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Literatura | Virginia Woolf, escritora britânica

28 mar 2021

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Nascida em 25 de janeiro de 1882 na região de Kesington, cidade de Londres, Adelina Virginia Woolf cresce em um ambiente extremamente culto. Apesar da origem aristocrática, Virginia se opunha ao padrão de vida vitoriano, cujas convenções relegavam à mulherum papel secundário na sociedade. A chegada da juventude junto a uma Londres moderna e pulsante trariam à autora percepções fundamentais, presentes em toda a sua obra.

Mesmo pertencente a um influente círculo social, Virginia não obteve uma educação formal avançada. Porém, tal condição não a impediu de se destacar entre amigos e familiares, que logo cedo perceberam sua aptidão literária. Em 1904 começa a publicar colunas em jornais de grande circulação. Em 1917 se destaca pelas críticas literárias. No mesmo ano fundava junta ao marido Leonard Woolf a Hogarth Press, focada na edição e publicação de autores jovens e modernistas, com destaque para a publicação de volumes da obra de Freud.

Uma das maiores autoras de relevo da literatura britânica, se tornou figura central no Bloomsbury Group. Grupo de origem aristocrática, originalmente denominado “apóstolos” e surgido na Universidade de Cambridge em 1820. Contou com célebres pensadores, entres eles Bertrand Russel, Foster, Maynard Keynes, GE Moore e mais tarde o marido Leonard Woolf.

Exemplo admirável da consciência crítica do romance, sempre vigilante sobre sua produção artística, Woolf foi uma das pioneiras do uso do “fluxo de consciência”, técnica literária que se coloca na vanguarda do modernismo. Seu método consistiana ação direta no limiar entre verdade e ilusão, transpondo a realidade para um plano poético.

Para Woolf, a linguagem atuava como ferramenta de catalisação de dores, vulnerabilidades, sentimentos profundos, pensamentos evasivos, sensações corpóreas. Essa linguagem sinestésica daria conta da diversidade das ações, motivações e emoções. A escrita de Woolf investe no eu-psicológico, nas suas camadas internas e na complexidade de cada indivíduo.

Ela inaugura alternâncias na trama, que partem de perspectivas sincrônicas ou anacrônicas. Os acontecimentos narrados não obedecem a uma cronologia linear, assim comoa perspectiva analítica dos personagens, que são narrados ora a partir da perspectiva interior, ora da perspectiva dos outros, confirmando a tendência modernista. O conjunto da obra de Woolf se dedica a captura dessa atmosfera orgânica, sendo a mais fiel possível às individualidades dos seus personagens. Opera num esforço de tradução das emoções humanas, fonte de sua riqueza poética. Virginia é antes de tudo uma experimentalista.

Assim, a subjetividade das personagens atua como eixo da narrativa, sendo o tratamento psicanalítico o motor que oferece densidade à sua escrita. O investimento dado por Virginia a essas questões corre em paralelo às experiências da romancista, que, ao longo da vida, colecionou colapsos nervosos, devido as instabilidades emocionais, condição mental possivelmente agravada pelo abuso sexual causado pelo meio-irmão.

Entre as principais obras destacam-se: “The Voyage Out”(1915), “Mrs Dalloway” (1925), considerada um de seus primeiros romances modernistas, “To the lighthouse” (1927), um dos romances mais representativos de toda a sua obra, um verdadeiro exercício de psicanálise e “Orlando” (1928), cuja personagem seria inspirada na tensão sexual entre Woolf e a amiga Vita.

No teatro, a Peça de Edward Albee “Quem tem medo de Virginia Woolf?”É sucesso de crítica e público. Adaptação no cinema em 1966 com as estrelas hollywoodianas Elisabeth Taylor e Richard Burton e outras reencenações transcorreram em diversos países, inclusive no Brasil. Também no cinema obras de Woolf inspiraram as produções “Orlando, a mulher especial”(1992), “Mrs. Dalloway” (1997), “As Horas” (2002) e “Um romance nas entrelinhas”(2018).

Em 1931, Virginia oferece uma palestra na “National Society Women Service”. O discurso reafirma a faceta feminista de Woolf que advogava pelo fim dos estereótipos femininos. Segundo ela, são como fantasmas reincidentes, que aprisionam a mulher em modelos disciplinares, submetendo-as à vontade do mundo, predominantemente masculino.

Feminista, acreditava na importância da flexibilização dos papéis sociais desempenhados por homens e mulheres. Era necessário borrar os limites que separavam um homem real de uma mulher real, uma vez que a pretensa natureza desses papéis é fictícia. Como pauta, Woolf pleiteava a conquista por espaços para mulher na educação, no trabalho, estabelecendo um equilíbrio de condições e direitos, especialmente a independência financeira que libertaria boa parte das mulheres do julgo patriarcal. O movimento feminista das décadas de 1960 e 1970 viria a contribuir com a redescoberta da autora no mercado editorial, processo que se fortalece após o lançamento da biografia de Woolf pelo sobrinho Quentin Bell.

Em março de 1941, Virgínia deixa uma carta para Leonard, dizendo que está ouvindo vozes novamente e que teme ter uma outra crise nervosa, dessa vez incontornável. Ela decide interromper a vida se afogando no rio localizado nos arredores da residência dos Woolf. O destino que Virginia confere à própria vida suscitou ao longo do tempo inúmeras interpretações, entre elas, a do desfecho previsível, em virtude de sua fragilidade psíquica. Há muitas controvérsias em torno de tal teoria, posto o importante legado que Woolf deixa para as gerações seguintes. Especialistas em Woolf acordam sobre a importância de se considerar o contexto da segunda guerra, e, sobretudo o desejo de Virgínia em manter a sua dignidade face aos obstáculos que ameaçavam sua integridade física e mental.

(Seção de Iconografia)


Vamos Ler! 1940