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Literatura | Georges Bernanos e o Brasil

05 jul 2020

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"Se me fosse dado escolher o país onde deveria morrer escolheria o Brasil", disse George Bernanos, moribundo. Entretanto, o escritor francês faleceu numa clínica em Paris, no dia 5 de julho de 1948. Nos instantes solenes dos últimos sacramentos o homem de sessenta anos dava graças ao Senhor por ter sempre encontrado, nos momentos mais graves, o coração de sua primeira comunhão. Considerou sua missão como escritor um chamado sacerdotal - "vocatus" - mas na sua maneira de visualizar tal vocação, as palavras encarnação e humanidade divina assumiam intensidade extraordinária e estranha plenitude de sentido. Era, antes de tudo, um “homo religiosus”, na acepção exata da palavra: católico de instinto. Daí nasceram o seu desprezo e sua cólera, em face dos atentados contra a autenticidade da criatura humana, quer viessem de uma filosofia ou de uma ciência escravizada à técnica.

Em 1938 rompe com a Ação Francesa e deixa a França rumo à América do Sul. Após curta estada no Paraguai, instala-se no Brasil, onde permaneceria até 1945. Viveu em Cruz das Almas, Minas Gerais — um exílio voluntariamente imposto pela perseguição à inteligência.

"Lá de sua Cruz das Almas, em cima da montanha mineira, ele nos procurou para nos abraçar. Aqui no Brasil viveu os seus dias trágicos. Foi daqui que, como Lear, gritou para o mundo inteiro, a sua dor" (José Lins do Rego, A Manhã, A mensagem de Bernanos, 20-1-1943). Seu testemunho foi o de um homem livre, que teve tempo de falar antes que a mão de ferro dos ditadores asfixiasse as últimas vozes de sua terra.

Bernanos soube tomar parte na atividade intelectual de nossa terra, criando vínculos indestrutíveis de amizade entre os dois países. Estabeleceu-se entre nós para tornar-se “um pouco brasileiro", como disse, certa vez. Com alguns de nossos escritores estabeleceu laços de amizade que perduraram por toda a vida. Dentre seus amigos, podemos mencionar, Virgílio de Melo Franco, Jorge de Lima, Raul Fernandes, Oswaldo Aranha, Otto Lara Rezende, Murilo Mendes, Geraldo França de Lima e Augusto Frederico Schmidt. Jorge de Lima foi talvez mais íntimo do grupo do Rio, e, na companhia honrosa de Victor Hugo, Baudelaire, Rimbaud, entrava nas preferências poéticas do escritor.

No Brasil, Bernanos publicou, em francês, Lettres aux anglais (Cartas aos ingleses), Le chemin de la croix-des-âmes (O caminho da cruz das almas), La France contre les robots (A França contra os robôs) e Lettres inédites a Jorge de Lima. A revista parisiense Esprit publicou algumas de suas cartas destinas a Alceu: Lettres à Amoroso Lima (Cartas a Amoroso Lima).
Em 20 de janeiro de 1943, José Lins do Rego escreveu no jornal A Manhã um artigo sobre Bernanos.

Em março de 1945, por ocasião da volta do escritor francês para a Europa, a Revista A Ordem decidiu organizar um volume em homenagem ao escritor francês.