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Literatura | Herberto Sales

29 mar 2022

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Jornalista e escritor, Herberto Sales ganhou projeção nacional a partir de seu primeiro romance, uma obra de cunho regionalista.

Herberto de Azevedo Sales (Andaraí, BA, 1917 – Rio de Janeiro, 1999) fez os primeiros estudos em sua cidade natal, situada na área mineradora da Chapada Diamantina, e cursou o ginásio em Salvador. De volta a Andaraí, trabalhou como oficial de cartório, comerciante e em funções ligadas ao garimpo, onde pôde observar de perto as situações que descreveria em sua obra de estreia. “Cascalho” foi publicado em 1944 e recebido pela crítica como um excelente romance regionalista, que retratava com fidelidade o cenário e os habitantes da região diamantífera e apontava problemas sociais – um livro equivalente, pela qualidade e relevância, aos romances de Jorge Amado sobre a região cacaueira e aos de José Lins do Rego sobre os engenhos de cana de açúcar.

Leia uma carta de Herberto Sales a Artur Ramos, a quem enviara um exemplar de “Cascalho”. (Divisão de Manuscritos)

Leia uma apreciação de “Cascalho”, publicada na Revista “Leitura” em 1957.

A boa recepção dos críticos ao seu livro de estreia teve uma contrapartida negativa na terra natal de Herberto Sales. Os poderosos locais, que dominavam o garimpo, não ficaram satisfeitos com a forma como a obra os retratou e se voltaram contra o escritor, chegando a ameaçá-lo de morte. Sales, então, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde começou a trabalhar como jornalista. Foi assistente editorial de “O Cruzeiro”, revista editada pelos “Diários Associados”, de Assis Chateaubriand, e diretor de “A Cigarra”, além de colaborador em vários outros periódicos.

Leia o conto “A Casa Silenciosa”, publicado na Revista “A Cigarra”, 1946. Nessa época Herberto Sales já tinha ganhado projeção com “Cascalho”, mas ainda residia em Andaraí.

Além de sua atuação no campo do Jornalismo, Herberto Sales continuou a escrever para adultos e para os mais jovens. Entre seus romances destacam-se “Além dos Marimbus” (1961), uma obra regionalista em que o foco já não é a extração de diamantes, mas sim a exploração da madeira; “Dados Biográficos do Finado Marcelino” (1965), romance urbano de formação, com toques autobiográficos, considerado por alguns sua obra-prima; e “Os Pareceres do Tempo” (1984), romance histórico ambientado na Bahia do século XVIII, construído sobre uma base de narrativas passadas de boca em boca e em que se confundem ficção e realidade, como ocorre frequentemente na tradição oral. Esse romance homenageia o amigo Jorge Amado ao citar um de seus personagens, o saveirista Mestre Manuel, que aparece em “Mar Morto” e “Jubiabá”. Outra homenagem foi feita a José Cândido de Carvalho, autor do conhecido “O Coronel e o Lobisomem”, por meio do livro “O Lobisomem e Outros Contos Folclóricos” (1970). Nele, Herberto Sales não se limita a repassar os mitos mais difundidos, como a Cuca e o Saci Pererê, mas apresenta lendas menos conhecidas, como as de Romãozinho, da Porca dos Sete Leitões e da Mãozinha Preta.

Uma vertente importante da obra do autor baiano são seus livros para crianças, com destaque para “O Sobradinho dos Pardais” (1969), listado no importante Prêmio Hans Christian Andersen de Literatura Infantil. O livro ganhou uma continuação em 1985, “A Volta dos Pardais do Sobradinho”. Outras obras destinadas aos leitores mais novos são “O Burrinho que Queria ser Gente” (1980) e “O Urso Caçador” (1991). Além disso, o escritor organizou a antologia “Os Belos Contos da Eterna Infância” (1948), lida por gerações de brasileiros em seus anos escolares.

Leia reportagem sobre “O Sobradinho dos Pardais” publicada em “O Jornal” no ano do lançamento.

Em 1971, Herberto Sales ingressou na Academia Brasileira de Letras. Três anos depois, tornou-se diretor do INL – Instituto Nacional do Livro, onde deu continuidade à política vigente de coedições feitas por meio de parceria com diversas editoras. As experiências vividas enquanto ocupou o cargo, envolvendo-se com burocracia e aquilo que ele mesmo denominou “tecnocracia de Brasília”, forneceram material para novos romances, em especial “O Fruto do Vosso Ventre” (1976), que afirmou ser “uma crudelíssima sátira permeada de crítica social e advertência”. Mais tarde foi assessor da Presidência da República durante o governo de José Sarney e adido cultural da Embaixada brasileira em Paris. Ao regressar, passou a residir em São Pedro da Aldeia, pequena cidade do litoral fluminense, onde ainda escreveu algumas obras. Entre elas, o romance “Na Relva de Tua Lembrança” (1988), marcado pela consciência da solidão e do envelhecimento, e a série de memórias que intitulou “Subsidiário” (1988 – 1992). Morreu em 1999, deixando como legado uma obra que alcançou a excelência em múltiplos gêneros.

Herberto Sales no jornal “O Cruzeiro”, de 1961.