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Literatura | Stella Leonardos

27 jun 2022

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Poeta, escritora, tradutora, dramaturga, Stella Leonardos deixou uma obra extensa, traduzida em vários idiomas, notável pela erudição e sensibilidade.

Stella Leonardos da Silva Lima (Rio de Janeiro, 1923 – 2019) nasceu no bairro da Gávea, com escritores e intelectuais entre seus antepassados próximos. Começou a escrever poemas ainda criança e rascunhou o primeiro romance nos cadernos escolares. Na adolescência estudou francês, inglês e a língua tupi, o que a aproximou dos estudos de história e cultura brasileiras que já a fascinavam e que ela viria a desenvolver em sua obra. Publicou seu primeiro poema na revista “Fon-Fon” e, em 1940, um livro, também de poesia, “Passos na Areia”. No ano seguinte publicou “E Assim se Formou a Nossa Raça”, onde recontava lendas brasileiras em versos decassílabos.

Veja uma apreciação de “E Assim se Formou a Nossa Raça” e leia um de seus poemas na “Revista da Semana”, 1942.

Entre os anos 1943 e 1945, Stella Leonardos participou de um grupo de teatro amador e viu ser encenada sua peça “Palmares” pelo grupo Teatro do Estudante, com a colaboração do Teatro Experimental do Negro, dirigido por Abdias do Nascimento. Em 1945 casou-se com o norte-americano, de origem latina, Alejandro Cabassa, com quem viveu por algum tempo no México e nos Estados Unidos. Lá participou de conferências literárias e culturais, representando o Brasil, e fez uma pós-graduação em Línguas Neolatinas, complementando o curso que concluíra na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

A produção da autora inclui romances, peças teatrais para crianças e adultos, ensaios, adaptações, traduções e sobretudo poesia, que os estudiosos consideram vinculada à terceira geração dos modernistas.  Ganhou inúmeros prêmios, vários dos quais atribuídos pela Academia Brasileira de Letras. Entre eles, o Olavo Bilac, em 1957, pela trilogia de livros “Poesia em Três Tempos”.

Leia matéria a esse respeito na revista “Vida Doméstica”, 1957.

Leia a crônica “Potiguara” e alguns poemas da autora na “Revista Brasileira”, 1958.

Uma parte importante da obra de Stella Leonardos foi por ela denominada “Projeto Brasil”. Trata-se da tentativa de retratar os mitos, a cultura e a história do Brasil por meio de poemas longos, reunidos em livros que ela denominava “romanceiros” e “cancioneiros”, aproximando-os das obras medievais de bardos e rapsodos. Entre outras obras do projeto estão o “Cancioneiro de São Luís” (1981), dedicado à capital maranhense, o “Romanceiro da Abolição” (1986), que narra a saga dos africanos escravizados em terras brasileiras, e “Rapsódia Sergipana” (1995), em que a autora faz sua obra dialogar com uma carta autobiográfica do folclorista Sílvio Romero, assim criando uma saborosa intertextualidade. O mesmo recurso já fora notado por Nelly Novaes Coelho, duas décadas antes, ao analisar “Amanhecência”, livro em que Stella Leonardos começa por delinear as raízes líricas, ancestrais, da língua portuguesa para depois abordar o universo poético dos autores brasileiros, chegando aos contemporâneos.

Veja as impressões de Josué Montello sobre o “Cancioneiro de São Luís” (Revista “Manchete”, 1983).

Veja a análise de Nelly Novaes Coelho acerca de “Amanhecência” no “Suplemento Literário de O Estado de São Paulo”, 1974.

Stella Leonardos era membro do Pen Club e da Academia Carioca de Letras. Conviveu com escritores de várias gerações, muitos dos quais afirmaram ter sido incentivados por ela no início de suas carreiras literárias. Hoje a maior parte de seus livros está fora de edição, mas vale a pena garimpar os “sebos” em busca de sua poesia e das histórias que ela soube tão bem contar.



Stella Leonardos em foto da revista “Fon-Fon”, 1943.