes of people, as our people report that were there with Drake, who had oxen, hogges, hennes, citrones, lymons, oranges, etc.16

Projeto que nunca se realizou. No entanto, observa-se nos relatos ingleses o quanto as frotas estavam familiarizadas com São Vicente, Santos, ilha Grande e ainda outras ilhas localizadas no litoral das capitanias de São Vicente e do Rio de Janeiro, pontos freqüentes de abastecimento e aguada.

Nas coleções de Richard Hakluyt e Samuel Purchas podemos ler uma história da América contada por ingleses, com a intenção de propagar e advogar os direitos políticos dos ingleses não apenas sobre o novo continente, mas também sobre as ricas rotas comerciais das especiarias, de forma a quebrar o monopólio político e comercial das coroas ibéricas. As coleções de Hakluyt e Purchas registram os relatos de navegadores ingleses e estrangeiros e, em seu aparato editorial e comentários, exaltam e elogiam o projeto inglês de expansão marítima e colonização da América, atuando como propaganda colonial e, também, conseqüentemente, como propaganda anti-espanhola, anti-católica. A justificativa ideológica dos direitos ingleses sobre a América começa pelo próprio descobrimento do continente, numa espécie de “anglicização” da história dos Descobrimentos. Richard Hakluyt transcreve na primeira edição de Principall Navigations (1589) dois trechos do livro de Fernando Colombo,17 filho de Cristóvão Colombo, em que este relata como seu tio, Bartolomeu Colombo, tinha sido incumbido por Cristóvão de oferecer ao rei inglês Henrique VII o projeto do descobrimento da América, antes de apresentar esse mesmo projeto aos reis espanhóis. Bartolomeu Colombo, entretanto, teria sido atacado por piratas e perdido o mapa que levava ao rei, tendo vindo a cumprir sua tarefa com muito atraso, mas movendo Henrique VII a apoiar a viagem de descobrimento. Entretanto, nesse meio tempo, Colombo já tinha obtido o apoio da Coroa espanhola e partido. Segundo Hakluyt, “God had reserved the said offer to Castille”. Por sua vez, Samuel Purchas, encontra um novo caminho para vincular o descobrimento da América aos ingleses, estabelecendo como marco inicial a descoberta de Newfoundland por Sebastião Caboto em 24 de junho de 1497.18 Afirma Purchas que o continente foi descoberto por Sebastião Caboto, enquanto Colombo não fez mais do que avistar ilhas, e por isso seria muito melhor que o continente se chamasse Cabotiana do que América.19 Sebastião Caboto, de acordo com Purchas, era um cidadão inglês,20 e, portanto, a descoberta da América era inglesa e não espanhola.

Richard Hakluyt esteve ativamente empenhado no projeto de colonização da América do norte pelos ingleses, e este é o impulso que o leva a publicar seu primeiro livro Divers voyages touching the discoverie of America, em 1582, cuja espístola dedicatória é extremamente esclarecedora sobre suas intenções, a saber, encorajar a colonização do Novo Mundo, advogar o direito inglês sobre os territórios americanos ainda não colonizados por espanhóis e portugueses e estimular o projeto expansionista inglês. Na epístola dedicatória, Hakluyt afirma que chegara o tempo de os ingleses seguirem o exemplo de espanhóis e portugueses em tomarem parte do Novo Mundo, para onde poderiam mandar a população excedente de modo a formar colônias, e que os relatos que reunia em Divers voyages eram a prova de que as terras do norte da América pertenciam por direito aos ingleses. Hakluyt era um clérigo, e sublinhava não apenas as motivações políticas e comerciais, mas também as religiosas: “to reduce those gentile people to christianitie”.

Em sua propaganda colonial, seu esforço para estimular e justificar a expansão marítima inglesa, e sua escrita da história da expansão inglesa, em livros redigidos após o início da década de 1580, quando as relações entre a Inglaterra e a Espanha já tinham se deteriorado, observa-se um franco e acirrado antagonismo em relação aos povos ibéricos. A política européia nas duas últimas décadas do século XVI esteve polarizada entre católicos, liderados por Felipe II, rei da Espanha e Portugal, e protestantes, tendo como figura de proa a rainha Elisabeth I e sua política de expansão marítima. Felipe II apoiava os escoceses, contra a rainha inglesa, enquanto Elisabeth I apoiava os Países-Baixos contra o rei espanhol. A rainha inglesa apoiou também, de maneira irregular, mas ameaçadora, as intenções de D. Antônio, o prior do Crato, ao trono português, abrigando-o na Inglaterra entre 1585 e 1589 e apoiando algumas de suas ações políticas. O monopólio exercido pelo império de Felipe II após a anexação de Portugal pela Espanha, e o conseqüente domínio da América e das ricas rotas comerciais africanas e orientais foi objeto, então, de uma política marítima extremamente agressiva por parte da rainha inglesa, que teve como ápice a viagem de Francis Drake, em 1578, considerada pelos espanhóis, como atestam as muitas cartas de D. Bernardino de Mendonza, embaixador espanhol em Londres, a Felipe II, como um saque de enormes proporções de bens espanhóis, perpetrado com a anuência – e o aplauso – da rainha. Nos arquivos marítimos e nos arquivos de Elisabeth I encontram-se muitos processos movidos por espanhóis contra a indiscriminada ação de navios ingleses, particulares ou não, que saqueavam as cargas de embarcações comerciais de bandeira portuguesa e espanhola. A resposta mais efetiva do rei espanhol foi o envio da Invencível Armada, que redundou em fracasso.

Essa polaridade política, religiosa e ideológica tem como imagem emblemática, como dissemos, a formação da leyenda negra (black legend) – expressão cunhada no início do século XX para definir a propaganda inglesa contra os espanhóis. Os termos usados para designar os povos ibéricos na literatura de viagens inglesa desse período são os mais depreciativos, especialmente no que se refere à ambição comercial e à atitude frente aos seus opositores, sejam eles protestantes, sejam inimigos políticos, sejam povos conquistados, como os índios da América. Nos relatos ingleses, especialmente os produzidos a partir do início da década de 1580, portugueses e espanhóis são definidos como gananciosos, avarentos, cruéis, tiranos, perigosos, falsos, enganosos. Uma frase do aventureiro inglês Anthony Knivet, que passou longos anos no Brasil, resume a visão negativa construída pelos ingleses: “preferi colocar-me nas mãos da piedade bárbara dos selvagens devoradores de homens do que da crueldade sanguinária dos portugueses cristãos”.

Curiosamente, um dos textos fundadores da imagem inglesa da extrema crueldade ibérica foi escrito por um bispo espanhol católico, frei Bartolomé de las Casas, para quem a denuncia dos maus-tratos e desumanidade dos espanhóis com os índios servia como instrumento de defesa dos povos nativos e como um plano de reforma dessas relações. Mas os ingleses, ao traduzirem e publicarem várias edições da Brevíssima relação da destruição das Índias (quatro edições entre 1583 e 1699), e ao divulgarem na Inglaterra as atrocidades denunciadas por las Casas, forjavam uma justificativa para o seu projeto imperialista e de colonização do novo mundo.

Dessa polaridade resulta uma das características mais marcantes dos relatos de viagens ingleses sobre o Brasil, se comparados às narrativas escritas por portugueses (como Gândavo, Gabriel Soares de Sousa, Fernão Cardim, Francisco Soares e demais jesuítas), por franceses (como Thevet e Lery) e pelo alemão Hans Staden. Enquanto os portugueses descreviam a natureza brasileira com intenções de amplificar suas qualidades, com a intenção de atrair novos colonos ou novos investimentos, enquanto os franceses escreviam seus livros como um relato das maravilhas do Novo Mundo, e Hans Staden redigia seu livro de memórias como uma peregrinação católica, sempre tendo a cultura indígena como paradigma da alteridade, os ingleses, especialmente a partir da década de 1570, descrevem a terra e suas relações com seus habitantes de um ponto de vista inteiramente diferente, tomando como paradigma principal da alteridade não os povos indígenas, mas os povos ibéricos. Esse ponto de vista relaciona-se também ao tipo de ação desempenhada pelos ingleses em território brasileiro, seja comercial ou expressamente de ataque e saque. Também contribuem para essa visão os relatos de ingleses que passaram longos períodos no Brasil na condição de escravos ou cidadãos à parte da sociedade, como Anthony Knivet e Peter Carder, que nos revelam determinados aspectos da sociedade colonial ausentes nos demais cronistas. O radical antagonismo religioso e político faz com que o seu olhar etnológico focalize não apenas os povos indígenas, mas também o colonizador português. Resulta daí que os portugueses configuram, para os ingleses, uma alteridade muito mais marcante do que a dos próprios índios, de forma que as práticas sociais e políticas ibéricas são descritas de forma desusada, em que o exótico e o bárbaro, geralmente aplicado aos índios, passam a ser qualidades ibéricas.

Períodos

No início do século XVI os ingleses ainda não possuem o conhecimento de geografia e ‘cosmografia’ – como se dizia na época – necessários para a navegação e o estabelecimento do comércio na América do Sul ou em outros territórios e rotas marítimas pertencentes às coroas portuguesa e espanhola. O conhecimento dos mapas, das rotas, correntes e regimentos marítimos era praticamente uma exclusividade dos povos ibéricos, e objeto da espionagem de ingleses. É interessante citar, a esse propósito, a declaração de Richard Hakluyt na epístola dedicatória de Divers voyages, de 1582, em que registra:

When I consider that there is a time for all men, and see the Portingales time to be out of date, & that the nakednesse of the spaniards, and their long hidden secretes are nowe at lenght espied... I conceive great hope, that the time approcheth and nowe is, that we of England may share and part stakes both the spaniarde and the Portingale in part of America, and other regions as yet undiscovered.

Enquanto portugueses e espanhóis desenhavam os novos mapas do mundo e desbravavam as novas rotas, construindo um conhecimento geográfico inteiramente novo, e estabelecendo um rentoso comércio de mercadorias, os ingleses empenhavam-se em associar-se a viagens comerciais espanholas, como demonstram os registros da atividade comercial de ingleses instalados em Sanlucar de Barrameda e em Sevilha. Comerciantes ingleses estabelecidos na Andaluzia investiam no comércio marítimo, participando ativamente de várias rotas, como a das ilhas Atlânticas, as do norte da África e da costa atlântica no continente, as do Oriente e mesmo as do Novo Mundo.21 A partir de 1529, ano do divórcio entre Henrique VIII e a espanhola Catarina, inicia-se um período não tão favorável para os comerciantes ingleses radicados na Espanha e vários retornam à Inglaterra.22

Um exemplo da atividade comercial conjunta entre ingleses e espanhóis é a viagem espanhola de 1526 com destino às Molucas, mas realizada para o rio da Prata, comandado por Sebastião Caboto, filho do veneziano Giovanni Caboto, numa associação de capitais espanhóis e ingleses, e na qual os ingleses Caboto e Roger Barlow, entre outros, tinham como principal objetivo aprender a navegação pelo Atlântico e pelas rotas do Índico até as então chamadas “spice ilands”. Os ingleses, desde o início do século, tentaram encontrar um caminho alternativo e mais próximo para as especiarias, sendo várias as expedições marítimas em busca da “Northwesth passage” (uma passagem para o Pacífico Norte através de um suposto caminho marítimo atravessando o extremo norte do continente americano), que se tornou praticamente uma obsessão de várias figuras inglesas ligadas ao comércio, à navegação e à “cosmografia”, como John Davis, Robert Thorne e Richard Hakluyt.

Os franceses, desde o início do século XVI, freqüentavam as costas do território brasileiro e estabeleceram um próspero e pacífico comércio com os índios do litoral, em que a principal mercadoria era o pau-brasil, sendo a primeira viagem a de Binot Paulmier de Gonneville, em 1504. As primeiras incursões sistemáticas de ingleses na América do Sul teriam sido em associação com navios franceses. Segundo W. E. Minchinton,23 entre 1539 e 1541 houve uma joint-venture entre França e Inglaterra no comércio no litoral brasileiro. Um exemplo disso é a viagem do navio Barbara of London, em 1540, uma empresa comercial inglesa, comandada por John Phillips, que contava com um experiente piloto francês. Ainda na década de 1530, o navegador William Hawkins, segundo registra Richard Hakluyt, teria feito três lucrativas viagens ao Brasil, também contanto com a expertise de um piloto francês. Na década de 1530, segundo Eva G. R. Taylor, várias viagens comerciais ao Brasil foram
empreendidas, não apenas as de William Hawkins.24 Nesse período realizam-se ainda outras viagens, na década de 1540, registradas por Hakluyt, como a dos comerciantes Robert Reneger e Thomas Borey, e a de John Pudsey, que teria erguido um forte na Bahia.

A produtiva associação entre franceses e ingleses na exploração comercial de produtos tropicais nas costas brasileiras e o pacífico comércio com os índios do litoral seria interrompido por volta de 1542, quando as relações entre os dois países entram em uma fase de rivalidade.

O interesse na América do Sul só é retomado no final da década de 1570, especialmente após a espetacular viagem de Francis Drake, iniciada em 1577, cujos enormes tesouros angariados de navios espanhóis abriram o apetite de investidores ingleses, e este interesse se intensifica após a união das coroas ibéricas em 1580, dividindo-se entre as expedições de caráter comercial e aquelas
francamente piráticas. Além das viagens registradas nos relatos compilados no “Catálogo bibliográfico” (página 42), outras foram realizadas, como atestam vários documentos,25 entre os quais as cartas de D. Bernardino de Mendonza, embaixador espanhol na Inglaterra, em que registra:

An Alderman of London, and one Winter, are fitting out in this river two ships, one of 240 tons and the other small, to go on a plundering expedition to the coast of Brazil, whither they are to carry some merchandise.26

Two ships which I mentioned as being fitted out to go to the coast of Brazil with merchandise have now been joined by others, and they are all ready to sail some time ago in Plymouth. They are the “Primrose” of London, 300 tons, the “Mignon” of 180, the barque “Hastings” of 100, a flyboat of 160, two vessels belonging to Francis Drake of 100 tons each, a pinnace of 80, and two little long boats of 12 oars a side, which are taken to pieces and stowed on board the ships. The intention is to plunder what they can get, and, if possible, to touch at the same island of San Thomé, sailing thence to the Moluccas.27

Após a união ibérica, estabelecem-se leis proibindo o exercício do comércio, da mineração e da agricultura por estrangeiros. Em 1588, o regimento do novo governador-geral do Brasil estabelecia várias recomendações que visavam a defender o território do ataque de corsários, e proibia que naus estrangeiras comerciassem no litoral, com exceção daquelas que possuíssem uma “provisão real”.28 As recomendações desse regimento destinavam-se a Francisco Giraldes, que deveria ter assumido o governo-geral em 1588. No entanto, a nau em que vinha ao Brasil desgarrou-se da frota e retornou a Lisboa, tendo Giraldes permanecido em Portugal até sua morte em 1594. Foi apenas em 1591, portanto três anos depois, que o novo governador-geral, D. Francisco de Sousa, chegou ao Brasil para assumir o cargo.

Mesmo com a proibição legal, navios ingleses freqüentavam as costas brasileiras, sendo por vezes bem recebidos pelos colonos, e os portos de São Vicente, Santos e ilhas adjacentes – escala para o estreito de Magalhães – eram muito bem conhecidos e comumente empregados como bases de aprovisionamento e aguada pelas frotas inglesas, e houve, inclusive, um projeto inglês de construir um posto avançado no extremo sul do continente de forma a implantar uma nova rota inglesa que possibilitasse o acesso ao Pacífico. Tal projeto teve como resposta a viagem de Diego Flores de Valdés, cuja missão era construir fortes e vilas com o objetivo de fechar o acesso do estreito aos ingleses. Os interesses de corsários ingleses no Brasil centravam-se na pilhagem de vilas e embarcações, visando principalmente à obtenção de carregamentos de açúcar e de eventuais provisões de metais preciosos, ou ainda ao apresamento das ricas cargas dos navios espanhóis (principalmente no final do século XVI), ou simplesmente concentravam-se no abastecimento das frotas que seguiam em direção ao estreito. Facilitava o trabalho dos corsários o fato de os portos brasileiros não contarem com um sistema eficiente de defesa, o que, aliás, é observado em vários relatos ingleses da época.

As viagens na década de 1580 e a boa receptividade que algumas delas possam ter tido em alguns portos do Brasil podem ser relacionadas à adesão política de algumas autoridades do Brasil a D. Antônio, o prior do Crato, rei português vencido pelas forças de Felipe II e que se refugiou na Inglaterra, onde conseguiu certo apoio político. As cartas de D. Bernardino de Mendonza, embaixador espanhol na Inglaterra, a Felipe II, demonstram a sua preocupação com uma possível coalizão entre D. Antônio, os Açores e o Brasil. É ilustrativo o seguinte trecho de uma carta de D. Bernardino de Mendonza ao rei, de 16 de outubro de 1580:

The ships which I wrote to your Majesty were going to the coast of Brazil, have been delayed by Drake’s return, in order to ship a larger number of men, in consequence of the promises made by Juan Rodriguez de Souza, who came hither to represent Don Antonio, as to the profits they will make if he goes with them, not only to the coast of Brazil, but also to the Portuguese Indies.29

Há ainda outro fator a contribuir para o interesse dos mercadores ingleses no Brasil: sabia-se que a colônia estava ávida por produtos manufaturados, como têxteis e ferramentas, que poderiam ser intercambiados por açúcar a preços muito mais baixos do que se praticavam na Europa.

Viagens e narrativas30

Sebastião Caboto no Brasil

A primeira viagem com participação de ingleses ao Brasil foi a comandada por Sebastião Caboto (filho do veneziano Giovanni Caboto, responsável pela descoberta da Newfoundland, na América do Norte), cuja nacionalidade inglesa é freqüentemente invocada nos relatos da época. A viagem teve início em San Lucar de Barrameda – na boca do rio Guadalquivir –, em 1526, e alongou-se até o ano de 1530. O destino era originariamente as Molucas, e a expedição foi resultado de uma união de investimentos espanhóis e ingleses. Sabe-se que Robert Thorne, comerciante inglês estabelecido em Sevilha e autor
de um importante livro de geografia,31 investiu meio milhão de maravedis na viagem. Entretanto, a expedição não seguiu rumo ao seu destino inicial e concentrou-se na exploração do rio da Prata e do rio Paraná.

Sobre essa viagem foram conservados registros de três participantes: uma descrição geográfica intitulada Brief Somme of Geographia32 do mercador inglês estabelecido em Sevilha Roger Barlow, que estava no navio principal, escrita em 1540; uma carta do francês Louis Ramirez, publicada por Ternaux-Compans em Nouvelles Annales de Voyages, vol. III, em 1843;33 e uma obra geográfica de Alonso de Santa Cruz, tesoureiro da expedição, que viria a ser cosmógrafo chefe de Felipe II, intitulada Islario General de todas las islas del mundo, escrita em 1542.

A obra de Barlow não é um relato de viagem, mas uma tradução quase literal da Summa de Geographia (1518) de Martin Fernandez de Enciso, sendo o primeiro livro sobre geografia escrito por um inglês após os Descobrimentos. Entre suas contribuições pessoais ao texto original espanhol estão descrições dos territórios que conheceu durante a viagem de Caboto, como a costa brasileira (cabo de Santo Agostinho, rio São Francisco, baía de Todos os Santos, Porto Seguro, Santos, Cabo Frio, Rio de Janeiro, ilha de Santa Catarina), e detalhadas e precisas observações sobre os povos indígenas (tupis e guaranis) e fauna e flora brasileiras. O trecho sobre o Brasil destaca-se do restante da obra de Barlow por, além de trazer as informações técnicas de navegação e topografia que são a tônica de toda a obra, alongar-se em uma narração minuciosa dos aspectos naturais e sociais do território. Destacamos o seguinte trecho desta que é uma das primeiras descrições da colônia portuguesa:

Ther is plenty wylde beastes as wylde dere and falowe and mountayne hogges, and divers other straunge bestes of good mete and savour and greete plentie of foules as popingais of dyvers sortes, grete partriches, pecockys, duckys and herings and divers other straunge byrdes, and grete plentie or fyshe which thei kyll with arows in the water, for to reherse the straunge sort of fyshes that be upon this coste and also the straunge beastes ad foules of the lond it wold be a worke for to make another boke therof…34

A primeira parada em território brasileiro foi em Pernambuco, onde se demoraram três meses, esperando a época propícia para continuar a navegação rumo ao estreito de Magalhães. Segundo Louis Ramirez, Caboto não deixou que seus homens desembarcassem, tendo a frota recebido a visita de índios e portugueses. Em Pernambuco, Caboto teria recebido informações sobre a existência de ouro e prata nas proximidades do rio da Prata, o que teria motivado a mudança do destino da viagem, contrariando os interesses dos investidores e de Carlos V. Quando deixaram Pernambuco, rumaram para São Vicente, e seguiram para a ilha de Santa Catarina, onde desembarcaram de forma a construir um bote que havia se perdido, e onde encontraram sobreviventes da expedição de Solis ao rio da Prata. Um dos sobreviventes, Henrique Montes, prometeu, segundo relata Louis Ramirez, encher os navios de ouro e prata se a frota o acompanhasse até o rio Paraná. Na ilha de Santa Catarina, Caboto perdeu seu navio, o principal da frota, e a urca que o acompanhava, com os mantimentos. Um galeão foi construído para suprir a perda do navio, e o novo destino da viagem foi fixado: não mais as Molucas, mas uma exploração do rio da Prata, o que dividiu a tripulação: alguns apoiavam a decisão de Caboto e outros continuavam fiéis ao plano inicial e aos investidores. Somente em fevereiro de 1527 a frota adentra a foz do rio da Prata, e se divide; parte fica no rio Uruguai, onde construíram um forte, e outros partem para a exploração do rio Paraná.

Tendo encontrado a frota de Diego Garcia, que viera expressamente com a missão de explorar o rio da Prata, Caboto envia à Espanha um navio, onde segue Roger Barlow (que chega a Lisboa em outubro de 1528), de forma a oficializar a sua exploração do rio da Prata e a pedir reforços para a descoberta. No entanto, os reforços nunca são enviados, porque em 1528 Pizarro havia descoberto as riquezas do Peru e o caminho pelo rio da Prata perdia sua importância estratégica nas explorações em busca de ouro e prata. Em novembro de 1529, Caboto começa sua viagem de volta, passando por Santa Catarina e São Vicente. Ao chegar a Sevilha, imediatamente é instaurado um processo contra ele, que resulta em sua condenação ao desterro em Oran. O fato não impediu o prosseguimento da longa e atribulada carreira de Sebastião Caboto, pois, depois de cumprir a pena, foi novamente nomeado piloto-mor pelo rei.35

A viagem de Caboto, como observa Rolando A. Laguarda Trías, “foi perdendo a importância desde que o descobrimento do rio Paraná, a ela atribuído, passou a ser tido, com toda razão, como obra de Cristóvão Jacques, e o do rio Paraguai ficou à conta de Aleixo Garcia”.36

Richard Haklut faz referência a duas viagens de Caboto ao Brasil.37 A primeira teria sido em 1516, juntamente com Thomas Pert (ou Spert), e teria se realizado para o Brasil, Santo Domingo e Porto Rico, às custas do rei Henrique VIII, informação baseada em livro de Richard Eden, A treatise of the New India, publicado em 1553; viagem sobre a qual não há nenhum outro registro e que provavelmente se trata de uma confusão com a viagem realizada em 1526.38

Sobre a segunda, a de 1526 – que Hakluyt erroneamente data de 1527 –, sublinha especialmente que dois ingleses participaram da viagem ao rio da Prata; sua fonte foi uma carta de Robert Thorne, escrita em 1527 para Dr. Lee, embaixador de Henrique VIII na Espanha, que Hakluyt já publicara em suas Divers voyages em 1582, na qual Thorne menciona que dois amigos seus, “somewhat learned in Cosmographie”, participaram da viagem. Roger Barlow e o piloto Hugh Latimer, os dois amigos em questão, empenharam-se na viagem com o objetivo de aprender a rota para as então chamadas “Spice
Islands”, de modo a que os ingleses pudessem iniciar-se nesse proveitoso comércio, e ainda averiguar, através do conhecimento da geografia do Pacífico, a possibilidade de estabelecer uma rota através da então sonhada “Northwest passage”, através do pólo Norte.39

As viagens de William Hawkins

A seguir à expedição de Caboto, encontra-se, também em Principal Navigations de Richard Hakluyt, a breve notícia de três viagens40 de William Hawkins, o velho (pai de John Hawkins), ao Brasil, de 1530 a 1532. Não se conhecem relatos da época sobre essas viagens, apenas o breve registro feito por Hakluyt. Experiente mercador e capitão, William Hawkins armou, por conta própria, o navio Paul of Plimouth e com ele fez três rentosas viagens ao Brasil, “a thing in those dayes very rare, especially to our nation”, comenta Hakluyt. As viagens também tinham como objetivo a costa da Guiné – a rota comercial Guiné-Brasil passou a ser freqüentada por ingleses na década de 1520 –,41 onde comerciaram escravos africanos e outras commodities, como marfim. No Brasil, a frota estabeleceu cordiais e proveitosas relações com os índios e provavelmente abasteceu-se de pau-brasil, como faziam as frotas francesas. Na segunda viagem, um “rei” indígena concordou em ir para Inglaterra e em seu lugar foi deixado, na terra, um inglês. Ao chegar à Inglaterra, onde pçermaneceu perto de um ano, o rei indígena foi apresentado ao rei Henrique VIII, em Whitehall, e espantou a corte com os furos em seu rosto, de onde pendiam ossos e pedras. Na volta ao Brasil, o índio morreu durante a viagem marítima, mas seu povo, convencido da honestidade de Hawkins, devolveu o inglês que ficara como garantia, conta Hakluyt.

Segundo Kenneth R. Andrews, em 1536 William Hawkins pediu a Thomas Cronwell que o rei apoiasse com a quantia de 2 mil libras uma nova viagem com destino ao Brasil, e em 1540 a alfândega de Plymouth registra a entrada de mercadorias trazidas no navio Paul of Plimouth, contabilizando 100 quilos de marfim e 92 toneladas de pau-brasil,42 o que indica que Hawkins fez outras viagens além das registradas por Hakluyt em Principall Navigations.

Reneger, Borey e Pudsey

Na década de 1540, pelo que escreve Hakluyt, o caminho aberto por William Hawkins na década de 1530 já tinha se transformado numa rotina, e várias proveitosas viagens comerciais foram feitas ao Brasil, especialmente por ricos comerciantes de Southampton. De 1530 a 1542, segundo Kenneth R. Andrews, há muitos registros que indicam que houve uma considerável atividade comercial inglesa no Brasil. “This commodious and gainefull voyage to Brazil was ordinarily and usually frequentend by M. Robert Reneger43 and M Thomas Borey, and divers others substancial and wealthie merchants of Southampton”, registra Hakluyt44. Em 1542, ainda segundo Hakluyt, um certo Pudsey de Southampton fez uma viagem a “Baya de todos los santos, the principall towne of all Brasil”, e não longe da cidade ergueu um forte, o que pode indicar que havia um comércio regular com a costa brasileira ou que havia a intenção de que esse comércio viesse a se regularizar.

O Barbara of London

Em 1540, o navio Barbara of London fez uma viagem ao Brasil – não registrada por Hakluyt –, registrada em documentos da Alta Corte do Almirantado no Public Record Office.45 A viagem tinha como objetivo o comércio pacífico nas costas brasileiras, mas atos de pirataria contra navios espanhóis foram cometidos no percurso e por isso instaurou-se um processo após a sua volta à Inglaterra. O Barbara of London, cujos donos eram John Chaundler, John Preston e Richard Glaysner, comandado por John Philips, saiu de Portsmouth em 7 de março de 1540, com uma tripulação de 100 homens, entre eles 12 franceses, sendo um piloto e vários intérpretes (línguas) aptos a negociar com os índios. O Barbara levava mercadorias e uma comissão que estipulava “that they should do no robery but folowe the usage like honest men”. No entanto, antes de atingir as Canárias e o Cabo Verde, capturam um barco vasco e uma caravela carregada de ouro e âmbar, e se encaminharam para “the Ile of Brasell”. Chegaram, ao que tudo indica, a Fernando de Noronha, e rumaram para o cabo de São Roque, onde mandaram para a terra o piloto e um língua, que souberam pelos índios estarem distantes do ponto onde deveriam achar pau-brasil. Na saída do cabo, o Barbara ficou preso por algumas horas nas pedras, mas finalmente ancoraram em um lugar chamado Callybalde (ou Kennyballes), muito conhecido por John Bridges, autor do relato sobre a viagem, onde passaram um mês comprando “cotten wolle, popynjayes, monckeys, and dyvers other straunge beastes of that countrey”,46 e onde construíram uma casa para estabelecer o comércio com os índios. Ali vieram a bordo um francês e um português que os instaram a sair de lá e a evitar o país “in his kinges names”. Naquela noite o francês e um seu conterrâneo tentaram cortar o cabo da âncora do navio, mas foram aprisionados pelos ingleses. Dias depois os dois franceses capturados foram levados a terra para ajudar os ingleses no comércio com os índios, mas escaparam e conseguiram convencer os franceses da tripulação, que estavam em terra, a fugirem levando todas as mercadorias. Alguns ingleses os perseguiram, mas todos foram mortos pelos índios, exceto um. No mesmo dia a casa foi atacada e incendiada, com todo o algodão estocado nela, e vários foram feridos. Estando com poucos homens para manejar dois navios – o Barbara e a nau basca tomada no início da viagem –, incendiaram a nau e partiram de volta para a Inglaterra. Atingiram Trinidad, Hispaniola e Santo Domingo, onde abandonaram o Barbara, que estava avariado, capturaram um galeão de Sevilha carregado de açúcar, no qual voltaram para casa. Em agosto de 1540 chegaram a Dartmouth, com treze homens. Nesse meio tempo, notícias do Barbara chegaram às cortes espanholas e processos judiciais foram movidos, mas não atingiram seu dono, John Chaundler, que em 1543 estava comerciando com o Mary Fortune.47

Reginald Marsden faz referência ainda a uma viagem ao Brasil em 1539-41, citada na Adm. Court Libels 9, n. 61; 11, n. 64., em que mercadores de Dieppe também investiram.48

O relato de Peter Carder

O marinheiro Peter Carder integrava a frota de Francis Drake, na viagem de circunavegação iniciada em 1577. Na Terra do Fogo, no Pacífico, em outubro de 1578, ele e outros sete homens foram mandados para uma pequena pinaça, de modo a poder servir a embarcação principal (Pellican, renomeado Golden Hind), visto que o Elisabeth de John Winter tinha se perdido da frota. Mas, após uma tempestade, a pinaça também perdeu-se da frota, sem alimentos ou instrumentos de navegação. O grupo conseguiu atravessar o estreito de Magalhães, voltar ao Atlântico, e atingir o rio da Prata. Em seu impressionante relato publicado por Samuel Purchas,49 Peter Carder conta suas aventuras no Brasil, entre índios e portugueses, onde teria passado oito anos antes de retornar para a Inglaterra. A narrativa de Carder não tem a sobriedade e a objetividade dos demais relatos de viagem, e se assemelha ao livro de Anthony Knivet; está no limite entre o relato de viagem e a literatura, a ficção, mas contém descrições extremamente valiosas dos povos indígenas e da sociedade colonial.

Em seu relato autobiográfico, Carder conta uma sucessão de peripécias, entre elas sua captura pelos índios tupi, com quem passa a conviver, e sua chegada à Bahia. Identificado como estrangeiro ilegal, é condenado pelo governador a ir para Lisboa e trabalhar nas galés, o que se igualava a uma pena de morte. Entretanto, foi salvo pelo senhor Antônio de Paiva, que lhe deu emprego e abrigo, e, anos depois, conseguiu que fosse embarcado clandestinamente em um navio a caminho de Portugal. O navio, para sua sorte, foi atacado nos Açores por ingleses, que o levaram de volta à sua terra, aonde chegou em 26 de novembro de 1586.

Samuel Purchas, em nota marginal ao curto relato de Carder, impresso em quatro páginas, declara ter publicado o documento a pedido de John Winter, com quem se encontrou em setembro de 1618.

O Minion of London

A próxima viagem de que se tem notícia é a do Minion of London, também chamado de Mignon em documentos ingleses da época. Richard Hakluyt publica três documentos relativos a essa viagem: uma carta do inglês John Whithall, 50 genro do senhor de engenho genovês José Adorno, e também dono de alguns engenhos de açúcar, escrita em Santos, a 26 de junho de 1578; uma carta, em resposta, de cinco comerciantes ingleses,51 enviada através do Minion of London; e um diário de bordo do agente comercial Thomas Grigges,52 relatando episódios da viagem.

John Whithall (chamado de João Leitão no Brasil), em carta dirigida ao inglês Richard Staper, comerciante com importantes investimentos no comércio com o Oriente, descreve sua boa situação econômica em São Vicente, demonstra a possibilidade de grandes lucros no comércio com a capitania, especialmente com o açúcar, relaciona as mercadorias que deveriam ser enviadas ao Brasil, e propõe a vinda de um navio inglês com as citadas mercadorias. Whitall sublinha que o provedor e o capitão da capitania lhe informaram ter descoberto minas de ouro e prata, que precisavam de “masters to come to open the said mines”, que a região se situava nas vizinhanças do Peru, e que lhe haviam garantido dar licença comercial para o navio vindo da Inglaterra.

A carta em resposta, de quatro mercadores ingleses associados na viagem, Christopher Hodsdon, Anthonie Garrard (diversas vezes citado por Richard Hakluyt, em Principall Navigations, como fonte oral de viagens por ele publicadas), Thomas Bramlie, John Birde e William Elkin, relacionam as mercadorias enviadas no Minion of London, entre elas itens mandados especialmente para Whithall, tais como calderões de cobre para os engenhos, além de artífices ingleses, e uma cama de dossel, de presente, descrita em detalhes.

As duas cartas demonstram a intenção de iniciar uma relação comercial proveitosa para os dois lados (note-se que na carta dos mercadores ingleses há referências a outras cartas escritas por Whithall para potenciais parceiros comerciais na Inglaterra). Enquanto os ingleses lucrariam com o comércio de açúcar do Brasil, a colônia se beneficiaria dos produtos manufaturados ingleses e de outros países europeus, de que havia muita demanda, tais como tecidos, roupas, chapéus, facas, tesouras, copos, louças, além uma série de ferramentas e material para a construção de navios. Diz John Whithall em sua carta: “meu sogro e eu faremos anualmente uma boa quantidade de açúcar que pretendemos embarcar para Londres, se pudermos contar com um bom e leal amigo como você para comerciar conosco”.

É interessante observar que na capitania de São Vicente o navio foi muito bem recebido, sendo recepcionado, conforme conta Thomas Grigges em seu diário, pelo capitão, por oficiais do rei e por outras autoridades. Quando já estavam no Brasil, receberam a notícia sobre a “guerra” entre Portugal e Espanha pela sucessão da Coroa. D. Bernardino de Mendonza, embaixador espanhol na Inglaterra, escreve repetidamente a Felipe II comentando a viagem do Minion e recomendando medidas para evitar que tais viagens inglesas ao Brasil se repetissem.53 É significativo, a esse propósito, o seguinte trecho de uma carta de 16 de outubro de 1580:

For this reason it will be desirable in your Majesty’s interests, that orders should be given that no foreign ship should be spared, in either the Spanish or Portuguese Indies, but that every one should be sent to the bottom, and not a soul on board of them allowed to live. This will be the only way to prevent the English and French from going to those parts to plunder, for at present there is hardly an Englishman who is not talking of undertaking the voyage, so encouraged are they by Drake’s return.54

Provavelmente, antes da união ibérica o comércio da colônia com os ingleses não era visto com maus olhos pelos portugueses, do que também é testemunho a boa recepção do Minion pelas autoridades da capitania de São Vicente.

Não há nada nos documentos publicados por Hakluyt sobre a escala na Bahia, onde ocorreu uma série de problemas e desentendimentos entre a tripulação, mas o episódio está registrado no processo que se instaurou na High Court of Admiralty após a volta do navio, documentos estudados por Olga Pantaleão.55

Thomas Grigges, um dos agentes comerciais embarcados, já tinha estado na capitania de São Vicente, juntamente com o piloto Edward Cliffe, no navio comandado por John Winter, o Elisabeth, que fazia parte da frota de Francis Drake na viagem de circunavegação, mas que se desgarrou dos demais no estreito de Magalhães e voltou para a Inglaterra (Edward Cliffe é autor do relato de viagem sobre o espisódio). Grigges tinha noções de língua portuguesa – serviu de intérprete na Bahia – , e seu relato, além de narrar todos os episódios da viagem, de registrar informações úteis para a navegação, traz ainda descrições sobre a atividade comercial, o comércio do rio da Prata com o Peru, e sobre as populações indígenas de São Vicente e suas relações com os portugueses.

O Minion, comandado por Stephen Hare, tendo como piloto Edward Cliffe (que abandonou o navio na Bahia para se tornar “frade” da Companhia de Jesus, segundo seus companheiros), saiu de Harwich a 3 de novembro de 1580, chegou à ilha de São Sebastião em 14 de janeiro de 1581, onde fez escala para que alguns agentes comerciais fossem ao encontro de Whithall e de seu sogro na ilha de Santo Amaro, onde lhes entregaram cartas que deveriam ser levadas a Santos. Seguiu, então, para Santos, mas permaneceu perto da entrada do porto, em uma ilha, por uma semana, e entrou no porto em 3 de fevereiro de 1581, onde ficou até meados de junho comerciando pacificamente e carregando o navio com açúcar local. Dirigiu-se então para Salvador para comerciar, fazendo escala em São Sebastião, onde permaneceu até julho para reparos no navio, e chegou à Bahia em 19 de setembro de 1581, onde conseguiu licença de comércio concedida pelo governador, segundo afirma Bernardino de Mendonza (carta de 4 de maio de 1582).56

Na Bahia houve desentendimentos entre a tripulação e os agentes comerciais. Segundo Olga Pantaleão, “alguns agentes dos comerciantes não cuidavam dos negócios ou de providenciar os retornos para a viagem: acusação foi feita de terem eles gasto ou consumido as mercadorias a seu cargo ou de terem delas se apossado, tencionando ficar na Bahia”.57 O agente comercial Thomas Babington efetivamente ficou na Bahia, assim como alguns membros da tripulação, entre eles Abraham Cocke. O Minion chegou a anunciar publicamente que levaria para a Inglaterra mercadorias de qualquer negociante interessado, o que indica que o navio não tinha sido suficientemente carregado com as mercadorias da terra. Como observa Olga Pantaleão, “uma das razões que
prejudicaram o resultado da viagem do Minion foi a atitude dos seus próprios elementos”, e não empecilhos impostos pela administração local. No entanto, houve também desentendimentos religiosos, e ao que tudo indica partiu do bispo a ordem para que alguns ingleses fossem interrogados.

O Minion iniciou sua volta para Inglaterra em fins de janeiro de 1582, após uma troca de tiros de canhão entre o castelo da Bahia e o navio, sendo, em sua volta, instalado um processo para averiguar as irregularidades da viagem.

Edward Fenton

Em Principall Navigations, de Richard Hakluyt, encontram-se alguns documentos relativos à viagem de Edward Fenton, em 1582, planejada para atingir as então chamadas “Índias orientais” e as Molucas, mas que se deteve no Brasil e no estuário do rio da Prata: o diário de navegação do vice-almirante Luke Ward58 (significativamente reduzido na edição de 1600 de Principall Navigations), as instruções oficiais dadas a Fenton59 antes de sua partida em 9 de abril de 1582, e um “Discurso” do português Lopez Vaz60 (manuscrito obtido pelos ingleses durante viagem ao Brasil em 1587) em que são narrados os episódios da viagem de John Drake após ter abandonado a frota de Fenton. Sobre essa atribulada viagem há também outros testemunhos, publicados somente no século XX: o diário do próprio Edward Fenton (que documenta os últimos seis meses da viagem) e outros documentos editados por Eva G. R. Taylor em 1959,61 e o diário do capelão Richard Madox, editado na íntegra por Elisabeth Donno em 1976.62

Segundo E. G. R. Taylor, a viagem de Fenton, financiada pela Privy Chamber, tinha como objetivo estabelecer a primeira base comercial inglesa no Oriente. Havia também outros investidores, como o conde de Leicester, chanceler da Universidade de Oxford, que mandara seu capelão, Richard Madox, na viagem. Devido ao fracasso da missão, o episódio não atraiu a atenção de historiadores até o século XX. O único relato conhecido durante séculos, o de Luke Ward, publicado por Hakluyt, mas reduzido à metade na segunda edição de Principall Navigations, ganhou novas edições que reproduziram o texto censurado. Pelo relato do capelão Richard Madox, escrito em inglês, em latim e em linguagem cifrada, em que o autor usa pseudônimos tirados da literatura clássica para nomear os principais ‘personagens’ de seu livro, sabe-se que a tripulação desde o início rejeitou Edward Fenton, e que este logo mudou de planos, contrariando os objetivos dos investidores, intencionando fazer uma viagem pirática, e um de seus objetivos era conquistar São Vicente, no Brasil, e tornar-se rei, o que hoje parece absurdo e risível. Edward Fenton é descrito por Madox como egocêntrico, irascível, cruel e ambicioso. Ainda segundo Madox, seu plano alternativo era rumar para Santa Helena e tornar-se rei do local, fazendo dos homens da tripulação seus colonos: aí esperariam os navios portugueses vindos das Índias, tomariam posse de seus carregamentos, e os venderiam na Inglaterra. Estes são os motivos que levaram a não publicação dos documentos relativos à viagem de Fenton – o que veio a ocorrer, como foi dito, apenas do século XX –, pois a história da expansão marítima inglesa contada por ingleses como Richard Hakluyt e Samuel Purchas obviamente não estava interessada neste tipo de eventos.

O diário de Richard Madox detém-se especialmente nas intrigas entre os homens da frota e na descrição do caráter de seus principais elementos, mas contém descrições da natureza brasileira, da flora e da fauna, e também ilustrações de animais e plantas.

viagem foi marcada pelos desentendimentos entre Edward Fenton e membros da tripulação, como mercadores e seus subordinados diretos. Após a partida da Inglaterra, fizeram aguada no golfo da Guiné e passaram um longo tempo na África; em assembléia decidiram fazer a próxima parada no Brasil, seguindo para rio da Prata e para o estreito de Magalhães. Chegaram à baía de Dom Rodrigo, no atual estado de Alagoas, onde tomaram um navio espanhol que levava frades franciscanos para o rio da Prata, que lhes passaram uma série de informações e foram liberados. Entre essas informações estava a da rota comercial, por terra, entre o rio da Prata e o Peru, e a da existência de uma boa quantidade de cavalos aptos a fazer o percurso. Havia pouca provisão na frota e uma nova assembléia foi feita, ocorrendo uma série de desentendimentos sobre o que fazer. Fenton decidiu ir para São Vicente, de modo a abastecer os navios, e obrigou seus subordinados a assinarem essa decisão – não assinada por John Drake, que um mês mais tarde abandonou a frota. Nesta altura surgiram os rumores de que Fenton pretendia atacar São Vicente e tornar-se rei. Mas ao chegarem lá, os colonos anunciaram que estavam agora sob o domínio de Felipe II e proibidos de negociar com os ingleses, em represália aos recentes ataques de Drake aos navios espanhóis. No entanto, segundo Eva G. R.
Taylor, tornou-se claro de que havia a possibilidade de comércio ilegal. John Whithall visitou secretamente a frota, com a intenção de iniciar os negócios entre ingleses e colonos. No entanto, a chegada da frota de Diego Flores de Valdés, que tinha sido avisado sobre os navios ingleses fortemente armados, interrompeu as negociações.

Seguiu-se uma batalha entre as duas frotas, narrada por Pedro Sarmiento de Gamboa.63 Após a batalha, o navio de Luke Ward voltou para a Inglaterra, mas Edward Fenton seguiu para o Espírito Santo, e estabeleceu ótimas relações com o governador, e o comércio só não se realizou por conta da chegada de uma pequena embarcação portuguesa. Desistindo do Brasil, Fenton, surpreendentemente, não se dirigiu à Inglaterra, mas rumou para Newfoundland. Devido, no entanto, a problemas na navegação precisou voltar a sua terra natal. Seguiu-se a prisão dos capitães e um processo. No entanto, cinco anos depois Fenton estava no comando do Mary Rose contra a Invencível Armada.

Robert Withrington e Christopher Lister na Bahia

Em viagem organizada e financiada pelo conde de Cumberland – planejada para atingir o Pacífico, com o objetivo de saquear naus espanholas –, os capitães Robert Withrington e Christopher Lister acossaram o recôncavo baiano entre abril e junho de 1587, durante seis semanas, em uma ação francamente pirática. Richard Hakluyt, em Principall Navigations, publica o relato do comerciante John Sarracol,64 vívida e bem escrita narrativa da viagem e do agressivo ataque à Bahia, e ainda um extrato do manuscrito de Lopes Vaz sobre o episódio.65 Frei Vicente do Salvador, na História do Brasil, também narra em detalhes o ataque dos ingleses ao recôncavo e a resistência armada pelo governador da Bahia, Cristóvão de Barros, e pelo bispo D. Antônio Barreiros.

No dia 26 de junho de 1586, partiram de Gravesend o navio Red Dragon e a barca Clifford, com 200 homens. Passaram pelas canárias e pela Guiné, onde saquearam e incendiaram povoações locais. No dia 17 de novembro saíram de Serra Leoa, seguindo para o estreito de Magalhães, e no dia 2 de janeiro avistaram terra (28 graus abaixo do equador). Nas proximidades do rio da Prata apresaram duas naus portuguesas, que pertenciam ao bispo de Tucuman, a caminho do Peru – em uma delas estava o inglês Abraham Cocke (do Minion of London) –, carregadas de açúcar, geléias [marmelades] e doces [succats
ou suckets], e tomaram posse de seu carregamento e de alguns membros da tripulação. Nestes navios foi tomado o manuscrito de Lopes Vaz sobre a viagem de Fenton e John Drake, posteriormente publicado por Hakluyt. Um dos portugueses aprisionados explicou-lhes o caminho que fariam até o Peru: seguiriam nas naus até Santa Fé, no rio da Prata, onde as mercadorias passariam para pequenas barcas que iriam até Assunção, e daí seriam transportadas por cavalos, por terra, até o Peru. No dia 7 de fevereiro reuniram-se em conselho, do qual participou Sarracol, para deliberarem sobre o destino da viagem, visto não terem suprimentos e os ventos e o clima estarem desfavoráveis ao prosseguimento do destino programado, o mar do Sul [Pacífico]. Decidiram, portanto, rumar para a costa do Brasil com o objetivo de conseguir víveres, vinho e outros suprimentos. Tinham ainda o seguinte plano, segundo escreve Sarracol:

Besides, it is given us here to understand by the Portugals which we have taken, that there is no doubt but that by Gods helpe and our endevour, wee shall bee able to take the towne of Baya, at our pleasure, which if wee doe put in practise, and doe not performe it, being somewhat advised by them, they offer to loose their lives.

O plano consistia em passar alguns meses na Bahia e depois seguir viagem rumo ao estreito de Magalhães e ao Pacífico, de modo a completar o objetivo da viagem. No dia 5 de abril de 1587 aportaram no Brasil, a altura de “sixteen degrees and a tierce” (em Camamu), alguns homens desembarcaram, e em uma canoa veio um oficial português [“one of the chiefest Portugals that belonged to the place”], e ali conseguiram “beefes, hogs, water and wood at our pleasure, having almost no man able to resist us”. No dia 11 chegaram à Bahia, onde foram recebidos a tiros, e nos dias seguintes conseguiram tomar alguns navios e caravelas na baía, e receberam a visita de dois comerciantes, um holandês e outro português. Seguiram-se batalhas, em mar e terra, com portugueses e índios, e diversos outros episódios, como pilhagens nos engenhos na baía de Todos os Santos, incendiados pelos ingleses, vivamente descritos por Sarracol. Ao resolverem partir, no dia 10 de junho, Withrington considerou que não tinham condições de rumar para o estreito e que seria melhor ir para os Açores ou para as Índias orientais de forma a tentar obter os lucros que deveriam ser apresentados ao conde de Cumberland. Seguiram viagem, tencionando ir a Pernambuco, mas a 20 de junho resolveram retornar para a Inglaterra, onde chegaram em 29 de setembro de 1587, com grandes ganhos financeiros.

A viagem de Thomas Cavendish

A frustrada segunda viagem de circunavegação de Thomas Cavendish66 gerou um dos livros mais desconcertantes sobre o Brasil quinhentista, escrito pelo jovem aventureiro inglês Anthony Knivet, publicado por Samuel Purchas em 1625,67 e ainda outros testemunhos igualmente veementes, como a última carta de Thomas Cavendish68, escrita no Atlântico pouco antes de sua morte, também publicada por Purchas, e o relato de viagem de um dos integrantes da frota, John Jane,69 tripulante do navio comandado por John Davies, publicado por Richard Hakluyt na segunda edição de Principall Navigations, cujas informações contradizem as da carta de Cavendish.

O relato de Anthony Knivet é uma extensa narrativa autobiográfica sobre os quase dez anos em que o jovem inglês permaneceu no Brasil, a maior parte deles como escravo da família Correia de Sá, em que descreve suas aventuras entre índios e colonos, e suas viagens por diversas capitanias, entre elas Rio de Janeiro, São Vicente, Pernambuco e Rio Grande do Norte. No relato sobressai a visão de um inglês sobre a colônia e seus habitantes, em que a polaridade entre ingleses e ibéricos é o vetor que guia a narrativa e que traz à tona informações sobre a colônia que não estão presentes nas demais narrativas da época, como a escravidão de estrangeiros, as expedições de extermínio dos povos indígenas, as condições das prisões do Rio de Janeiro e descrições detalhadas das viagens em busca de metais preciosos.

A carta de Thomas Cavendish, publicada com cortes por Samuel Purchas70 – uma edição integral da carta foi publicada em 1975, por David B. Quinn71 –, é uma amarga justificativa do fracasso da viagem. A frota, inicialmente composta por cinco embarcações, e financiada por uma série de investidores, não ultrapassou o estreito de Magalhães, e precisou retornar à Inglaterra, tendo perdido quase todos os navios e grande parte dos homens, sendo reduzida à ruína. Como bem observou Philip Edwards:

It is for the reader to judge whether the voice we hear in the narrative is the voice of a dying man or of a man determined to die. I consider the narrative to be the last act of defiance of a defeated leader before he took his own life.72

Cavendish atribui a culpa do fracasso da viagem ao comportamento de John Davies – o grande navegador inglês que comandava a nau Desire, e que teria abandonado a frota na altura do estreito de Magalhães –, culpando também a tripulação amotinada e igualmente o mau tempo que enfrentara durante toda a viagem.

No entanto, por outros testemunhos, como os de Knivet (abandonado emi-morto por Cavendish em uma praia no litoral de São Vicente) e o de John Jane, sabe-se que a viagem foi marcada pelo autoritarismo feroz de Cavendish, cuja frota não tinha sido suficientemente abastecida e que prolongou demasiadamente sua estadia em Santos, tendo assim perdido a temporada correta para a travessia do estreito, e empreendendo a viagem em meio às piores condições.

O relato de viagem de John Jane, publicado por Samuel Purchas, concentra-se nos episódios do percurso e não se detém em descrições sobre os lugares que visitam. Toda a narrativa é construída com o propósito de responder às acusações feitas por Thomas Cavendish contra John Davies, e a provar que o navegador inglês não abandonou a frota e, portanto, não foi o responsável pela ruína da viagem.

A frota de Cavendish saiu de Plymouth a 26 de agosto de 1591, e passou pelas Canárias. Ao chegarem ao Brasil, atacaram uma nau portuguesa na altura de Cabo Frio, cujos tripulantes foram deixados na ilha Grande (denominada Placência pelos ingleses), onde saquearam as casas dos colonos. Em 25 de dezembro de 1591 atacaram, saquearam e se instalaram em Santos, sendo o assalto cometido quando grande parte da população estava na igreja, celebrando o Natal. O episódio teve grande repercussão, devido à sua violência. Os ingleses permaneceram cerca de dois meses – os mais graduados se instalaram no convento dos jesuítas – e, antes de saírem, saquearam e incendiaram a vila de São Vicente. No dia 3 de fevereiro seguiram para o estreito de Magalhães, em uma estação inadequada para a viagem, tendo enfrentado violentas tempestades e frio extremo, o que causou a morte de muitos homens, e o desgarramento da Desire, nau comandada por John Davies. Cavendish, então, decide voltar para a costa brasileira, e atacar Santos, mas, após uma batalha, seus homens são repelidos pelos habitantes locais. Resolve, então, atacar a vila de Vitória, no Espírito Santo, mas são também vencidos pelas forças locais. Parte então para a ilha de São Sebastião, onde abandona vários feridos, entre eles Anthony Knivet. Segue em direção à ilha de Santa Helena, mas não consegue atingi-la, decidindo rumar para a Inglaterra, onde o Leicester chega sem o seu comandante, morto durante a viagem.

A Desire, após se perder da frota, juntamente com a Black Pinasse, consegue atravessar o estreito de Magalhães, mas ao entrar no Pacífico enfrenta grandes tempestades, tendo a pinaça naufragado. De volta à costa brasileira, John Davies pára na ilha Grande para abastecer o navio e desembarcar os homens doentes, mas é atacado por índios e portugueses, e perde vários homens da tripulação. Chega à Irlanda em 11 de junho de 1593.

James Lancaster no Recife

Assim como John Davies, um grande nome da época de ouro da navegação inglesa, James Lancaster também é uma personagem de relevo da expansão marítima elisabetana. Comandou várias viagens à Índia, tendo sido responsável pela abertura e consolidação da rota comercial inglesa para o Índico, e foi um dos fundadores da Companhia das Índias Ocidentais. Após sua primeira e pioneira, e no entanto malsucedida, viagem à Índia (1591-1594), Lancaster comanda uma frota armada por vários comerciantes, cujo objetivo era capturar barcos espanhóis vindos da América.

Partem de Blackwall em outubro de 1594, passam pelas Canárias e pelo Cabo Verde, onde se juntam a quatro navios de Edward Fenner, capturando no caminho algumas naus espanholas. Dos tripulantes dessas embarcações, colhem a informação de que uma nau da carreira da Índia, carregada de mercadorias, encalhara no Recife, onde havia sido descarregada. Em 24 de março de 1595 atacam o Recife com uma frota de doze naus, apoderando-se da vila. Ganham o reforço de cinco embarcações francesas comandadas por Jean de Noyer, e passam um mês saqueando a vila e carregando os navios da frota. Houve vários episódios de resistência por parte das autoridades locais, especialmente de Olinda. Na última batalha, trezentos ingleses enfrentaram as forças de Olinda, quando morreram três dos principais comandantes da armada, entre eles Jean de Noyer. Após esse episódio, os ingleses partem do Recife, fazem aguada no Rio Grande do Norte, e voltam para a Inglaterra, em julho de 1595, com um enorme botim.

A empreitada foi extremamente bem sucedida e lucrativa, e Richard Hakluyt, ao publicar o relato da viagem na segunda edição de Principall Navigations (1600), resume o sucesso de Lancaster no seguinte título:

The well governed and prosperous voyage of M. James Lancaster, begun with three ships and a galley-frigat from London in October 1594, and intended for Fernambuck, the port-towne of Olinda in Brasil. In which voyage (besides the taking of nine and twenty ships and frigats) he surprized the sayd port-towne, being strongly fortified and manned; and held possession thereof thirty dayes together (notwithstanding many bolde assaults of the enemy both by land and water) and also providently defeated their dangerous and almost inevitable fire-works. Heere he found the cargazon of freight/sreight of a rich East Indian carack; which together great abundance of sugars, Brasil-wood, and cotton he brought from thence; lading there with fifteene sailes of tall ships and barks.

Richard Hawkins

Sobrinho de William Hawkins e filho de John Hawkins, participou da viagem de Francis Drake à América do Norte em 1584-85, comandou um dos navios da rainha Elisabeth contra a Invencível Armada, e em 12 de junho de 1593 partiu de Plymouth com três navios para uma viagem à América, provavelmente com o apoio da coroa. Esta viagem, que culminou com a prisão de Hawkins na América espanhola, gerou o livro The observations of sir Richard Hawkins, publicado em 1622,73 e posteriormente incluído na coletânea de Samuel Purchas em 1625.74 Redigido por volta de vinte anos após seu retorno, o livro não é um relato nos moldes dos escritos por seus contemporâneos, ou uma narrativa autobiográfica de aventuras como as de Carder e Knivet, sendo uma obra extremamente original que ao mesmo tempo descreve detalhada e objetivamente o percurso da viagem, e estende-se em longas digressões sobre os mais variados temas, geografia, navegação, hábitos dos povos que visitou, medicina, religião, zoologia, botânica, redigidas de forma elegante e culta. O caráter de Richard Hawkins era muito diferente do de Drake, Fenton ou Cavendish. Como observa C. R. Drinkwater Bethume, editor de The observations de 1847, Hawkins teve uma conduta marcada “pela humanidade e pela benevolência”, e sua elegância pode ser observada tanto na maneira como conduziu a viagem quanto em seu relato.

Hawkins chega a Santos em outubro de 1593 com grande parte da população extremamente doente devido ao escorbuto. Após curar os homens com laranjas, limões e remédios, e de ser educadamente convidado a se retirar pelas autoridades locais, passa por várias ilhas do litoral do sudeste do Brasil, onde trava relações com índios e colonos, captura alguns navios portugueses, e parte a 18 de dezembro em direção ao estreito de Magalhães, chegando ao Pacífico em 29 de março de 1594. Capturado e ferido no Chile, Hawkins se entrega, passa três anos preso no Peru, é depois enviado para a Espanha, e chega a Inglaterra em 1602, após o pagamento de um resgate.

Suas páginas sobre o Brasil são pródigas em descrições da fauna e da flora, em que mescla sua experiência pessoal com o conhecido da época sobre botânica e zoologia, citando diversos autores clássicos, e inserindo a observação das espécies tropicais no escopo do conhecimento europeu. Trata também das relações estabelecidas com os povos indígenas, colonos e portugueses, de seus hábitos alimentares, das rotas comerciais portuguesas para a África e para Potosi, e faz uma longa descrição do território, abarcando vários temas, entre eles a geografia, os principais produtos, as doenças tropicais e suas curas.

William Davies no Amazonas

Samuel Purchas publica uma pequena parte do relato do cirurgião-barbeiro londrino William Davies,75 em 1625, em Hakluytus Posthumus or Purchas his Pilgrims. O trecho, retirado da obra completa que havia sido impressa em 1614,76 relata vividamente dez semanas de viagem pelo Amazonas.

No entanto, não se tratava de uma viagem inglesa, mas italiana. Davies foi capturado na costa de Tunis por uma frota toscana, quando viajava em um navio inglês, em 1594, tendo se tornado escravo ao ser levado para Livorno. Trabalhando nas galés, fez uma viagem a bordo de uma embarcação italiana, pertencente ao duque de Florença, em 1608, pelo rio Amazonas. Quando volta à sua pátria, publica o relato de suas aventuras.

Seu relato é escrito em um estilo fluente e indica que o autor teve boa educação formal, e contém uma minuciosa descrição do clima, da flora e da fauna, além dos costumes indígenas.

Catálogo bibliográfico

I – Relatos em The principall Navigations, 1589

HAKLUYT, Richard. The principall Navigations, voiages and discoveries of the English nation, made by Sea or over Land, to the most remote and farthest distant Quarters of the earth at any time within the compasse of these 1500 yeeres: Devided into three severall parts, according to the positions of the Regions whereunto they were divided. London: George Bishop and Ralph Newberie for Christopher Barker, printer to the Queenes most excellent Maiesty, 1589.

HAKLUYT, Richard. To the right honorable sir francis walsingham knight, principall secretarie to her maiestie, chancellor of the duchie of lancaster, and one of her maiesties most honorable privie councell.

Epístola dedicatória em que Hakluyt declara os princípios do projeto editorial de The principal navigations.

_____. Richard Hakluyt to the favorable reader. Prólogo ao leitor de The principal navigations, tratando das matérias e critérios do livro.

THE OFFER of the discoverie of the West Indies by Christopher Columbus to King Henrie the seventh in the yeere 1488 the 13 of Februarie: with the Kings acceptation of the offer, and the cause whereupon he was deprived of the same, recorded in the thirteenth chapter of the historie of Don Fernand Columbus of the life and deeds of his Father Christopher Columbus. [p. 507-508]

Trecho que Hakluyt diz ter extraído do capítulo 13 da História que Fernando Colombo escreveu sobre a vida e os feitos de seu pai. Conteúdo do trecho: temendo que o rei de Castela não apoiasse seu projeto, como não apoiara o de Portugal, Cristóvão Colombo ofereceu o mesmo projeto ao rei Henrique VII da Inglaterra, para tanto enviou seu irmão Bartolomeu, que era um homem versado no mar, em mapas e matérias de cosmografia; quando Bartolomeu partiu para a Inglaterra caiu nas mãos de piratas, os quais roubaram seus bens; a embaixada, por isso, se atrasou, mas durante esse tempo Bartolomeu conseguiu fazer um mapa do mundo, que apresentou a Henrique VII, este aceitou a oferta de Colombo e mandou chamá-lo à Inglaterra; entretanto, nesse meio tempo, Colombo tinha feito sua descoberta; “because God had reserved the said offer to Castile”.

ANOTHER testimony taken out of the 60 chapter of the foresayd historie of Ferdinando Columbus, concerning the offer that Bartholomew Columbus made to king Henrie the seventh on the behalfe of his brother Christopher. [p. 509]

Trecho que Hakluyt diz ter extraído do capítulo 60 da História que Fernando Colombo escreveu sobre a vida e os feitos de seu pai. Conteúdo do trecho: voltando do descobrimento de Cuba e Jamaica, Cristóvão Colombo encontrou em Hispaniola seu irmão Bartolomeu; este voltava para Castela, com cartas do rei da Inglaterra para Colombo, quando tomou conhecimento, em Paris, através do rei da França, de que o descobrimento já se realizara.

THE VOYAGE of Sir Thomas Pert and Sebastian Cabot, about the eight yeere of King Henry the eight, which was the yeere, 1516. to Brasil, S. Domingo, and S. John de Puerto Rico. [p. 515-516. Também em HAKLUYT, 1600, p. 498-499]

Neste curto texto de Hakluyt, o Brasil é referido mas não há qualquer outra informação. Nada se conhece sobre essa viagem a não ser uma breve referência de Richard Eden e esta notícia de Hakluyt, baseada em Eden.

THE VOYAGE to Brasill, made by the worshipfull M. William Hawkins of Plimmouth, father for Sir John Hawkins knight now living, in the yeere 1530. [p. 520-521. Também em HAKLUYT, 1600, p. 700-701.]

Breve descrição de três viagens de William Hawkins ao Brasil, em que se sublinha o comércio pacífico e rendoso com os índios, e a viagem de um chefe indígena à Inglaterra, onde foi apresentado ao rei.

WHITHALL, John. A letter written to M. Richard Stapers by John Whithall from Brasill, in Santos the 26 of June. 1578 [p. 638-640. Também em

HAKLUYT, 1600, p. 701-703.]

Carta em que John Whithall, genro do senhor de engenho italiano José Adorno, descreve sua situação econômica em São Vicente, propõe a vinda de um navio da Inglaterra, promete grandes ganhos e lista as mercadorias que deveriam ser enviadas.

HODSDON, Christopher; GARRARD, Anthonie; BRAMLIE, Thomas; BIRD, John; ELKIN, William. A copie of the letters of the Adventurers for Brasill sent to John Whithall dwelling in Santos, by the Minion of
London. Ano 1580 the 24 of October in London. [p. 640-641. Também em HAKLUYT, 1600, p. 703-704]

Carta, dirigida a John Whithall, dos comerciantes ingleses responsáveis pela viagem a Santos do Minion of London, comandado por Christopher Hare, demonstrando suas intenções de comércio pacífico e lucrativo com o Brasil. No sumário, The same letter ansewered by divers merchants of London, and sent to him in the Minion of London.

GRIGGES, Thomas. Certaine notes of the voyage to Brasill with the Minion of London aforesaid, in the yeere 1580, written Thomas Grigges Purser of the said shippe. [p. 641-643. Também em HAKLUYT, 1600, p. 704- 706]

Diário de bordo de Thomas Grigges, ou Grigs, sobre a viajem do Minion of London ao Brasil, sob o comando de Christopher Hare. Indicado no sumário como The voyage of Christopher Hare, with the Minion of London to Brasil. An. 1580.

INSTRUCTIONS given by the honourable, the Lordes of the Counsell, to Edward Fenton Esquire, for the order to be observed in the voyage recommended to him for the East Indies and Cathay. April 9. 1582. [p. 644-647]

Instruções dadas a Edward Fenton para a viagem planejada à Índia e à China, mas realizada ao Brasil. WARD, Luke. The voyage intended towards Chine, wherein M. Edward Fenton was appointend Generall, written by master Luke Ward his Viceadmirall, and Captaine of the Edward Bonaventure, begun Anno Dom. 1582. [p. 647-672. Também em HAKLUYT, 1600, p. 757-768]

Diário de navegação do vice-almirante Luke Ward sobre a viagem de Edward Fenton ao Brasil. No sumário, indicado como The voyage of Edward Fenton, and Luke Warde, as farre as 34 degrees of southerlie latitude. An. 1582.

VAZ, Lopes. A extract out of the discourse of one Lopez a Spaniard before spoken of, touching the foresayd fight of M. Fenton whith the spanishs ships together with a report with the proceeding of M. John Drake after his departing from him. [p. 673-674. Também em HAKLUYT, 1600, p. 726-728]

Relato sobre os confrontos das frotas de Edward Fenton e do espanhol Diego Flores de Valdés, e breve narrativa da viagem do navio comandado por John Drake após ter se separado da frota de Fenton. Segundo Purchas, John Drake esteve quinze meses entre os índios no Brasil. Este relato é parte da relação de Lopes Vaz, que se encontra no manuscrito 100 da coleção BM Londsdowne, atualmente na British Library. No sumário, indicado como The voyage of John Drake, after his separation from Master fenton, at the land of Sancta Catelina, to the river of Plate. A. 1583. Em Hakluyt (1600), Lopez Vaz é apontado como português, e não espanhol.

SARRACOL, John. The voiage set out by the right honorable the Earl of Cumberland, in the yeere 1586, intended for the South Sea, but performed no farther then the latitude of 44. deg. To the south of the Equinoctiall, written by John Sarracoll Merchant in the same voyage. [p. 793-803. Também em HAKLUYT, 1600, p. 769-778]

Relato do comerciante John Sarracol sobre a viagem de Robert Withrington e Christopher Lister ao Brasil, em uma frota armada pelo conde de Cumberland. O manuscrito em que Hakluyt se baseou é o ms. 100 da coleção BM Londsdowne, atualmente na British Library, cujo título original é “Capt Wytheringtons’s and capt. Lyster’s voyage to the south seas, in the Red Dragon and the bark Clifford, at the
cost of the Earl of Cumberland, june 26, 1586. Compiled by John Saracould, and copied for the use of Lord Burghley”. As críticas de Sarracol a Withrington foram suprimidas na versão publicada por Hakluyt. No sumário, indicado como The voyage or Robert Withrington, and Christopher Lister, as farre as 44 degrees to the south of the Equinoctiall, set out by the right honorable the Earle of Cumberland. A. 1586.

A VERY exact and perfect description of the distances from place to place, from the river of plate, til you come to Pette Guaras, northward, and beginning againe at the river of Plate, til you come to the ende of the Streights of Magellan, Southwards, with the degrees of latitude, wherein every place standeth. [p. 803-808]

Roteiro detalhado de navegação da costa brasileira desde o Rio Grande do Norte (região dos petiguares) até o sul do país, também intitulado “braziliam distances”.

CAVENDISH, Thomas. A letter of Master Thomas Candish to the right honorable the Lord Chamberlaine, one of her Maiesties most honorable privie Counsell touching the successe of his voyage about the world. [p. 808]

Carta de Thomas Cavendish relatando o sucesso de sua viagem de circunavegação. N.H. The worthy and famous voyage os Master Thomas Candishe made round about the globe of the earth, in the space of two yeeres ande lesse then two monethes, begun in the yeere 1586. [p. 809-813]

Relato sobre a próspera viagem de circunavegação de Thomas Cavendish, escrito por N. H.

II – Relatos em The principall navigations, 1600

HAKLUYT, Richard. The third and last volume of the voyages, navigations, traffiques, and discoveries of the English Nation, and in some few places, where they have not been, of strangers, performed within and before the time of these hundred yeeres, to all parts of the Newfound world of America, or the West Indies, from 73. degrees of Northerly to 57. Southerly latitude. Collected by Richard Hakluyt Preacher. London: George Bishop, Ralfe Newberie, and Robert Barker, 1600.

HAKLUYT, Richard. A briefe relation of the two fundry voyages made by the worshipful M. William Hawkins of Plymmouth, father to sir John Hawkins knight, late treasurer of her maiesties navie, in the yeere 1530 and 1532. [p. 700-701]

Descrição mais detalhada e extensa das viagens de William Hawkins ao Brasil do que a publicada em 1598.

_____. An ancient voyage of M. Robert Reniger and M. Thomas Borey to Brasil in the yeere of our Lord 1540. [p. 701] Registro de que o comerciante inglês Anthony Garrard informou a realização de uma
“commodious and gainefull” viagem ao Brasil, por comerciantes de Southampton.

A VOYAGE of one Pudsey to Baya in Brasil anno 1542. [p. 701]

Notícia informando que Edward Cotton, de Southampton, relatou que John Pudsey, de Southampton, fizera uma viagem à “Baya de Todos los Santos, the principall towne of all Brasil” e perto dali construíra um forte.

SOARES, Francisco. A letter of Francis Suarez to his brother Diego Suarez dwelling in Lisbon, written from the river of Jenero in Brasil in June 1596, concerning an exceeding rich trade newly begunne betweene that place and Peru, by the way of the river of Plate, with small barks of 30 or 40 tunnes. [p. 706-708]

Carta escrita por um comerciante português, no Rio de Janeiro, sobre as expectativas de grandes lucros na venda de mercadorias, em que há referências à rota comercial entre o Brasil e o Peru através do rio da Prata. No sumário, a carta é indicada como “an intercepted letter...”

THE WELL governed and prosperous voyage of M. James Lancaster, begun with three ships and a galley-frigat from London in October 1594, and intended for Fernambuck, the port-towne of Olinda in Brasil. In which voyage (besides the taking of nine and twenty ships and frigats) he surprized the sayd port-towne, being strongly fortified and manned; and held possession thereof thirty dayes together (notwithstanding many bolde assaults of the enemy both by land and water) and also providently defeated their dangerous and almost inevitable fire-works. Heere he found the cargazon of freight of a rich East Indian carack; which together great abundance of sugars, Brasil-wood, and cotton he brought from thence; landing there with fifteene sailes of tall ships and barks. [p. 708-715]

Relato sobre a viagem de James Lancaster ao Brasil, armada por comerciantes ingleses e marcada por atos de pirataria como a tomada e o saque do porto de Recife.

CARVALHO, Feliciano C. A speciall letter written from Feliciano Cieça de Carvalho the Governour of Paraiva in the most Northerne part of Brasil, 1597 to Philip the second king of Spaine, answering his desire touching the conquest of Rio Grande, with the relation of the besieging of the castle of Cabodelo by the Frenchmen, and of the discoverie of a rich silver mine and diverse other important matters. [p. 716-718]

Carta de Feliciano Coelho de Carvalho, governador da capitania da Paraíba, sobre a conquista da capitania do Rio Grande aos índios aliados dos franceses, e outros assuntos. Indicada no sumário como “an intercepted letter of...”

YORKS, John. A special note concerning the currents of the sea betweene the Cape of Buena Esperança and the coast of Brasilia, given by a French Pilot to sir John Yorks knight, before Sebastian Cabote; which pilot had frequented the coasts of Brasilia eighteene voyages. [p. 719]

Guia náutico sobre as correntes entre o cabo da Boa Esperança e o Brasil, fornecido por um piloto francês.

A RUTTIER or course to be kept for him that will sayle from Cabo Verde to the coast of Brasil, and all along the coast of Brasil unto the river of Plate; and namely first from Cabo Verde to Fernambuck. [p. 719-723]

Roteiro de navegação do Cabo Verde à costa do Brasil e ao rio da Prata. A REPORT of a voyage of two Englishmen in the company of Sebastian Cabota, intended for the Malucos by the Streights of Magellan, but performed onely to the river of Plate in April 1527. Taken out of the information of M. Robert Thorne to Doctor Ley Ambassador for King Henry the eight, to Charles the Emperour, touching the discovery of the Malucos by North. [p. 724-725]

Reporta uma viagem de dois ingleses (Roger Barlow e Hugh Latimer) da tripulação de Sebastião Caboto ao rio da Prata em 1527, e especula sobre questões de “cosmografia”, especialmente sobre a tentativa inglesa de localização da terra “das especiarias” da coroa portuguesa. Texto elaborado a partir de uma carta de Robert Thorne e provavelmente também a partir de “The book made by the worshipful Master Robert Thorne in Anno 1527”, manuscrito 100 da coleção Londsdowne, atualmente na British Library.
Um dos integrantes dessa viagem, na verdade realizada em 1526, Roger Barlow escreveu a obra A brief summe of geography, em que há uma descrição detalhada da flora e fauna brasileiras e dos costumes indígenas. Há mais dois registros de participantes da viagem: uma carta do francês Louis Ramirez e uma obra geográfica de Alonso de Santa Cruz.

VAZ, Lopes. An extract of the discourse of one Lopez Vaz a Portugal, touching the sight of M. Fenton with the Spanish ships, with a report of the proceeding of M. John Drake after his departing from him to the river of Plate. [p. 726-728]

Breve relato sobre o confronto naval entre Edward Fenton e Diego Flores de Valdés, e sobre a viagem de John Drake, integrante da frota de Fenton. Segundo item sob o título geral Two voyages of certaine englishmen to the river of Plate situate in 35 degrees of southerly latitude: together with an exact ruttier and description thereof, and of all the maine branches, so faire as they are navigable with small barkes. By which river the Spaniards of late yeeres have frequented an exceeding rich trade to and from the Peru, and the mines of Potossi, as also to Chili, and other places.
A RUTTIER which declareth the situation of the coast of Brasil from the Isle of Santa Catelina unto the mouth of the river of Plata, and all along up within the sayd river, and what armes and mouthes it hath to enter into it, as farre as it is navigable with small barks. [p. 728-730]

Roteiro de navegação da ilha de Santa Catarina ao rio da Prata, e ao longo do rio. THE FAMOUS voyage of sir Francis Drake into the South sea, and therhence about the whole Globe of earth, begun in the yeere of our Lord 1577. [p. 730-742]

Breve referência ao Brasil: aproximam-se da costa brasileira, a altura de 33 graus, em 5 de abril, quando os “selvagens” os avistaram “they made upon the coast great fires for a sacrifice (as we learned) to the devils, about whith they use comunications”.

SILVA, Nuno da. The relation of a voyage made by a pilot called Nuno da Silva for the Vice-roy of new Spaine, the 20 of may, in the yeere of our lord 1579, in the citie of Mexico, from whence it was send to the Vice-roy of Portugal Indian, wherein is set downe the course and actions passed in the Voyage of sir Francis Drake that tooke the aforesaid Nuno da Silva at S. Iago one of the islands of Cabo Verde, and carried him along with him through the Streights of Magellan, to the haven of Guatalco in new Spaine, where he let him go againe. [p. 742-748]

Relato do piloto português Nuno da Silva sobre sua viagem com Francis Drake em 1578. Breve referência ao Brasil: aproximaram-se da costa a 1° de abril de 1578, na altura de 30 graus, onde pretendiam fazer aguada, mas não desembarcaram e daí partiram para o estreito.

CLIFFE, Edward. The voyage of M. John Winter into the South Sea by the streight of Magellan, in consort with M. Francis Drake, begun in the yeere 1577. By which streight also returned safely into England the second June 1579. Contrary to the false reports of the Spaniards which gave out that the said passage was not repasseable. Written by Edward Cliffe mariner. [p. 748-753]

Breve referência ao Brasil. Viagem de John Winter, que acompanhou parte da circunavegação de Francis Drake.

MAGOTS, William. A briefe relation of a voyage of the Delight a ship of Bristoll one of the consorts of M. John Chidley esquire and M. Paul Wheele, made unto the Straight of Magellan with divers accidents that happened unto the company during their 6 weekes abode there: begun in the yeere 1589. Written by. W. Magoths. [p. 839-840]

Tendo como objetivo atingir o Chile, a frota atravessa o estreito de Magalhães mas é obrigada a voltar. Entra em choque com um navio português e vai até a ilha de São Sebastião.

VAZ, Lopes. A discourse of the West Indies and South sea written by Lopez Vaz a Portugal, borne in the citie of Elvas, continued unto the yere 1587. Wherein among divers rare things not hitherto delivered by any other writer, certaine voyages of our Englishmen are truely reported: which was intercepted with the author thereof at the river of plate, by Captaine Withrington and Captaine Christopher Lister, in the fleete set foorth by the right honorable the Earle of Cumberland for the South Sea in the yeere 1586. [p. 778-802]

Crônica histórica do piloto português Lopez Vaz, interceptado por Withrington e Lister no rio da Prata, sobre os ataques de Francis Drake, a política do rei espanhol diante da ameaça inglesa, e vários episódios da presença espanhola na América. Há referências ao Brasil (p. 786-788 e p. 794-796), à viagem de Withrington e Lister, a Diego Flores de Valdés e a John Drake. Na edição de 1598, Lopez Vaz é identificado como um espanhol. Informação corrigida na edição de 1600.

PRETTY, Francis. The admirable and prosperous Voyage of the worshipfull Master Thomas Candish of Trimley in the Countie of Suffolke Esquire, into the South sea, and from thence round about the circunference of the whole earth, begun in the yeere of our Lord 1586, and finished 1588. Written by Master Francis Pretty lately Ey in Suffolke, a Gentleman employed in the same action. [p. 803-824]

Referências a São Vicente, a Christopher Hare e ao Minion of London, e a John Whithall, em um curto trecho sobre o Brasil.

FULLER, Thomas. Certeine rare and special notes most proply belonging to the voyage of M. Thomas Candish next before described; concerning the heights, soudings/foundings, lyings of lands, distances of the places, and their abode in them, as also the places of their harbour and anckering, and the depths of the same, with the observation of the windes on severall coastes: written by M. Thomas Fuller of Ipswich, who was Master in The Desire of M. Thomas Candish in his foresaid prosperous voyage about the world. [p. 825–834]

Roteiro de navegação dividido em três seções: 1) A note of the heights of certaine places from the coast of Brasil to the South Sea and Soundings the coast of Brasil; 2) A note of our ime spent in sailing betweene certaine places out of England [com referências ao Brasil]; e 3) A note of our ankering in those places where we arrived after our departure from England 1586 [com referências ao Brasil].

JANE, John. The last voyage made by the worshipful M. Thomas Candish esquire, intended for the South sea, the Philipinas, and the coast of China, with 3 tall ships, and two barks; Written by M. John Jane, a man of good observation, imployed in the same, and many others voyages. [p. 842- 852]

Relato de um integrante do Desire, comandando por John Davis, sobre a viagem de Thomas Cavendish ao Brasil, em 1592, cujas informações contradizem as apresentadas por Cavendish em sua carta. Consta, na p. 845, o subtítulo The testemonial of the companie of the Desire touching their losing of their Generall, which appeareth to have beene utterly against their meanings.

III – Relatos em Hakluytus Posthumus, 1625

PURCHAS, Samuel. Hakluytus Posthumus or Purchas his pilgrimes in five bookes. The second part. London: William Stansby for Henrie Fetherstone, 1625.

BATTELL, Andrew. The strange adventures of Andrew Battell of Leigh in Essex, sent by the Portugals prisioner to Angola, who lived there, and in the adioyning [sic] regions, neere eighteen yeeres. [p. 970-985]

Andrew Battell foi aprisionado pelos portugueses no Brasil e enviado para Angola. No relato, breves referências à ilha Grande, à ilha de São Sebastião e ao Rio de Janeiro.

PURCHAS, Samuel. Hakluytus Posthumus or Purchas his pilgrimes in five bookes. The fourth part. London: William Stansby for Henrie Fetherstone, 1625.

PURCHAS, Samuel. To the most reverend father in God, George, Lord. Archb. of Canterburie His grace, primate of all England and Metropolitan, one of His Maiesties most Honorable Privie Councell, His very good Lord. [p. 3-5]

Epístola dedicatória, em que Purchas louva a expansão marítima elisabetana.

A BRIEFE relation of severall voyages, undertaken and performed by the Right Honorable, George, Earl of Cumberland, in his owne person, or at his owne charge, and by his direction: collected out of the Relations and Journals of credible persons Actors therein. [p. 1141-1149]

Relação de várias viagens empreendidas pelo conde de Cumberland, entre elas a de 1585, com breve passagem pelo Brasil (altura 30 graus e 40 minutos). Temas abordados: resgate, a um barco português, de Abraham Cock of Leigh “married in that country”; referências à estada de John Drake entre os índios, à cidade da Bahia onde tomaram posse dos barcos no porto e de suas mercadorias, à viagem de 1589 com Christopher Lister; referência a dois navios brasileiros carregados de açúcar nos Açores, onde foram apreendidos; na viagem de 1593, referência a um piloto português trabalhando para os ingleses.

CUMBERLAND, conde de. The voyage to Saint John of Porto Rico, by the right Honorable, George, Earl of Cumberland, written by himselfe. [p. 1150-1154]

Referências ao Brasil, especialmente a Pernambuco, e ao emprego de pilotos portugueses em viagem realizada em 1598.

THE FIRST voyages made to divers parts of America by englishmen, sir Sebastian Cabot, sir Tho. Pert. also sir John Hawkins, and sir Francis Drake, and many others, collected briefly out of master Candem, master Hakluyt, and others writers. [p. 1177-1179]

Breve relação das primeiras viagens inglesas à América, em que Purchas defende que Sebastião Caboto, “um inglês”, foi o verdadeiro descobridor do continente.

A BRIEF histoire of sir Francis Drake voyages. [p. 1179-1186]

Relato em que há uma brevíssima referência ao Brasil. A BRIEFE recitall or nominations of souldiers, other englishmens voyages related at large in the printed works of master Hakluyt. [p. 1186-1187]

Breve relação de viagens publicadas na coleção de Hakluyt, entre elas “sir James Lancaster taking of Fernambuc”.

CARDER, Peter. The relations of Peter Carder, of Saint Verian in Cornwall, within seven miles of Falmouth, wich went with sir Francis Drake in his voyage about the world, begun 1577. who with seven others in an open pinasse or shallop of five tuns, with eight oares was separeted from his generall by soule weather in the south sea, in october, An. 1578. who returning by the straites of Magellan toward Brasill were all cast away, save this one only afore named, who came into England nine yeeres after miraculously, having escaped many strange dangers, as well among divers savages as christians. [p. 1187-1190]

Narrativa de Peter Carder, integrante da frota de Francis Drake, sobre sua estada de nove anos no Brasil. Afirma Purchas: “but the strange fortunes of Peter Carder (not hitherto published) compell me to take speciall notice thereof, which himselfe hath thus related”.

PURCHAS, Samuel. To the reader. [p. 1190-1192]

Prólogo sobre os relatos de Thomas Cavendish e Anthony Knivet.

CAVENDISH, Thomas. Master Thomas Candish his discourse of his fatall and disastrous voyage towards the south sea, with his many disaventures in the Magellan Straits and other places; writeen with his own hand to sir Tristam Gorges his executor. [p. 1192-1202]

Carta de Thomas Cavendish, escrita no Atlântico, na volta de sua malograda viagem de 1592, em que expõe os motivos do fracasso da expedição.

KNIVET, Anthony. The admirable adventures and strange fortunes of master Antonie Knivet, wich went with Master Thomas Candish in his second voyage to the south sea. 1591. [p. 1201-1242]

Narrativa das aventuras vividas por Anthony Knivet, integrante da frota de Thomas Cavendish, durante os dez anos que passou no Brasil como escravo da família Correia de Sá.

TURNER, Thomas. Relations of Master Thomas Turner who lived the best part of two yeeres in Brasil, which I received of him in conference touching his travels. [p. 1243]

Companheiro de Andrew Battell, Thomas Turner, nesta breve relação, descreve a fauna brasileira, os costumes dos índios e as relações comerciais entre Brasil e Angola, especialmente o tráfico de escravos.

DAVIES, William. A description and discovery of the river of Amazons, by Willian Davies barber surgeon of London. [p. 1287-1288]

Relato da viagem de dez semanas pelo rio Amazonas, em 1608; descrição da terra, flora, fauna e dos costumes indígenas.

PURCHAS, Samuel. Voyages to and about the southerne America with many marine observations and discourses of those seas and lands, by englishmen and others. [p. 1289]

Prólogo à tradução inglesa do livro do padre Fernão Cardim.

HAWKINS, Richard. The observations of sir Richard Hawkins, Knight, in his voyage into the south sea. An. Dom. 1593 once before published, now reviewed and corrected by a written copie, illustraded with notes, and in divers places abbreviated. [p. 1367-1415]

Relato de viagem em que há uma pormenorizada descrição da flora, fauna, gente e território brasileiros.

FELIPE II. El rey. [p. 1417]

Carta do rei Felipe II de Espanha sobre a proibição de estrangeiros circularem em terras da coroa espanhola.

VAZ, Lopes. The histoire of Lopez Vaz a Portugall (taken by Captaine Withrington at the River of Plate, Anno 1586 with this discourse about him), touching american places, discoveries and occurents, abridged. [p. 1432]

Crônica histórica do piloto português Lopez Vaz, interceptado por Withrington e Lister no rio da Prata, sobre os ataques de Francis Drake, a política do rei espanhol diante da ameaça inglesa, vários episódios da presença espanhola na América. Há referências ao Brasil, à viagem de Withrington e Lister, a Diego Flores de Valdés e a John Drake.

IV – Relatos em Purchas his pilgrimage, 1626

PURCHAS, Samuel. Purchas his pilgrimage; or relation of the world and the religions observed in all ages and places discovered from the creation unto this present. London: William Stansby, 1626.
No capítulo IV, Of Brasil, reúnem-se quatro seções escritas por Samuel Purchas a partir dos relatos originais que possuía:

I – The discoverie and relations thereof by Maffæus, etc.
II – More full relations by Sradius, Lerius and Peter Carder.
III – Most ample relations of the brasilian nations, and customes by Master Anthony Knivet.
IV – Of the strange creatures in Brasile

No capítulo V, Of the customes and rites of the brasilians:

I – Of their warres and man eating, and of the divel torturing them.
II – Of their priestes or magicians
III – Of other rites, and a new Mungrell [...] amongst them.

V - Outros relatos e edições

BARLOW, Roger. A brief summe of geographie. Edited with an introduction and notes by Eva G. R. Taylor. Hakluyt Society, 2nd Series, LXIX, 1932. p. 148-55

Primeira obra geográfica inglesa no período da expansão marítima. Relato sobre a viagem ao Brasil de Sebastião Caboto em 1526 escrita por Roger Barlow, com descrição da bacia do Paraná, da flora, da fauna e dos costumes indígenas.

DAVIES, William. True Relation of the Travailes and Most Miserable Captivitie. London: Thomas Snodham for Nicholas Bourne, 1614.

Relato da viagem do cirugião inglês William Davies, em que há um trecho sobre a expedição de dez semanas pelo rio Amazonas (trecho publicado por Samuel Purchas em 1625).

FENTON , Edward. The troublesome voyage of capitain Edward Fenton 1582-1583. Ed. Eva G. R. Taylor. Cambridge: Cambridge University Press, 1959.

Inclui dois diários privados, algumas cartas pessoais e o diário marítimo de Edward Fenton.

HAWKINS, Richard. The observations of Sir Richard Hawkins Knight, in his voyage into the South Sea. Anno Domini 1593. London: I. D. for John Jaggard, 1622.

Livro em que Richard Hawkins relata sua viagem à América, iniciada em 1593, com um longo trecho sobre sua passagem pelo Brasil.

MADOX, Richard. An Elizabethan in 1582: The Diary of Richard Madox, Fellow of All Souls. Ed. Elizabeth Donno. London: Cambridge UP for Hakluyt Society, 1976.

Diário do capelão Richard Madox, participante da viagem de Edward Fenton ao Brasil em 1582; contém ilustrações da fauna e da flora brasileiras.

VI - Outras fontes

HAKLUYT, Richard. Divers voyages touching the discoverie of America. London: Thomas Woodcocke, 1582.

Trecho sobre o Brasil na epístola dedicatória.

MARSDEN, Reginald G. “Voyage of the Barbara of London to Brazil in 1540.” English Historical Review, XXIV, p. 98, 1909.

Inclui o relato de John Bridges sobre a viagem.

______. “Voyage of the Barbara to Brazil, anno 1540.” Naval Miscelany, II, Navy Records Society, 1912.

Sobre a viagem do Barbara of London, com o comandante John Phillips, 1540.

Cronologia das viagens

1526 – Sebastião Caboto
1530 – William Hawkins
1532 – William Hawkins
1540 – Robert Reniger e Thomas Borey
1540 – Barbara of London / John Phillips
1542 – John Pudsey
1577 – Francis Drake
1580 – Minion of London
1582 – Edward Fenton
1583 – John Drake
1585 – Conde de Cumberland
1586 – Robert Withrington e Christopher Lister
1586 – Thomas Cavendish
1589 – Delight / John Chidley
1589 – Abraham Cocke
1591 – Thomas Cavendish
1593 – Richard Hawkins
1594 – James Lancaster
1608 – William Davies

Quadro de Viagens e Relatos

Relação dos Autores

BARLOW, Roger
BATTELL, Andrew
BIRD, John
BRAMLIE, Thomas
BRIDGES, John
CARDER, Peter
CARVALHO, Feliciano C.
CAVENDISH, Thomas
CLIFFE, Edward
CUMBERLAND, conde de
DAVIES, William
ELKIN, William
FENTON, Edward
FULLER, Thomas
GARRARD, Anthony
GRIGGES, Thomas
HAKLUYT, Richard
HAWKINS, Richard
HODSDON, Christopher
JANE, John
KNIVET, Anthony
MADDOX, Richard
MAGOTS, William
PRETTY, Francis
PURCHAS, Samuel
SARRACOL, John
SILVA, Nuno da
SOARES, Francisco
TURNER, Thomas
VAZ, Lopes
WARD, Luke
WHITHALL, John
YORKS, John

Bibliografia

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NOTAS

1. Essa observação partiu da pesquisa feita para uma edição moderna comentada (As incríveis aventuras e estranhos infortúnios de Anthony Knivet. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.) de The admirable adventures and strange fortunes of Master Antonie Knivet (PURCHAS, 1625).

2. “Eu bem posso adicionar esse jesuíta às viagens inglesas, sendo ele um prisioneiro e um butim inglês”. Fernão Cardim e seu manuscrito haviam sido capturados, em uma viagem do Brasil para Roma, pelo inglês Francis Cooke, em 1601.

3. Cf. ARMITAGE, David. The ideological origins of the Bristish empire. Cambridge: Cambridge University Press, 2000; KUPPERMAN, Karen Ordahl (ed.). America in European consciousness, 1493-1750. Chapel Hill: The University of North Carolina Press, 1995; SCANLAN, Thomas. Colonial writting and the new world 1583-1671. Cambridge: Cambridge University Press, 1999.

4. Carta ao Dodge e ao senado de Veneza, de 21 de dezembro de 1585. Calendar of State Papers Relating to English Affairs in the Archives of Venice, Volume 8: 1581-1591 (1894), pp. 126-128. URL: http://www.british-history.ac.uk. Data de acesso: 10 out. 2008.

5. A primeira edição foi impressa por ordem da Real Academia das Sciencias de Lisboa, em 1825, na Colecção de Notícias para a História e Geografia das Nações Ultramarinas, seguida pela edição de Varnhagem, de 1851, na Revista do Instituto Histórico e Geographico do Brasil.

6. Foi publicado pela primeira vez na Inglaterra, em 1625, por Samuel Purchas, em Purchas his Pilgrimes. A primeira edição em português é de 1925, impressa o Rio de Janeiro, seguida por uma edição em 1933.

7. Foi publicado por Henri Ternaux, em francês, em 1837, na coleção Voyage, relations et mémoires. Primeiras edições em português em 1858, pela Real Academia das Sciencias, em Lisboa, e pela Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, tomo 21.

8. Primeira edição em português na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, em 1889.

9. Primeira tradução para o português, em 1892, na Revista Trimensal do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

10 “Narração da viagem, que nos annos de 1591 e seguintes, fez Antonio Knivet da Inglaterra ao Mar do Sul, em companhia de Thomas Cavendish.” Revista Trimensal do Instituto Histórico Geographico e Ethnographico do Brasil, Rio de Janeiro, tomo XLI, parte primeira, 1878.

11 KNIVET, Anthony. Aanmerkelyke reys [...] van Anthony Knivet, gedaan uyt Engelland na de Zuyd-Zee, met Thomas Candish, anno 1591 en de volgende jaren. Leiden: P. Vander Aa, 1706.

12. “A description and discovery of the river Amazons, by William Davies barber surgeon of London”, in Hakluytus Posthumus or Purchas his pilgrimes in five bookes, livro IV, Londres, Impresso por William Stansby para Henrie Fetherstone, 1625.

13. “The observations of Sir Richard Hawkins Knight, in his voyage into the South Sea. Anno Domini 1593”, in Hakluytus Posthumus or Purchas his pilgrimes in five bookes, livro IV, 1625.

14. “The relations of Peter Carder [...], which went with Sir Francis in his voyage about the world, begun 1577 [...] who returning by the Straits of Magellan toward Brasill, were cast away [...], who came into England nine yeeres after miraculously, having escaped many strange danger, as well among divers savages as christians”, in Hakluytus Posthumus or Purchas his pilgrimes in five bookes, livro IV, 1625.

15. Primeira tradução em português do livro de Knivet foi publicada na Revista Trimensal do Instituto Histórico Geographico e Ethnographico do Brasil, em 1878.

16. Apud MINCHINTON, W. R. “Brazil 1530-1580: an English View.” Revista de Ciências do Homem da Universidade de Lourenço Marques, Lourenço Marques, v. IV, 1971. p. 218.

17. “The offer of the discoverie of the West Indies by Christopher Columbus to King Henrie the seventh in the yeere 1488 the 13 of Februarie: with the Kings acceptation of the offer, and the cause whereupon he was deprived of the same, recorded in the thirteenth chapter of the historie of Don Fernand Columbus of the life and deeds of his Father Christopher Columbus” e “Another testimony taken out of the 60 chapter of the foresayd historie of Ferdinando Columbus, concerning the offer that Bartholomew Columbus made to king Henrie the seventh on the behalfe of his brother Christopher”.

18. Na verdade a descoberta foi feita pelo Giovanni Caboto, pai de Sebastião, que talvez tenha também participado da viagem.

19. “Sir Sebastian Cabota wee have alreadie nentioned in the former Booke, as a great Discoverer of that, which most justly should have beene called Columbina, and great deale better might have beene stiled Cabotiana then America, neither Vesputius nor Columbus having discovered halfe so much of the Continent of the new World North and South as he (yea, the Continent was discouvered by him, when Columbus had yet but viewed the Ilands)”. Purchas (1625), vol. 4, p. 1157.

20. Richard Eden, em The decades of the newe worlde or west India (1555), também atesta a nacionalidade inglesa de Sebastião Caboto, que a certa altura de sua vida pediu a nacionalidade veneziana: “Sebastian Cabote tould me that he was borne in Brystowe, and that at iiij. yeare ould he was carried with his father to Venice, and so returned agayne into England after certayne years, whereby he was thought to have been born in Venice”.

21. Cf. KRAUEL, Blanca. “Events surrounding Thomas Malliard’s will, an English merchant in Seville, (1522-1523).” Proceeding of the II Conference of SEDERI, 1996, pp. 157-165. Comerciantes ingleses forneceram mercadorias para frotas comerciais com destino a Santo Domingo.

22. Cf. TAYLOR, E. G. R. Introdução à A brief summe of Geographie, de Roger Barlow.

23. MINCHINTON (op. cit.).

24. In Introdução a A brief summe of Geographie, de Roger Barlow.

25. Um exemplo é a nota espanhola, não assinada, de 30 de junho de 1586: “As I have already advised, there are seven well found ships here bound for the coast of Brazil, amongst which is a barque of 60 tons belonging to Don Antonio”. Calendar of State Papers, Spain (Simancas): Volume 3, 1580-1586 (1896), pp. 583-589. URL: http://www. british-history.ac.uk. Data de acesso: 10 out. 2008. Citaremos os documentos espanhóis em inglês, reproduzindo as versões a que tivemos acesso publicadas no site indicado.

26. Carta de 11 de julho de 1582. Calendar of State Papers, Spain (Simancas): Volume 3, 1580-1586 (1896), pp. 382-394. URL: www.british-history.ac.uk. Data de acesso: 10 out. 2008.

27. Carta de 10 de novembro de 1582. Calendar of State Papers, Spain (Simancas): Volume 3, 1580-1586 (1896), pp. 405-420. URL: www.british-history.ac.uk. Data de acesso: 9 out. 2008.

28. Cf. GUEDES, Max Justo in Historia Naval Brasileira, tomo II, pp. 496-497. O Regimento ordenava que o governador construísse “por conta de minha fazenda”, vinte quatro galeotas para que pudessem “continuamente andar goardando a costa da bahia atee a praiba”, e instava os donos de engenho a ajudarem o policiamento naval “com mantimentos necessarios para os soldados, marinheiros e chusma que ouverem de andar nestas quoatro embarcaçoens”. O Regimento ordenava ainda que os donatários das capitanias, ao perceberem a presença de corsários, informassem todos os dados sobre as frotas estrangeiras ao Porto da Bahia para que fosse enviada uma armada para combater os invasores. Há ainda um alvará de 30 de junho de 1592 que criava a Casa e o Direito do Consulado, em Lisboa, de forma a proteger a navegação e o comércio marítimo português, devido às “muitas perdas que recebem no mar nos roubos dos corsários”. Cf.História Naval Brasileira, tomo II, p. 500.

29. Calendar of State Papers, Spain (Simancas): Volume 3, 1580-1586 (1896), pp. 52-63. URL: http://www.british-history.ac.uk. Data de acesso: 10 out. 2008.

30. Destacam-se aqui as principais viagens e narrativas conhecidas de ingleses no Brasil. Para a relação completa conferir o “Quadro de viagens e relatos” na página 57.

31. The book of Robert Thorne, 1527.

32. Royal MSS. 18. B. xxviii, British Museum. Editado por Eva G. R. Taylor, em 1932, com o título A brief summe of geographie by Roger Barlow.

33. “Lettre du Louis Ramirez sur le voyage de Sebastien Cabot en rio de La Plata, traduite du manuscrit inédit de la bibliotheque de M. Ternaux-Compans.” Nouvelles annales de voyages et sciences géographiques, vol 3, 1843, pp. 39-73.

34. Há muitas bestas selvagens e veados e pássaros selvagens e porcos monteses, e diversas outras estranhas bestas de boa carne e bom sabor, e muita quantidade de pássaros como papagaios de diversos tipos, grandes perdizes, pavões, patos e garças e outros diversos tipos de estranhos pássaros, e muita quantidade de peixes que eles matam com flechas na água, que para descrever as estranhas castas de peixes que há nesta costa e as estranhas bestas e pássaros que habitam a terra seria um tal trabalho que renderia um outro livro.

35. Cf. História Naval Brasileira, Primeiro Volume, Tomo I, “A expedição de Sebastião Caboto”, p. 331.

36. História Naval Brasileira, Primeiro Volume, Tomo I, “A expedição de Sebastião Caboto”, p. 303.

37. 1)The voyage of Sir Thomas Pert and Sebastian Cabot, about the eight yeere of King Henry the eight, which was the yeere, 1516 to Brasil, S. Domingo, and S. John de Puerto Rico, HAKLUYT (1589); 2) A report of a voyage of two Englishmen in the company of Sebastian Cabota, intended for the Malucos by the Streights os Magellan, but performed onely to the river of Plate in April 1527. Taken out of the information of M. Robert Thorne to Doctor Ley Ambassador for King Henry the eight, to Charles the Emperour, touching the discovery of the Malucos by North, HAKLUYT (1600).

38. Segundo Edward Arber, citando Gomara, Sebastião Caboto estava na Espanha nessa época, onde permaneceu até 1524. Cf. ARBER, Edward (ed.). The first three english books on América [1511?]-1555. Edward Arber, Birmingham, 1885.

39. Diz a carta de Robert Thorne: “In a flote of three ships and a carvell that went fron this citie armed by the Marchaunts of it, which departed in April laste paste, I and my partyner [o genovês Leonardo Cataneo] have 1400 ducates that we employed in the saide armye, principallie for that twoo englishe men freendes of myne, which are somewhat learned in cosmographie, shuld goo in the said shippes to brynge me certeign relacôn of the scituatõn of the countrie, and to be expert in the navigation of those Seas … and speciallie to knowe what naviagation they have for those Ilandes northwarde and northestwad: for if from the said Islandes the Sea doth extende without interposition of londe, to saile from the northe pointe to the northest pointe 1700 or 1800 leagues they shuld come to the newe found landes that we discovered. And that wise we shuld be nearer the spicerie by almost 2000 leagues them the Emprour or kinge of Pontigall are…”. Apud TAYLOR, Introdução a A brief summe of Geographie, de Roger Barlow, p. xxviii.

40. The voyage to Brasill, made by the worshipfull M. William Hawkins of Plimmouth, father for Sir John Hawkins knight now living, in the yeere 1530, HAKLUYT (1598). A briefe relation of the two fundry voyages made by the worshipful M. William Hawkins of Plymmouth, father to sir John Hawkins knight, late treasurer of her maiesties navie, in the yeere 1530 and 1532, HAKLUYT (1600).

41. Cf. ANDREWS, Kenneth R. Trade, plunder and settlement. Cambridge: Cambridge University Press, 1984.

42. ANDREWS (op. cit.).

43. A respeito de Robert Reneger, um documento de 31 de março de 1545, de Letters and Papers, Foreign and Domestic, Henry VIII, a respeito de navios ingleses presos na Espanha, revela outras atividades marítimas do mercador: “An order to the alcaldes of Ayamonte, Huelva, Moger, Perlos, Trigueros and Lepe, given upon receipt of information that Robert Reneguel (Reneger or Regener in § 2) and John his brother, Englishmen, with four ships and a pinnace, have, near Cape St. Vincent, boarded the ship of Francisco Gallego, coming from the Spanish Island, and taken all the gold and pearls therein together with 124 chests of sugar and 140 hides, the value of the goods taken being 7,243,075 maravedis (29,315 ducats in § 2); to arrest all ships and goods of Englishmen and deliver them
by obligation in presence of Francisco Guera to substantial persons to be kept safe. Dated in the House of Contratacion at Seville, 27 March 1545, by the Marshal and Marques
de Almar, and others named”. [Letters and Papers, Foreign and Domestic, Henry VIII: 1545, Volume 20 Part 1 (1905), pp. 193-229. URL: www.british-history.ac.uk. Data de acesso: 10 out. 2008.

44. “An ancient voyage of M. Robert Reniger and M. Thomas Borey to Brasil in the yeere of our Lord 1540”, HAKLUYT (1600).

45. Os documentos foram estudados por MARSDEN, Reginald G. “Voyage of the Barbara of London to Brazil in 1540.” English Historical Review, XXIV, 1909.

46. Lã de algodão, papagaios, macacos e diversas outras estranhas bestas daquela terra.

47. Cf. MARSDEN (op. cit.)

48. Cf. MARSDEN (op. cit.)

49. “The relations of Peter Carder, of Saint Verian in Cornwall, within seven miles of Falmouth, wich went with sir Francis Drake in his voyage about the world, begun 1577. who with seven others in an open pinasse or shallop of five tuns, with eight oares was separeted from his generall by soule weather in the south sea, in october, An. 1578. who returning by the straites of Magellan toward Brasill were all cast away, save this one only afore named, who came into England nine yeeres after miraculously, having escaped many strange dangers, as well among divers savages as Christians”, PURCHAS (1625).

50. “A letter written to M. Richard Stapers by John Whithall from Brasill, in Santos the 26 of June 1578”, HAKLUYT (1598 e 1600).

51. “A copie of the letters of the Adventurers for Brasill sent to John Whithall dwelling in Santos, by the Minion of London. Ano 1580 the 24 of October in London”, HAKLUYT (1598 e 1600).

52. “Certaine notes of the voyage to Brasill with the Minion of London aforesaid, in the yeere 1580, written Thomas Grigges Purser of the said shippe”, HAKLUYT (1598 e 1600).

53. Carta de 1 de março de 1582: “I believed your Majesty would punish the officers of the two ports for having allowed the ship to enter, against the orders of your Majesty, in accordance with the prohibition decreed in the time of King Sebastian, against Englishmen going to that part of the coast, they being confined to certain specified places. I said that for this the “Mignon” might legally be arrested and confiscated ; and although the treaty I have mentioned had only been for three years and expired in December 1579, when Antonio de Castillo came, “erat pro gentium tacito consensu et in re mutuo comercio,” nothing having changed on either side. The English, therefore, had no ground for claiming the restitution of the ship.
They replied that they would send the secretary to me to discuss the matter, and I am going to reply that if the Council are so unjust as to permit Englishmen here to detain property in respect of this ship, I have no doubt that your Majesty will at once order the detention in Portugal, and elsewhere, of all property belonging to Englishmen, as it is of the greatest importance that on no account, should the English be allowed to imagine that they can go on that or any other voyage to the Indies, where prohibitions exist, excepting at the risk of being sent to the bottom. Otherwise they would continually fit out ships under the guise of trade, which would simply be sent to plunder all the property of your Majesty’s subjects they could come across. I think it will be advantageous, if this ship (the “Mignon”) was not captured after the caravel left, that she should be seized, in order to warn them not to send any more thither.” Calendar of State Papers, Spain (Simancas), Volume 3: 1580-1586 (1896), pp. 299-317. URL: http://www.british-history. ac.uk. Data de acesso: 10 out. 2008.

54. Calendar of State Papers, Spain (Simancas): Volume 3, 1580-1586 (1896), pp. 52-63. URL: http://www.british-history.ac.uk. Data de acesso: 10 out. 2008.

55. PANTALEÃO, Olga. “Um navio inglês no Brasil em 1581; a viagem do ‘Minion of London’.” Revista de Estudos Históricos, Marília, n. 1, pp. 45-93, jun. 1963.

56. “In some of my former letters I advised your Majesty of the arrival here of the ship from the coast of Brazil, leaving there seventeen men. I am informed by the Englishmen themselves that this was not caused by an attempt to capture their ship, which would have been extremely easy if those on shore had wanted to do so, since all the artillery and men had to be put on shore whilst the ship was careened and repaired. But the Governor had given them licenses to trade on payment of the dues, which was also confirmed by the Bishop. By virtue of this the merchandise was placed in the atores, and the supercargoes for the merchants here who were in charge were so favourably impressed with the country that they resolved, four or five of them, to appropriate some of the merchandise
and settle there. Another of them was converted to the Catholic faith by the preaching of the friars there, and as he regularly attended the ceremonies of the church his companions began to mock him, which came to the knowledge of the Bishop and the Inquisitors.” ‘Simancas: May 1582, 1-15’, Calendar of State Papers, Spain (Simancas), Volume 3: 1580-1586 (1896), pp. 352-370. URL: http://www.british-history.ac.uk. Data de acesso: 10 out. 2008.

57. PANTALEÃO (op. cit.), p. 67.

58. “The voyage intended towards Chine, wherein M. Edward Fenton was appointend Generall, written by master Luke Ward his Vice-admirall, and Captaine of the Edward Bonaventure, begun Anno Dom. 1582”, HAKLUYT (1598 e 1600).

59. ”Instructions given by the honourable, the Lordes of the Counsell, to Edward Fenton Esquire, for the order to be observed in the voyage recommended to him for the East Indies and Cathay. April 9. 1582”, HAKLUYT (1598 e 1600).

60. 1) “An extract out of the discourse of one Lopez a Spaniard before spoken of, touching the foresayd fight of M. Fenton whith the spanishs ships together with a report with the proceeding of M. John Drake after his departing from him”, HAKLUYT (1598); 2) “An extract of the discourse of one Lopez Vaz a Portugal, touching the sight/fight of M. Fenton with the Spanish ships, with a report of the proceeding of M. John Drake after his departing from him to the river of Plate”, HAKLUYT (1600).

61. The Troublesome Voyage of Captain Edward Fenton / 1582-1583. Narrativas e documentos editados por E. G. R. Taylor. Cambridge: Hakluyt Society, 1959.

62. An elisabethan in 1582. The diary of Richard Madox, Fellow of All Souls. London: Hakluyt Society, 1976.

63. Viage al estrecho de Magallanes. Madrid: Imprenta Real de la Gazeta, 1768.

64. “The voiage set out by the right honorable the Earl of Cumberland, in the yeere 1586, intended for the South Sea, but performed no farther them the latitude of 44. deg. To the south of the Equinoctiall, written by John Sarracoll Merchant in the same voyage”, HAKLUYT (1600).

65. “A discourse of the West Indies and South sea written by Lopez Vaz a Portugal, borne in the citie of Elvas, continued unto the yere 1587. Wherein among divers rare things not hitherto delivered by any other writer, certaine voyages of our Englishmen are truely reported: which was intercepted with the author thereof at the river of plate, by Captaine Withrington and Captaine Christopher Lister, in the fleete set foorth by the right honorable the Earle of Cumberland for the South Sea in the yeere 1586”, HAKLUYT (1600). Há ainda um outro extrato de Lopes Vaz, publicado por Purchas: “The histoire of Lopez Vaz a Portugall (taken by Captaine Withrington at the River of Plate, Anno 1586 with this discourse about him), touching american places, discoveries and occurents, abridged”, PURCHAS (1625).

66. Cavendish havia feito uma bem sucedida e rentosa circunavegação entre os anos de 1586 e 1588, quando voltou para a Inglaterra com a tripulação vestida de seda, as velas do navio feitas de damasco e o mastro principal folheado a ouro.

67. “The admirable adventures and strange fortunes of master Antonie Knivet, wich went with Master Thomas Candish in his second voyage to the south sea. 1591”, PURCHAS (1625).

68. “Master Thomas Candish his discourse of his fatall and disastrous voyage towards the south sea, with his many disaventures in the Magellan Straits and other places; writeen with his own hand to sir Tristam Gorges his executor”, PURCHAS (1625).

69. “The last voyage made by the worshipful M. Thomas Candish esquire, intended for the South sea, the Philipinas, and the coast of China, with 3 tall ships, and two barks; Written by M. John Jane, a man of good observation, imployed in the same, and many others voyages”, HAKLUYT (1600).

70. Purchas justifica os cortes feitos ao texto original da carta afirmando que omitiu “some passionate speeches of Master Candish against some private persons”, PURCHAS (1625), p. 53.

71. QUINN, David B. The last voyage of Thomas Cavendish 1591-1592. Chicago / London: University of Chicago Press, 1975.

72. EDWARDS (1988), p. 29.

73. The observations of Sir Richard Hawkins Knight, in his voyage into the South Sea. Anno Domini 1593. London: impresso por I. D. para John Jaggard, 1622.

74. “The observations of sir Richard Hawkins, Knight, in his voyage into the south sea. An. Dom. 1593 once before published, now reviewed and corrected by a written copie, illustraded with notes, and in divers places abbreviated”, PURCHAS (1625).

75. “A description and discovery of the river of Amazons, by Willian Davies barber surgeon of London”, PURCHAS (1625).

76. True Relation of the Travailes and Most Miserable Captivitie. London: impresso por Thomas Snodham para Nicholas Bourne, 1614.

*Sheila Moura Hue é Doutora em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e coordenadora do Núcleo de Manuscritos e Autógrafos do Real Gabinete Português de Leitura

Trabalho realizado com recursos do Programa Nacional de Apoio à Pesquisa da Fundação Biblioteca Nacional.

A autora agradece a inestimável colaboração de Vivien Kogut Lessa de Sá e Luciana Villas Bôas.