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Livros de Aventura | Obras de Emilio Salgari

04 ago 2022

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e marcado com as tags Coleção Terramarear, Emilio Salgari, História Editorial Brasileira, Livros de Aventura, Livros Juvenis, Sandokan, Secult

Embora muitos o tenham considerado o “Júlio Verne italiano”, Emilio Salgari, ao contrário do francês, não tinha intenções pedagógicas, nem buscava disseminar o conhecimento científico ao escrever seus mais de oitenta romances de aventuras.

Salgari (Verona, 1862 – Turim, 1911) nasceu numa família de pequenos comerciantes. Aos doze anos ingressou no Instituto Técnico Naval Real Paolo Sarpi, em Veneza, mas nunca se formou, embora tenha chegado a realizar algumas viagens em navio-escola e navios mercantes. Em 1883 publicou seu primeiro conto em revista, intitulado “Os Selvagens da Papuásia”, e depois um romance em folhetim, que saiu no jornal “Nova Arena” com o título “Tay-See”. A obra, ambientada na Cochinchina (sul do atual Vietnam) foi depois publicada em livro com o título “A Rosa de Dong Giang”.

Em 1892, já tendo publicado vários livros, Salgari se casou com a atriz de teatro Ida Peruzzi, com quem teria quatro filhos. Para fazer frente às despesas da família, contava com a venda de suas obras, mas os contratos que assinou com editores de diferentes cidades italianas e estrangeiras – e, aparentemente, a má-fé de boa parte deles – não lhe garantiam o necessário e o fizeram contrair dívidas. A situação se agravou quando a esposa adoeceu com tuberculose e teve de ser internada em um sanatório público. Vivendo sob constante pressão, tanto por parte dos credores quanto dos editores que exigiam novas obras, Emilio Salgari acabou por cometer suicídio. Numa carta que deixou aos filhos pedia que cuidassem da mãe, enquanto em outra, dirigida aos editores, acusava-os de ter enriquecido às suas custas e se despedia “quebrando a pena” com a qual produzira dezenas de livros.

Leia a notícia da morte de Salgari no jornal carioca “A Imprensa”, 1911.

Leia, no periódico “A Lanterna”, a notícia de publicação de uma obra de Salgari por uma editora de Barcelona (1912).

Embora tenha chegado a afirmar que seus livros, ambientados em lugares remotos de vários continentes, foram inspirados nas viagens que fez como marinheiro, a verdade é que Salgari adquiriu a maior parte do seu conhecimento por meio da leitura. Não foi um aventureiro como Jack London, nem viajou para ver de perto os lugares sobre os quais pesquisara previamente, como Júlio Verne. Ainda assim, seus livros se tornaram muito apreciados, tanto ao longo de sua vida quanto em décadas seguintes. Os mais famosos são os que giram em torno de piratas da Malásia, com destaque para a figura de Sandokan, seu personagem mais conhecido. Surgido em 1883 no romance “Os Tigres de Mompracem”, o pirata que combate o Império Britânico e a Companhia das Índias aparece em onze livros, sempre acompanhado pelo aventureiro português Yanez De Gomera.

Além dos livros de Sandokan, Salgari escreveu também um conjunto de histórias de piratas nas Antilhas, um no Velho Oeste e romances independentes, tais como “A Cimitarra de Buda” e “O Capitão Tormenta”, ambientado no período das guerras entre cristãos e muçulmanos no Chipre (século XVI) e cuja protagonista é a duquesa italiana Eleonora, que viaja disfarçada como um guerreiro (o Capitão Tormenta do título). Em 1907, embora com menos conhecimento de ciência e tecnologia que Júlio Verne, arriscou-se a algumas previsões futuras em “As Maravilhas do Ano 2000”. E tal como o francês, que algumas décadas antes escrevera “A Jangada”, publicou um livro que se passa no Brasil, intitulado “O Homem de Fogo” (1904).

Ao contrário do que lhe diziam os editores, os romances de Salgari fizeram muito sucesso ao ser publicados na Itália, com tiragens que alcançavam 10.000 exemplares. Não demorariam a ser traduzidos para outros idiomas, como o espanhol e o português. O pesquisador da Universidade Nova de Lisboa, Nuno Medeiros, afirma ter sido a editora da Livraria Romano Torres a responsável pela edição em língua portuguesa de quase todas as obras de Salgari, e que a partir dessas traduções os livros se tornaram conhecidos no Brasil.

Veja o anúncio de futura publicação de “O Filho do Corsário Vermelho”, de Salgari, na coleção “Bibliotheca Correio da Manhã” (1915).

Em 1926, vários periódicos anunciavam que uma pequena coleção de obras de Salgari podia ser adquirida na loja do livreiro Braz Lauria, no Rio de Janeiro. Em 1930, tinha histórias publicadas em jornais brasileiros, ao estilo dos folhetins. E em 1933 um de seus livros, com o título “Song-Kay, o pirata” e tradução revista por Júlio César da Silva, foi publicado como segundo volume da Coleção Terramarear, dirigida por Monteiro Lobato. A mesma coleção publicaria outros títulos do autor italiano e serviu para torná-lo conhecido e apreciado no Brasil. Salgari teve também suas obras adaptadas para o cinema, para a televisão – onde, em 1976, o ator paquistanês Kabir Bedi se tornou conhecido por sua interpretação de Sandokan – e para os quadrinhos.

Leia o romance-folhetim “Na Costa do Brasil”, publicado na edição infantil do jornal “A Gazeta” (1930).

Veja histórias de Salgari quadrinizadas na “Gazeta Juvenil” (1948 – 1949):

http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=764507&pesq=%22Emilio%20Salgari%22&pasta=ano%20194&hf=memoria.bn.br&pagfis=11364

http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=764507&pesq=%22Emilio%20Salgari%22&pasta=ano%20194&hf=memoria.bn.br&pagfis=12808

Embora sucesso de público, Emilio Salgari foi praticamente ignorado pela crítica, que considerava seus livros obras “menores”, feitas apenas para o entretenimento. Depoimentos de escritores que o leram na juventude atestam, contudo, o quanto sua imaginação foi impulsionada por meio dos livros do italiano.

Leia uma apreciação de “As Maravilhas do Ano 2000”, livro de ficção científica de Salgari, por Paulo Mendes Campos (“Manchete”, 1976).

 



Sandokan e Yanez na versão quadrinizada de “Os Tigres de Mompracem”.