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Literatura | O Nacionalista Cassiano Ricardo

02 fev 2022

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Poeta, jornalista e ensaísta, Cassiano Ricardo é mais conhecido por sua atuação no Modernismo. Sua obra poética, entretanto, passou por várias fases e seguiu diferentes tendências ao longo do tempo.

Cassiano Ricardo Leite (São José dos Campos, SP, 1985 – Rio de Janeiro, 1974) era o filho mais velho do produtor de café Francisco Leite Machado e de sua esposa, Minervina Ricardo Leite. Cresceu num ambiente rural, cursou o primário em sua cidade natal e o ginásio em Jacareí. Ainda na escola, estimulado pela mãe e por um tio-avô, escreveu os primeiros versos. Em 1915 mudou-se para São Paulo, onde se matriculou na Faculdade de Direito e publicou o primeiro livro de poemas, “Dentro da Noite”. Esse primeiro trabalho foi influenciado pelo Parnasianismo e mereceu elogios de grandes nomes do gênero, como Olavo Bilac e Alberto de Oliveira.

O curso de Direito foi concluído no Rio de Janeiro, em 1917. No mesmo ano, o escritor publicou novo livro, intitulado “A Flauta de Pan”, e no início da década de 1920 atuou como advogado em São Paulo e no Rio Grande do Sul. Em 1922 estava de volta a São Paulo, onde passou a escrever para jornais e se aproximou de intelectuais como Menotti Del Picchia e Plínio Salgado. Foi um dos líderes do movimento pela Semana da Arte Moderna, integrando a corrente “Verde e Amarela”, que exaltava o nacionalismo e a tradição. Entre 1923 e 1930 escreveu para o “Correio Paulistano” e, em 1924, fundou a revista “Novíssima”, voltada para o ideário modernista.

Cassiano Ricardo já escrevera outros quatro livros após os dois volumes de estreia quando publicou “Martim Cererê” (1928), sua obra mais expressiva e mais conhecida dentro do movimento modernista. Trata-se de um conjunto de poemas que contam a história da formação do Brasil, ressaltando o papel desempenhado pelos bandeirantes. Segundo o pesquisador Júlio Ottoboni, o livro fez muito sucesso durante a Revolução Constitucionalista de 1932, quando seus poemas eram lidos no rádio, em discursos e comícios que exaltavam os feitos dos paulistas.

Leia uma apreciação de “Martim Cererê” na revista “Illustração Brasileira” (1928)

Leia a explicação de Cassiano Ricardo sobre o personagem Martim Cererê , publicada em 1928 no “Correio Paulistano” sob o título “Brasil Menino”.

Em 1937, Cassiano Ricardo foi um dos fundadores do movimento “A Bandeira”, que se opunha ao Integralismo. No mesmo ano foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. Em 1940, voltou ao tema das bandeiras e bandeirantes em “Marcha para Oeste”. A obra publicada em dois volumes veio a sofrer modificações nas várias edições seguintes, sempre endossando ideias nacionalistas – as mesmas que permeavam “Martim Cererê”, porém agora expressas sob a forma de ensaio. Por outro lado, a poesia de Cassiano Ricardo foi-se afastando da estética modernista e se tornando mais introspectiva, o que se comprova nos livros “O Sangue das Horas” (1943) e “Um Dia Depois do Outro” (1947), tido por alguns críticos como um marco divisório de sua carreira literária.

Leia um poema de Cassiano Ricardo publicado em “Autores e Livros”, suplemento literário de “A Manhã” (1941). Desse ano, e até 1945, o escritor dirigiu o periódico, órgão oficial de comunicação do Estado Novo, que contava com a colaboração de muitos intelectuais de peso.

A poesia de Cassiano Ricardo passaria ainda por outras fases, aproximando-se do Concretismo e dos movimentos de vanguarda da década de 1960. Várias vezes presidente do Clube da Poesia de São Paulo, ele instituiu um curso de Poética em que se acompanhavam essas tendências e editou a coleção “Novíssimos” para apresentar trabalhos contemporâneos. Foi também membro da Academia Paulista de Letras e do Conselho Federal de Cultura; recebeu o Prêmio Jabuti em 1961 e 1965, o Juca Pato em 1965 e o Prêmio Nacional de Literatura em 1972. Ao mesmo tempo, continuava a escrever ensaios sobre poesia e questões relativas ao Brasil.

Leia uma apreciação de José Paulo Moreira da Fonseca do livro de ensaios “O Homem Cordial e Outros Pequenos Estudos Brasileiros”, publicada em “A Cigarra”, 1960.

Em 1964, Cassiano Ricardo publicou “Jeremias Sem-Chorar”, que trouxe inovações do ponto de vista gráfico e visual, integrando texto e tipografia. A experimentação prosseguiu em “Os Sobreviventes”, de 1971. Ao falecer, três anos depois, num hospital do Rio de Janeiro, o escritor estava organizando um livro de poemas, intitulado “Dexistência”, cujos originais datilografados e emendados à mão foram doados à Fundação Cultural Cassiano Ricardo, em São José dos Campos. O livro ganhou uma edição em 2010. Além de abrigar a Fundação, a cidade natal do poeta comemora a Semana Cassiano Ricardo, a cada outubro, desde 1967, contribuindo para preservar a memória de um de seus filhos mais ilustres.



Cassiano Ricardo desenhado por Luís Jardim – Suplemento Literário de “O Estado de São Paulo”, 1974.