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Literatura | João Simões Lopes Neto: mais que uma lenda do Sul

09 mar 2021

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A la fresca!... hoje é aniversário do nascimento de João Simões Lopes Neto!

É considerado um dos principais escritores regionalistas do Brasil por registrar a cultura popular do Rio Grande do Sul através de seus contos, com o grande feito de reunira linguagem falada eos padrões da norma culta. Nasceu em 9 de março 1865, na cidade de Pelotas-RS, na fazenda de sua família. Filho de Catão Bonifácio Simões Lopes e de Teresa de Freitas Ramos. Seu avô paterno João Simões Lopes, o Visconde da Graça, foi um fazendeiro dos tempos áureos das charqueadas em Pelotas.  Aos 13 anos mudou-se para o Rio de Janeiro, onde estudou por cerca de 6 ou 8 anos e retornou para Pelotas.

De família de “estancieiros” (sinônimo de fazendeiro), sua relação com a vida no campo era fortemente poética. Em 1888 se tornou colaborador do jornal A Pátria, de Pelotas, onde começou a publicar poemas. Os jornais O Correio Mercantil, Opinião Pública e Diário Popular também receberam a colaboração do autor. Publicava sob pseudônimos como: João Riforte, João Risempre e João do Sul sendo Serafim Bemol o pseudônimo que escolheu para assinar suas publicações teatrais.

Em 1892 casou-se com Francisca de Paula Meireles Leite, com quem teve uma filha adotiva. Com a morte de seu avô em 1893 e de seu pai em 1896, se viu obrigado a administrar sua herança. Sem vocação para os negócios, perdeu tudo na tentativa de se lançar no mundo empresarial. Um de seus feitos nesta categoria foi a João Simões & Cia, uma fábrica de tabaco a cujos produtos ele deu o nome de Diabo, bem como  estampou imagens do demônio nas embalagens. Como era de se esperar, recebeu severas críticas, especialmente dos religiosos. Acredita-se que a expressão “marca-diabo”, utilizada até hoje pelos gaúchos para se referir a produtos de má qualidade, tenha origem na campanha promovida pela igreja contra os produtos da João Simões & Cia.
Sem êxito como empresário, manteve seu sustento e de sua família com o pouco que recebia dos jornais. Em 1910 reuniu seus contos, que até então haviam sido publicados apenas nos jornais, e lançou seu primeiro livro “Cancioneiro guasca”.

Em 1912 publicou “Contos gauchescos”. Um dos personagens desta obra é João Cardoso, um sujeito que não perdia a oportunidade de bater um papo para se manter informado dos últimos acontecimentos. Numa época em que não havia jornais e a informação era passada de forma oral, João Cardoso convidava cada viajante que passasse na sua porta para apear do cavalo e descansar tomando um mate. Depois de muita conversa e nada de mate, o viajante fazia menção de seguir viagem. João Cardoso pedia para aguardar mais um pouco e gritava para o empregado trazer o mate. Este, por sua vez, chegava no ouvido do patrão e dizia: “- Sr., não tem mais erva!…” E assim João Cardoso ia conduzindo a conversa até onde podia. Quando o visitante desistia do mate e resolvia ir embora ele ainda insistia: “- Quando passar, apeie-se! O chimarrão, aqui, nunca se corta, está sempre pronto! Boa viagem! Se quer esperar... olhe que é um instantinho…”

A Salamanca do Jarau, lenda gaúcha sobre uma princesa que é transformada em lagarto foi registrada na obra “Lendas do Sul” e publicada em 1913. Essa lenda inspirou o escritor Erico Verissimo que escreveu sobre a Teiniaguá no célebre romance “O tempo e o vento”.

Em 1914 escreveu “Casos de Romualdo”, publicado em forma de folhetim no jornal Correio Mercantil e em forma livro como obra póstuma em 1952. Faleceu em 14 de junho de 1916 na cidade de Porto Alegre deixando um legado para a história da literatura brasileira.

(Seção de Iconografia)