BNDigital

Literatura | O Sabino no Espelho

04 nov 2021

Artigo arquivado em Literatura
e marcado com as tags Crônicas, Escritores Brasileiros, Fernando Sabino, Literatura Brasileira, Modernismo, Secult

Escritor, jornalista e editor, Fernando Sabino (Belo Horizonte, 1923 – Rio de Janeiro, 2004) se notabilizou tanto por seus romances cheios de inquietude e questionamentos quanto por crônicas bem-humoradas, calcadas na observação da vida cotidiana.

Sabino fez sua estreia como escritor aos 12 anos de idade, com um conto policial que saiu na revista “Argus”, publicada pela Secretaria de Segurança de Minas Gerais. Adolescente, escrevia crônicas publicadas em periódicos mineiros. Era também nadador; bateu diversos recordes e, em 1939, tornou-se campeão sul-americano na modalidade nado de costas. Em 1941, entrou para a Faculdade de Direito de Minas Gerais e começou a trabalhar como redator para a “Folha de Minas”, por intermédio de Murilo Rubião. Nesse mesmo ano publicou seu primeiro livro, “Os Grilos não Cantam Mais”, reunindo contos que escrevera desde os 14 anos. Seu talento precoce chamou a atenção de Mário de Andrade, que passou a se corresponder regularmente com Fernando Sabino, a aconselhá-lo, a sugerir leituras e até mesmo a censurar o caráter hedonístico, de “arte pela arte”, que via se desenhar em sua obra. A correspondência durou até perto da morte de Mário, em 1945, e foi reunida no livro “Cartas a um Jovem Escritor e suas Respostas”.

Leia uma apreciação de “Os Grilos não Cantam Mais”, publicada na Revista da Semana, 1942 (Hemeroteca Digital)

O livro em que o autor de “Macunaíma” encontrou aquele “traço mundano” (e que, no entanto, elogiou pela linguagem e estilo) era a novela “A Marca”, publicada em 1944, que firmou o nome de Fernando Sabino no cenário da Literatura Brasileira. Naquele ano, ele se mudou para o Rio de Janeiro, onde concluiu o curso universitário, e se tornou colaborador do “Correio da Manhã”. Dois anos mais tarde, foi viver nos Estados Unidos, trabalhou para o Consulado Brasileiro e enviou crônicas a jornais do Rio, para onde regressou em 1948. Passou, então, a trabalhar como escrivão, ao mesmo tempo que continuava a publicar seus textos em periódicos.

Leia a crônica “Natal – 1953” de Fernando Sabino, publicada na Revista da Semana (Hemeroteca Digital)

Em 1956, após ter publicado mais três livros, Fernando Sabino lançou “O Encontro Marcado”, obra com fortes traços autobiográficos. Seu protagonista, Eduardo Marciano – autor de contos policiais quando criança e nadador na adolescência – é um jovem escritor que se inquieta em meio a uma vida de prazeres efêmeros, na qual busca constamente o sentido da vida. O livro foi um sucesso de público e de crítica, teve adaptações teatrais e levou o autor a optar, definitivamente, por viver de literatura.

Leia uma apreciação de “O Encontro Marcado” feita por Augusto Frederico Schmidt na “Revista da Semana”, em 1956. Segundo o resenhista, trata-se de “uma “Educação Sentimental” com características e peculiaridades próprias daquele tempo (Hemeroteca Digital).

Em 1959, Sabino começou a escrever crônicas para o “Jornal do Brasil”, o que fez por 16 anos. Em 1960 viajou a Cuba como correspondente do jornal. Ao regressar, fundou, em parceria com Rubem Braga e Walter Acosta, a Editora do Autor, na qual publicaram escritores como Jean-Paul Sartre e Manuel Bandeira. Também um livro de Fernando Sabino, “O Homem Nu”. Em 1966 ele e Braga sairiam da Editora do Autor para fundar a Sabiá, que publicou os principais nomes brasileiros e latino-americanos, como Gabriel García Marquez, de quem lançaram a obra completa até então. A editora foi comprada pela José Olympio em 1972. Fernando Sabino fundou, então, a Bem-te-Vi Filmes, junto com David Neves, e produziu curta-metragens e documentários. Em 1977, passou a colaborar semanalmente com “O Globo”, que publicou suas crônicas na coluna “Dito e Feito” por mais de uma década.

Dos vários livros que se seguiram a “O Encontro Marcado” destacam-se dois. “O Grande Mentecapto” – que, segundo consta, Sabino começou a esboçar na década de 1940 – foi lançado em 1979 e conta a história de Geraldo Viramundo, uma espécie de D. Quixote mineiro, também taxado de louco e que passa por várias peripécias. O livro deu a Fernando Sabino o Prêmio Jabuti, foi traduzido em vários idiomas e, doze anos mais tarde, levado ao cinema, com Diogo Vilela no papel principal. Já “O Menino no Espelho”, de 1982, é uma recriação fantasiosa da infância do autor, frequentemente adotado em escolas. Gerações de jovens brasileiros conheceram Fernando Sabino através desse livro e, principalmente, dos contos e crônicas publicados na série “Para Gostar de Ler”, lançada em 1977 pela Editora Ática, com grandes tiragens e várias vezes reimpresso.

Leia uma resenha de “O Menino no Espelho”, publicada no Suplemento Literário da Folha de São Paulo em 1983 (Hemeroteca Digital)

Fernando Sabino escreveria ainda mais de vinte livros, entre os quais “Zélia, uma Paixão” (1991) -- biografia da Ministra da Economia de Fernando Collor, Zélia Cardoso de Mello –, “Amor de Capitu” (1998), recriação do romance “Dom Casmurro”, de Machado de Assis, e o infantil “Bolofofos e Finifinos”, publicado em 2004, ano de sua morte. Em seu epitáfio, escolhido por ele mesmo, uma frase que define sua estreita relação com o imaginário que construíra desde a infância e com o processo de autodescoberta: “Aqui jaz Fernando Sabino, que nasceu homem e morreu menino”.


Fernando Sabino por Mendez – Vamos Ler! 1944.