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Literatura | O brilhantismo de João Guimarães Rosa

27 jun 2021

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Nestes 27 de junho comemoramos o nascimento de João Guimarães Rosa, um dos autores mais geniais da literatura universal. Seu brilhantismo maior estava na capacidade de imprimir a marca do particular, do regional sertanejo, usando como matriz a linguagem popular para criar um texto universal em uma literatura inovadora.

O encontro do mundo dos letrados com o dos não letrados, a questão de como unir o popular e o erudito marcou como questão a intelectualidade brasileira desde o modernismo. Guimarães Rosa foi herdeiro desta tradição, mas se colocou diante dela de uma forma completamente original.

Tinha uma preocupação etnográfica na sua narrativa, com a descrição de passarinhos, plantas, acidentes geográficos, relações e costumes locais. Mas longe de ficar só no pitoresco, a descrição do detalhe na sua obra não estava na ordem do exótico, como em várias narrativas regionalistas de sua época. O particular não era exótico e sim encantado.

A linguagem de Guimarães Rosa rompeu com os limites que definem os territórios, é como o sertão no romance “Grande Sertão: Veredas”, “é onde os pastos carecem de fechos”, lugar de passagem, de encontro, onde os elementos contraditórios estão presentes no labirinto da existência, Deus e Diabo na terra do sol. O sertão é físico, metafísico e linguístico. Grande Sertão Veredas é um monólogo que ao mesmo tempo é um diálogo: o ex jagunço contando sua estória para o doutor da cidade. Nesta aventura Guimarães Rosa faz uma transgressão ininterrupta de fronteiras. Pela livre associação na linguagem ele diz o indizível e nos faz compreender que o real é ininteligível sem o fantástico, “só se sai do sertão tomando conta dele adentro” e “o silêncio é agente mesmo demais”.

(Seção de Iconografia)

Jornal do Brasil, 21 de novembro de 1967. Caderno B