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Música | Ary Brasileiro Barroso

14 nov 2020

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e marcado com as tags Ary Barroso, Biblioteca Nacional, Música Popular Brasileira

Ary Barroso (1903-1964) era monumental. Criou o samba exaltação que descobriu o “Brasil brasileiro”, o “mulato izoneiro” e a “merencórdia luz da lua”. Compositor de vasta produção musical com inúmeras obras primas, também foi apresentador de programas na rádio, locutor e comentarista esportivo.

Em seu programa de rádio mais famoso, “Calouros em Desfile”, quem mandava era a música brasileira e Ary era o seu maior guardião. Exigente, quem desafinava ou errava na melodia ganhava uma solene gongada. Se o calouro anunciasse que ia cantar um “sambinha”, Ary Barroso logo vestia sua capa de mau humor e interpelava o candidato: “Se fosse mambo não seria mambinho, se fosse bolero não seria bolerinho, mas samba é sambinha”. No seu programa o samba merecia respeito. Graças à sua fama de mau, quem não era gongado se transformava em sucesso imediato.

No esporte Ary Barroso foi um inovador. Locutor esportivo famoso pela sua paixão pelo Flamengo, não disfarçava sua devoção durante as transmissões dos jogos. A sua famosa gaita trinava empolgando os torcedores quando aparecia um gol, especialmente quando era do Flamengo, o que lhe rendeu o apelido de “speaker da gaitinha”. Criou a figura do repórter de campo e fez uma transmissão ao vivo do jogo Brasil X Uruguai empoleirado no telhado porque não obteve autorização para a transmissão oficial.

Seu samba “Aquarela do Brasil”, forjado no ufanismo do Estado Novo, símbolo mor do samba exaltação, tornou-se a música brasileira mais popular no exterior até o aparecimento da bossanovista “Garota de Ipanema”. No final da vida Ary ressentiu-se do desconhecimento da sua obra no seu próprio país: “minha música só agrada quando tocada por estrangeiros”. Faleceu num domingo de Carnaval quando o Império Serrano entrava na avenida com o enredo “Aquarela Brasileira”.


“Ary Barroso: sou um morto vivo”. Manchete, 1961