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Literatura | Lygia Fagundes Telles – 98 anos de uma contadora de histórias

19 maio 2021


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“Sou uma simples contadora de histórias, com os olhos abertos para o mundo, cheia de amor por todas as coisas, e que procura compreender e perdoar”. Assim a escritora Lygia Fagundes Telles se definiu em entrevista à revista A Cigarra, em 1955. Na época, a escritora colhia os louros pela publicação, no ano anterior, do seu primeiro romance, “Ciranda de Pedra”, aclamado pela crítica e pelo público e elogiado por escritores como Carlos Drummond de Andrade, Raquel de Queiroz e Erico Veríssimo, entre muitos outros. Até então, Lygia já havia publicado três livros de contos: o primeiro, “Porão e sobrado”, com apenas 15 anos, em 1938, seguido por “Praia Viva” (1944) e O Cacto Vermelho (1949). Publicara, também, contos em diversas revistas e jornais, desde sua estréia com “Vidoca”, vencedor de um concurso de contos da revista Carioca, em 1938 (leia aqui), ainda assinado por Lygia de Azevedo Fagundes (o Telles viria do seu primeiro casamento, com Gofredo Telles Junior, em 1947). Ao longo das décadas de 40 e 50, colaborou com diversas revistas e jornais, como O Cruzeiro, Revista da Semana, Paratodos, Sombra, Carioca e no jornal A Manhã. Nesses periódicos foram publicados pela primeira vez contos depois editados em livros, como “Venha ver o por do sol” e “As Pérolas”.

Nascida em São Paulo, em 19 de abril de 1923, Lygia Fagundes Telles passou a primeira infância em pequenas cidades do interior paulista, por conta do trabalho do pai, promotor público. Essa vivência permitiu que tivesse contato com um farto repertório de lendas que encantaram a pequena Lygia e a motivaram a criar as suas próprias histórias. Por isso, diz que começou a escrever antes mesmo de saber escrever. Formada em Direito pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, Lygia Fagundes trabalhou, em paralelo com a carreira literária, como Procuradora do Instituto da Previdência do Estado de São Paulo até se aposentar. Foi na faculdade que conheceu seu primeiro marido, o professor Gofredo Telles Junior, com quem foi casada de 1947 a 1960 e com quem teve seu único filho. Seu segundo casamento, com o crítico de cinema, Paulo Emílio Sales Gomes, durou de 1963 até a morte dele, em 1977. Com Paulo Emílio, Lygia escreveu o roteiro para o cinema de Capitu, inspirado no livro Dom Casmurro, de Machado de Assis.

Em 1969, concorrendo com escritoras de 21 países, Lygia ganhou o Prêmio Internacional Feminino de Contos, na França, com “Antes do Baile Verde”. Quatro anos antes, já havia ganhado o Prêmio Jabuti com seu segundo romance, “Verão no Aquário”. Muitos outros prêmios nacionais e internacionais viriam ao longo da sua carreira, incluindo o prêmio Camões, pelo conjunto da obra, em 2005. Foi na década de 70 que a escritora se consagrou como um dos principais nomes da literatura brasileira, publicando alguns de seus principais livros, como “Antes do Baile Verde”, “Seminário dos Ratos” e, principalmente, “As Meninas”, considerado um dos melhores romances brasileiros do século XX. Desde então, Lygia Fagundes Telles não parou de contar histórias, escrever e publicar. Sua obra foi traduzida para diversas línguas e a escritora se firmou cada vez mais como uma das mais lidas, admiradas e amadas da literatura brasileira.

Lygia Fagundes Telles foi a terceira mulher eleita para a Academia Brasileira de Letras, em 1985, na vaga deixada por Pedro Calmon. Em seu discurso de posse, em maio de 1987, ao falar sobre a paixão da palavra e o duro ofício de viver numa sociedade violenta e num planeta em destruição, reafirmou sua esperança e o papel do escritor que, segundo ela, “tem de vencer o medo para escrever esse medo. E resgatar a palavra através do amor, a palavra que permanece como a negação da morte.”

Explore os documentos:

Originais do conto “Seminário dos Ratos”

As Cartas (conto) – Suplemento Literário, 1956

O Encontro (conto) - Suplemento Literário, 1957

As Rosas (conto) - Suplemento Literário, 1958

O Baile (conto) - Suplemento Literário,1959

As Cerejas (conto) - Suplemento Literário, 1960

Uma História de Amor - Suplemento Literário, 1961

A Espera (conto) - Suplemento Literário, 1965

Não julgarás – O Cruzeiro, 1949

Sonho – O Cruzeiro, 1950

História do moço romântico e distraído – O Cruzeiro, 1950

O menino (conto) – Letras e Artes, 1948

A Estrela Branca (conto) – Letras e Artes, 1948

Presença da Morte – Letras e Artes ,1949

A recompensa (conto) – Revista da Semana, 1948

O Menino (conto) – A Cigarra, 1950

Revista Manchete, 1969.