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Literatura | O Velho Graça

02 nov 2021

Artigo arquivado em Literatura
e marcado com as tags Cronista, Graciliano Ramos, Jornalista, Romancistas, Secult

Preso em março de 1936, na onda de repressão que se seguiu ao levante comunista de 1935, o escritor Graciliano Ramos ficou detido até janeiro de 1937, sem que houvesse acusação formal. A experiência na prisão é contada no seu livro “Memórias do Cárcere”, publicado postumamente. Apresentamos hoje, em homenagem ao seu nascimento, um manuscrito da versão inicial de um trecho do livro, datado de 11 de junho de 1949 e doado pela filha do escritor à Biblioteca Nacional. O original se encontra na divisão de Manuscritos e as páginas digitalizadas podem ser consultadas.

Nascido em 27 de outubro de 1892, na cidade de Quebrangulo (Alagoas), Graciliano viveu seus primeiros sete anos em Buíque, Pernambuco, onde entrou em contato com o sertão e seus moradores, que viriam a ser personagens de seus livros anos depois. Após morar em outras cidades da região nordeste, foi sozinho para o Rio de Janeiro, em 1914, onde buscou emprego na imprensa e trabalhou como revisor. Sem se adaptar à cidade e após receber a notícia da morte de irmãos por uma epidemia, logo retornou para junto da família, que agora morava em Palmeira dos Índios, Alagoas. Lá, Graciliano Ramos se casou, adotou a profissão do pai (comerciante) e, em 1927, foi eleito prefeito. Renunciou ao cargo antes de terminar o mandato, mas essa breve experiência lhe abriria as portas para o mundo literário. Seus relatórios de gestão da prefeitura, distantes da forma burocrática usual desse tipo de documento, usavam da ironia e de linguagem literária e chegaram às mãos de Augusto Frederico Schmidt. O poeta, que havia fundado há pouco uma editora, enxergou o talento do ex-prefeito, lhe solicitou um romance e recebeu os originais de “Os Caetés”, que publicou em 1933. Poucos anos depois, à época da prisão de Graciliano, Schmidt seria também uma das poucas vozes na imprensa a se levantar em sua defesa, denunciando a arbitrariedade da prisão e pedindo sua liberdade, no Diário Carioca.

A obra de Graciliano Ramos inclui romances considerados clássicos da literatura brasileira como Vidas Secas (1938) e Angústia (1936), além de livros de contos, crônicas e infanto-juvenis. Muitos de seus contos foram publicados em jornais e podem ser lidos na Hemeroteca Digital como Fabiano (Revista Cruzeiro, 1938), Um Homem Forte (Revista Cruzeiro, 1943) e Dois Dedos (Fon Fon, 1948).

Homem simples, de personalidade sóbria, o escritor foi consagrado ainda em vida como um dos grandes nomes da literatura brasileira e honrado com diversos prêmios. Ao completar 60 anos, pouco antes de falecer, foi amplamente celebrado com uma série de homenagens à sua vida e sua obra. Graciliano Ramos faleceu no Rio de Janeiro, em 20 de março de 1953, deixando uma obra que, já no início de sua carreira, havia sido definida desta forma por José Lins do Rego: “Os seus romances são desses de humanidade tão grande que a gente os sente como a própria vida”.

Explore os documentos:

Carta a Nelson Werneck Sodré tratando da publicação de artigos e comentando trecho publicado por Nelson [Manuscrito], 1938

Carta a Nelson Werneck Sodré descrevendo manifestações populares relacionadas com a Segunda Guerra Mundial [Manuscrito], 1942

Carta a Nelson Werneck Sodré falando sobre colaborações e desculpando-se pela demora em responder sua carta [Manuscrito], 1943

Auto-retrato, Graciliano visto por Graciliano (Revista Leitura, 1942)


Contos e crônicas:

"Contos do Vigário" (Vamos Ler, 1937)

O Novo ABC (Vamos Ler, 1938)

Cadeia (O Cruzeiro, 1938)

Vida Nova (O Cruzeiro, 1941)

Cena de Prisão (Correio da Manhã, 1950)



Manuscrito de Graciliano Ramos, 1949 (acervo FBN/Manuscritos).