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Literatura | A Prosa e a Poesia de Paulo Mendes Campos

05 ago 2021

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Um dos mais destacados nomes da crônica brasileira, e também poeta de relevo, foi o mineiro Paulo Mendes Campos (1922 – 1991). Terceiro dos oito filhos de um médico e escritor, adquiriu de sua mãe o hábito da leitura, que se prolongou e aprofundou ao longo da adolescência passada num internato em São João Del Rey.

De volta a Belo Horizonte, e sem concluir nenhum dos cursos superiores em que ingressou (Odontologia, Direito e Veterinária), Campos travou contato com intelectuais mineiros de sua geração, tais como Fernando Sabino, Otto Lara Resende e o expoente máximo do realismo mágico brasileiro, Murilo Rubião. Colaborou com o suplemento literário da “Folha de Minas”, que chegou a dirigir por algum tempo.

Em 1945, após o término da II Guerra Mundial, Paulo Mendes Campos foi viver no Rio de Janeiro, onde passou escrever para vários jornais, tais como o “Diário Carioca”, o “Jornal do Brasil” e o “Correio da Manhã”. Algumas de suas crônicas versavam sobre música, literatura, vida cotidiana; outras traziam observações pessoais, reflexões e questionamentos, num tom que frequentemente as aproximava da poesia. Segundo o jornalista Wilson Figueiredo, Paulo Mendes Campos era “literariamente ambidestro”, capaz de produzir poesia e prosa de igual qualidade.

Por sua vez, o próprio escritor afirmou em entrevista que se esforçava por conciliar a vocação de poeta com a necessidade, mais objetiva, de ter de “sobreviver de sua máquina de escrever”, assinando colunas sobre literatura e teatro e, em alguns períodos, chegando a produzir crônicas num ritmo diário.

Leia a crônica “Guerreiros ilustres” publicada na coluna Semana Literária do Diário Carioca, 16/6/1946. Hemeroteca Digital.

Leia o poema “Pesquisa”, publicado no Correio da Manhã, 17/5/1952. Hemeroteca Digital.

Paulo Mendes Campos iniciou suas publicações em livro pela poesia. “A Palavra Escrita” saiu em 1951, numa tiragem pequena, com pouca repercussão. No ano seguinte, a Editora Bloch deu início à publicação de “Manchete”, revista semanal de grande circulação, na qual o escritor colaborou desde o primeiro número. Era também cronista do “Jornal do Brasil” e atuava como tradutor, principalmente de poesia; assinou, entre outras, traduções de Shakespeare, William Butler Yeats, Pablo Neruda, Emily Dickinson e Rosalía de Castro. É muito conhecida sua tradução de “The Waste Land”, de T. S. Eliot, considerado um dos mais importantes poemas escritos no século XX.

Veja o livro de Eliot, que saiu como “A Terra Inútil”, traduzido por Paulo Mendes Campos e publicado pela Civilização Brasileira em 1956. Divisão de Obras Raras.

Tal como muitos outros escritores, Paulo Mendes Campos passou pelo serviço público. Atuou no Instituto Nacional do Livro, para onde foi indicado por Carlos Drummond de Andrade, chefiou o Setor de Obras Raras da Biblioteca Nacional, da qual era diretor o escritor Adonias Filho, teve um cargo no IPASE e acabou por se aposentar, em 1981, como técnico de comunicação social da EBN (Empresa Brasileira de Notícias). Ao mesmo tempo, prosseguiu com sua carreira literária; colaborou, ao todo, com cerca de trinta periódicos e publicou outros tantos livros. Destacam-se, na poesia, “O Domingo Azul do Mar” (1958); nas crônicas, “O Cego de Ipanema” (1960), “Homenzinho na Ventania” (1962) e “Os Bares Morrem numa Quarta-Feira (1980). Além disso, sua participação na série “Para Gostar de Ler”, publicada a partir de 1977 pela Editora Ática, tornou seu trabalho conhecido por várias gerações de leitores brasileiros.

Leia a crônica “A Lua Nunca Responde a Ninguém”, publicada na Revista Leitura, em junho de 1961 (Hemeroteca Digital).

Outra vertente do trabalho de Paulo Mendes Campos foi sua produção como roteirista, que incluiu colaboração em filmes como “Roberto Carlos em Ritmo de Aventura” (1968) e documentários dramatizados, como “Poema Barroco”, que narrava a vida do escultor Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (exibido na série da TV Globo “Caso Especial” em 1977) e “O Caminho das Pedras Verdes”, sobre a expedição do bandeirante Fernão Dias Paes Leme (“Caso Especial” exibido em 1978). Para os últimos, o escritor desenvolveu extenso trabalho de pesquisa, em boa parte documentado nos cadernos que integram a Coleção Paulo Mendes Campos do Instituto Moreira Salles.

Veja uma reportagem sobre a estreia de “O Caminho das Pedras Verdes”, para a qual entrevistaram Paulo Mendes Campos, publicada no “Correio de Notícias” do Paraná, em 1978. Hemeroteca Digital.

Definido pelo jornalista Flávio Pinheiro, responsável pela reedição de sua obra a partir de 1999, como um “cronista em tempo integral”, Paulo Mendes Campos foi um escritor de múltiplas facetas, dotado de grande poder de observação, sensibilidade poética e habilidade no uso das palavras.



Paulo Mendes Campos em foto da Revista Leitura, 1960.