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Livros de Aventura | O Conde de Monte Cristo

19 ago 2022


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Autor de uma obra monumental, que inclui poemas, relatos de viagem, libretos de ópera e peças de teatro, o francês Alexandre Dumas escreveu alguns dos mais famosos livros de aventura de todos os tempos.

Alexandre Dumas (Villers-Cotterêts, 1802 – Puys, 1870) era filho do general Thomas Alexandre de la Pailleterie, que lutou na Revolução Francesa e sob o comando de Napoleão, e de sua esposa Marie-Louise Labouret. Sua avó paterna foi a escravizada Marie-Cessette Dumas. Órfão de pai aos três anos de idade, começou a escrever na adolescência, mas alguns de seus trabalhos se perderam; o mais antigo que se conhece é uma peça de teatro intitulada “Ivanhoé”, escrita em 1822. Naquele mesmo ano, Dumas foi viver em Paris, conseguiu um emprego de escrivão e passou a produzir peças de dramaturgia.

Algumas peças de Alexandre Dumas foram representadas no Brasil ao longo do século XIX. Acesse o documento para saber qual foi o parecer do Conservatório Dramático Brasileiro sobre sua peça “Antony”, escrita em 1831 e que requereu licença para apresentação no Brasil em 1844 (Divisão de Manuscritos).

Apesar do seu sucesso como autor teatral, as obras que inscreveram Alexandre Dumas entre os grandes nomes da Literatura Universal foram produzidas a partir dos anos 1830, quando os jornais franceses passaram a publicar os famosos “romans-feuilletons”, aqui conhecidos como folhetins. Seus romances históricos passaram a ser publicados nesse formato, com episódios que saíam semanalmente, e se tornaram muito populares. E, quando a tendência foi copiada pela imprensa brasileira, o primeiro autor a ter uma obra traduzida e publicada integralmente nesse modelo foi ninguém menos que Dumas, cujo romance “O Capitão Paulo” apareceu no “Jornal do Commercio” no final de 1838, apenas três meses depois de começar a ser veiculado no periódico francês “Le Siècle”.

Leia um artigo que apresenta Alexandre Dumas aos leitores brasileiros, alguns anos antes do início da publicação de seus romances em folhetim no “Jornal do Commercio”. O periódico publicou ao todo vinte e duas obras do autor.

Embora o auge de sua popularidade entre os franceses tenha acontecido nas décadas de 1840-1850, Dumas continuou a ser traduzido e apreciado em vários países, alguns dos quais chegou a visitar. Foi o caso da Rússia, da Inglaterra e da Itália, onde viveu entre 1860 e 1864. Voltou então à França, onde, embora sem a mesma repercussão das primeiras obras, continuou a escrever, a traduzir e a adaptar. Viveu também a última de suas muitas aventuras amorosas, das quais nasceram quatro filhos. Dois deles se tornaram escritores: Alexandre Dumas, filho, futuro autor de “A Dama das Camélias”, e Henry Bauer, que se dedicou sobretudo à crítica teatral.

Nem todos os romances de Dumas podem ser considerados livros de aventura. Estes, contudo, são os mais famosos universalmente. O mais conhecido é, sem dúvida, Os Três Mosqueteiros” (1844), que, no ano seguinte, ganhou uma continuação menos famosa, “Vinte Anos Depois”. Também se tornaram muito populares “Os Irmãos Corsos” (1844), “A Tulipa Negra” (1850) e, por fim, “O Conde de Monte Cristo”, uma das várias obras escritas em colaboração com o ex-professor Auguste Maquet. Em sua apresentação do livro, escrita para a edição integral da Zahar, Rodrigo Lacerda explica que Maquet – assim como vários outros colaboradores de Alexandre Dumas -- se encarregou de uma pesquisa histórica prévia e de um esboço, mas não da escrita em si, e que por isso teve negado o direito de coautoria requerido em tribunal.

“O Conde de Monte Cristo” apareceu em folhetim entre 1844 e 1846 no “Journal des Débats”. No Brasil, foi publicado no “Jornal do Commercio” a partir de 1845. Veja um episódio:

A narrativa de “O Conde de Monte Cristo” se inicia em 1815, quando o jovem marinheiro Edmond Dantès – em boa parte baseado noutro personagem de ficção, Pierre Picaud, criado pelo romancista francês Étienne-Léon de Lamothe-Langon -- é atraiçoado por falsos amigos, às vésperas de se casar com sua amada Mercedes. Acusado de ser um conspirador bonapartista, ele passa vários anos na prisão da fortaleza de If, próxima a Marselha, da qual sai com a ajuda de um companheiro de cárcere, o Abade Faria. Por seu intermédio, apropria-se de um tesouro escondido e assume a identidade de Conde de Monte Cristo para empreender uma implacável vingança contra aqueles que o traíram. Além de personagens complexos, pertencentes a várias camadas do espectro social (e inclusive à parte dele, como bandidos e contrabandistas), o enredo é recheado de intrigas e reviravoltas que agradaram em cheio aos leitores.

O sucesso do folhetim levou à rápida publicação da obra no formato livro – na verdade, livros, visto que a primeira edição francesa saiu em dezoito volumes.  Outras se seguiram, circulando inclusive no Brasil, onde eram comercializadas pela Livraria e Editora Garnier. As pesquisadoras Valéria Bezerra e Priscila Gimenez, da UFG, observam que a princípio os romances eram vendidos em edições francesas, mas o editor Baptiste-Louis Garnier não tardou a perceber a demanda do mercado: já em 1851, o “Jornal do Commercio” anunciou a venda de títulos em português, entre os quais “O Conde de Monte Cristo” (em seis volumes) e outras obras de Alexandre Dumas, na Livraria Garnier, no centro do Rio de Janeiro.

Novas edições surgiram ao longo das décadas seguintes, bem como adaptações que integraram coleções de clássicos para jovens. A de maior circulação foi possivelmente a de Miécio Táti, publicada pela Ediouro e pela Abril Cultural na década de 1970. A obra foi também popularizada através de outras mídias. No cinema, teve mais de 30 versões, sendo a primeira um filme mudo de 1918. Também foi adaptada para o teatro, para a televisão e para os quadrinhos.

Veja páginas de “O Conde de Monte Cristo” em quadrinhos, no “Suplemento Juvenil” (1940).

Em 2008 a Editora Zahar publicou uma versão integral, traduzida por André Telles e Rodrigo Lacerda, que possibilita ao leitor contemporâneo conhecer o texto de Dumas com todos os seus nuances.



“Suplemento Juvenil”, 1940.