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Literatura | Mario de Andrade, figura icônica do modernismo brasileiro

17 out 2021

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Como diria Mario de Andrade (1893-1945) sobre ele mesmo no poema, “Eu sou trezentos, ou trezentos-e-cincoenta”. Ele era múltiplo, passeava pela literatura, poesia, musicologia, etnografia, folclore, arquitetura, artes plásticas, fotografia, crítica literária e gestão cultural. Figura icônica do modernismo brasileiro, foi um viajante em busca do Brasil profundo em face ao mundo urbano industrial cosmopolita que se impunha à sua frente.

Como pesquisador viajante se pôs a pensar o Brasil. Começou em 1924 pelo interior de Minas com outros companheiros modernistas como Oswald de Andrade, BlaiseCendrars e Tarsila do Amaral, mas foi de 1926 a 1928, quando fez suas viagens pela Amazônia e pelo Nordeste, que descobriu a imensidão chamada Brasil e começou a se questionar sobre o que unia regiões e lugares tão díspares. A resposta era a cultura popular brasileira, a cultura oral, anônima, que se desenvolveu independente da cultura letrada. Seu projeto era unir estas duas culturas, de forma que a cultura que foi gestada inconscientemente e coletivamente ao longo da formação brasileira fosse recuperada pelo artista e intelectual letrado.

Este projeto estava presente em toda sua obra: em “Macunaíma,um herói sem caráter” produziu uma obra culta a partir da cultura oral, de mitos e lendas indígenas; em “Ensaio sobre a música brasileira” incita a busca pelos elementos musicais em “estado puro”, na tradição rural, e a união com a música erudita através da elaboração artística; na sua atuação como gestor do Departamento cultural de São Paulo, foi responsável por uma política de difusão de manifestações culturais eruditas e populares com uma perspectiva educativa, aliando política de bem estar social à cultura, além de promover um mapeamento da cultura brasileira através da Missão de pesquisas folclóricas em 1938.

Visionário, Mario de Andrade fez o anteprojeto de criação do Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), que serviu de referência, ainda que não na sua totalidade, para a atuação da política de preservação do patrimônio brasileiro. A dimensão imaterial do patrimônio, os conceitos de preservação dos saberes e fazeres, paisagem cultural, estavam presentes naproposta de Mario de Andrade, ainda que sem esta denominação, só foram implementadas nos anos de 1980.

Mario de Andrade permanece vivo em todas as discussões sobre cultura e identidade nacional e no desejo de reinvenção de um Brasil mais justo e inclusivo.

(Seção de Iconografia)

VOSYLIUS, Kazys. [Mário de Andrade]. Rio de Janeiro, RJ: Foto por KazysVosylius, [193-]. 1 foto, gelatina, p&b., 37 x 29,5cm.