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Música | Chiquinha Gonzaga, compositora brasileira

28 fev 2021

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Nascida em uma família abastada, fruto da relação do Marechal de Campo José Basileu Neves Gonzaga e Rosa Maria Neves de Lima, negra e forra, Francisca Edwiges Neves Gonzaga subverteu valores em uma sociedade pretensamente civilizada, conquistando espaços privilegiados. Considerada a primeira mulher compositora popular do Brasil, Chiquinha elevou o papel social da mulher, especialmente da mulher negra e mestiça, dado frequentemente ocultado face ao tratamento eugenista destinado a musicista.

Inicialmente compondo polcas, Chiquinha é autora de inúmeras partituras somando um conjunto de operetas, valsas, cançonetas, que fizeram história, como a peça “Jurity”, parceria com dramaturgo Viriato Correia, “Côrte na roça”, ópera cômica realizada em 1885 nos primórdios de sua carreira e“Casa de Caboclo”, musicada por Chiquinha e exaustivamente executada nas rádios.

Reverenciada pelo grande público, Chiquinha agradava não somente os populares, sua música era requisitada em espetáculos do Império como parte dos concertos realizados pela maestrina nos principais teatros da cidade.

Elogiada pela crítica por harmonizar o erudito e o popular, imprimindo com excelência ritmos de matriz africana, Chiquinha transitava habilmente entre os gêneros “sacro” ao “brejeiro”. Na virada do XIX ao XX, lundus, chorinhos e outras manifestações musicais, reverberavam na cidade carioca, em logradouros como a Praça XI, mais conhecida como “A pequena África”. É o nascimento do maxixe, do samba, influências importantes na vivência musical da compositora e que trazem à tona a tradição da participação de mulheres negras para a formação da cultura musical brasileira.

Escreveu livros, publicou diversas crônicas e artigos em jornais. Viajou com sua música pelo Brasil e Europa. Entre os maiores sucessos, a marchinha carnavalesca “O abre-alas”, o tango “Corta Jaca”, imortalizada na voz dos duetistas “Os Geraldos”, “Forrobodó” e “Lua Branca” agitaram os salões da cidade, com destaque para a residência presidencial no Palácio do Catete. Enfrentou de forma corajosa questões jurídicas, reivindicando a autoria de músicas e justa remuneração pelas canções. Apaixonada pelo ofício, dedicou-se à música até seus 87 anos, quando lançou sua última partitura musical.

Um busto de bronze localizado no Passeio Público, no Rio de Janeiro homenageia sua trajetória, uma iniciativa do Centro Carioca e da Sociedade de Cultura e Memória de Chiquinha Gonzaga.

(Seção de Iconografia)


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