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Memória e Pesquisa | Arquivos Pessoais na Biblioteca Nacional

22 jul 2021

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A letra da música “Bom Tempo”, escrita em 1973, em um pedaço de papel, de provável grafia de Chico Buarque ilustra o processo de criação de um documento, por uma pessoa. Os documentos manuscritos são criados e evidenciam as formas das letras, garranchos, letras desenhadas, erros ortográficos, abreviações, palavras inventadas. Ao longo da trajetória dos indivíduos é comum, e, fruto das rotinas pessoais e profissionais, o recebimento, criação e acumulação de documentos, não só os manuscritos. Contas de consumo, de cobranças, cartas, convites, bilhetes, certidões, recortes de jornais, fotografias, diários, cadernos de receita são exemplos de documentos recorrentes em nossas vidas.

Uma característica marcante dos arquivos de pessoas é a motivação do acúmulo, que versa mais sobre a subjetividade, desejos, preferências e menos sobre questões jurídicas ou administrativas. São documentos que além do caráter probatório de alguma ação, evocam sentimentos, ligações com outras pessoas, com o trabalho, lazer, hábitos e costumes.

Os arquivos pessoais são aqueles produzidos, recebidos e acumulados no decorrer da vida de uma pessoa, seja no âmbito particular, privado ou no profissional. Os documentos são evidências, provas, relatos de uma vida, representação, imaginação, articulação de um indivíduo consigo mesmo e com o seu meio. De forma institucionalizada, é mais comum encontrarmos arquivos de pessoas como escritores, professores, cientistas, acadêmicos, músicos, teatrólogos, políticos. No entanto, os registros produzidos por pessoas conhecidas ou não, são relevantes para a manutenção da memória local e coletiva.

Durante muitos anos, estes registros habitavam somente o plano pessoal, não sendo incorporado aos estudos historiográficos, aos relatos e a construção das narrativas históricas e na tradição arquivística.Em um primeiro plano, a Arquivologia, ciência que atua sobre os documentos e a formação, manutenção, acesso e preservação dos arquivos se ocupava majoritariamente dos documentos e arquivos institucionais, sobretudo, dos documentos oficiais e públicos. Os documentos produzidos, recebidos e acumulados por pessoas não encontravam espaço para a custodia, não eram doados, ou recolhidos por arquivos públicos. E também não eram incluídos no pensar e no fazer da Arquivologia.

Neste contexto, as bibliotecas foram os primeiros espaços a receberem os arquivos pessoais. Os arquivos pessoais eram custodiados a partir de critérios como a raridade dos documentos, valor informativo, histórico e cultural, a relevância atribuída ao titular do arquivo, o valor econômico do conjunto documental e a relação temática dos documentos com a instituição e com outros fundos ou coleções. Do ponto de vista técnico, estes documentos custodiados por bibliotecas recebiam tratamento diferente dos arquivos institucionais.

A ausência de princípios arquivísticos norteadores na organização dos documentos é um ponto que merece destaque, em especial, com o princípio de respeito aos fundos. Ou seja, da não dispersão de documentos produzidos pelo mesmo produtor, a mesma pessoa. Os documentos nas bibliotecas, majoritariamente, eram organizados por classificações temáticas, descrições individuais e muitas vezes exaustivas. Muitos arquivos pessoais, possivelmente, foram desfeitos para atender agrupações de coleções temáticas.

A tradição dos manuscritos históricos, de seções de manuscritos e documentos textuais nas bibliotecas nacionais tornou-se recorrente, sobretudo, a partir dos documentos de escritores e literatos. A Fundação Biblioteca Nacional custodia fundos arquivísticos e coleções documentais oriundas de arquivos pessoais. A Divisão de Manuscritos abriga a maior parte destes documentos, como os arquivos e coleções de escritores, intelectuais, professores, médicos e cientistas.Na Divisão de Iconografia é possível encontrar os documentos de Alair Gomes e do Brício de Abreu, que além de documentos textuais, os documentos efêmeros e fotográficos compõem os fundos. Já na Divisão de Música, é possível localizar documentos de compositores e músicos brasileiros, como Abrãao de Carvalho e Luciano Gallet.

Os arquivos pessoais, podem até receber tratamento técnico distintos a depender da natureza da instituição que o custodia, arquivo ou biblioteca. No entanto, são peças indispensáveis para a construção da memória individual e coletiva do país, sendo fonte de prova, testemunho e história. A Biblioteca Nacional possui em seu acervo documentos textuais, possibilitando inúmeras fontes de pesquisas.

Acesse a letra da música “Bom Tempo”.

Conheça o Guia de Coleções da Divisão de Manuscritos da Biblioteca Nacional.