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Literatura | A Fantástica Dinah Silveira de Queiroz

27 jul 2021

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Mais conhecida por romances como “Floradas na serra” e “A Muralha”, Dinah Silveira de Queiroz (São Paulo, 1911 – Rio de Janeiro, 1982) teve também uma importante produção nos gêneros conto e crônica. Além disso, destacou-se como um dos nomes pioneiros da Literatura Fantástica brasileira, em especial na vertente da Ficção Científica.

Com vários intelectuais entre seus parentes, entre eles os tios Valdomiro (escritor) e Agenor Silveira (filólogo) e o primo Ênio Silveira (editor da Civilização Brasileira), Dinah perdeu cedo sua mãe e foi morar com uma tia-avó, numa fazenda na região da Mogiana. Ao visitá-la, seu pai lia em voz alta para ela as obras de Camille Flammarion e as novelas de H. G. Wells, que lhe causaram uma impressão permanente e influenciaram seu pendor para a Ficção Científica. Aos 19 anos, casou-se com o advogado Narcélio, primo de Rachel de Queiroz e estudioso de Filosofia, que, segundo a biografia da autora no site da Academia Brasileira de Letras, a ajudaria a descobrir-se escritora.

O primeiro trabalho literário de Dinah, intitulado “Pecado”, foi publicado em 1937, no “Correio Paulistano”. Seguiram-se colaborações menores e o conto “A Sereia verde”, publicado na “Revista do Brasil” em 1938 e elogiado pelo exigente Nelson Werneck Sodré. Em 1939 saiu o primeiro livro da autora, que alcançou enorme sucesso junto ao público e viria a ser seu trabalho mais famoso: o romance “Floradas na serra”, ambientado num sanatório para tratamento da tuberculose em Campos de Jordão. Veja o anúncio da publicação no “Correio Paulistano” em 29/07/1939 – o título saiu como “Florada”, no singular (Hemeroteca Digital)

Na década de 1940, após ter publicado “A Sereia verde”, livro que reunia alguns de seus contos, Dinah Silveira de Queiroz escreveu crônicas literárias e opinativas, chegando a ter uma coluna diária no jornal “A Manhã”. A crônica que trazemos, de 1943, foi publicada na revista “Leitura” e tem por título “Literatura para a adolescência”. Nela, a escritora antecipa algo que ainda hoje é apontado como uma questão premente entre educadores e bibliotecários: a necessidade de haver livros voltados para os adolescentes, que sirvam como “ponte” entre a literatura para crianças, abundante e satisfatória no Brasil, e as leituras da fase adulta (Hemeroteca Digital).

Curiosamente, o gênero fantástico, que vem sendo apontado como o preferido dos adolescentes (e principal responsável por criar a “ponte entre leituras”), foi aquele no qual Dinah Silveira de Queiroz produziu seu trabalho seguinte. “Margarida La Rocque: a ilha dos demônios” saiu em 1949 e é considerado um precursor da Literatura Fantástica brasileira, um livro de fantasia sombria no qual uma jovem é abandonada, juntamente com sua aia, em uma ilha habitada por estranhas criaturas. Segundo Ana Cristina Steffen, da PUC-RS, a obra foi inspirada por uma passagem do escritor André Thevet, que veio ao Brasil no século XVI, e se insere no que se poderia chamar de “gótico feminino”, apresentando uma personagem que foge aos estereótipos literários e discute as relações entre os gêneros. E, embora sem ter feito tanto sucesso quanto “Floradas na serra”, a autora o preferia ao seu primeiro livro. É o que afirma nesta crônica em que homenageia Moacir Almeida, funcionário da Editora José Olympio (1958, Divisão de Manuscritos)

Dinah Silveira de Queiroz faria muitas outras incursões pelo gênero fantástico, entre as quais “Eles herdarão a Terra” (1960) e “Comba Malina” (1969). Ambos são coletâneas de contos de Ficção Científica, que tratam de temas como telepatia, viagens interplanetárias e invasões alienígenas. Outras obras de destaque são os romances históricos “A Muralha” (1954) e “Os Invasores” (1964), o romance contemporâneo “Verão dos infieis” e uma história da vida de Jesus, em forma de autobiografia, em dois volumes intitulados “Eu venho” e “Eu, Jesus”. Publicados em 1974 e 1977 e com o título coletivo de “Memorial de Cristo”, a obra chegou às mãos do Papa Paulo VI, que, por intermédio de seu Secretário de Estado, fez elogios à “bem aparada pena da autora”.

Veja um bilhete de Dinah Silveira a José Olympio, escrito em 1978, no qual pergunta se a crítica recebem exemplares de “Eu, Jesus” (Divisão de Manuscritos)

Em 1961, Dinah Silveira de Queiroz enviuvou de Narcélio, e no ano seguinte foi nomeada adida cultural da embaixada brasileira em Madri. Pouco tempo depois, casou-se com Dário Moreira de Castro Alves, escritor e também diplomata, e foi viver com ele em Moscou, onde continuou a produzir seus trabalhos literários. Algumas de suas crônicas foram veiculadas pelo rádio, em especial no programa “Quadrante”, que foi ao ar entre 1961 e 1964 pela Rádio MEC; uma seleção delas sairia em livro, assim como as que publicara, anos antes, em periódicos.

Conheça um pouco mais sobre Dinah nesta entrevista concedida à Revista da Semana, em 1954 (Hemeroteca Digital). A seguir, conclua a leitura do artigo para saber se a escritora conseguiu realizar todos os seus planos.

Detentora de vários prêmios literários, Dinah Silveira de Queiroz se tornou a segunda mulher a ser admitida na Academia Brasileira de Letras, para a qual foi eleita em julho de 1980. Passou o ano seguinte em Lisboa, onde seu marido chefiava a representação diplomática do Brasil, e lá escreveu seu último livro, “Guida, caríssima Guida”, publicado em 1981. Faleceu em novembro de 1982. Segundo sua biografia, escrita por Dário Castro Alves, até três dias antes de sua morte, com a saúde bem abalada, a escritora continuou a ditar crônicas diárias, assim mantendo o diálogo que gostava de ter com o grande público.



Dinah Silveira de Queiroz em foto publicada na “Revista da Semana”, 1954.