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Música | Gravação do álbum Native Brazilian Music

21 jan 2021

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A história da gravação de um tesouro da música popular brasileira: o álbum Native Brasilian Music.

No dia 7 de agosto de 1940 chegou ao Rio de Janeiro Leopold Stokowsky, o maestro pop de Hollywood, responsável pela produção musical do desenho animado Fantasia. Vinha fazer uma apresentação no Teatro Municipal com a sua famosa orquestra All-American Youth Orchestra, composta por músicos de todos estados norte-americanos. Mas tinha também outra missão: fazer um registro da mais genuína música popular brasileira, não aquela que estava nas rádios da época, mas a que era ignorada pela indústria musical e que estaria em risco de desaparecer, um legado a ser resguardado, uma relíquia histórica circunscrita às dimensões da tradição e do folclore.

Para realizar esse projeto, contou com a ajuda de Villa Lobos, figura central na política cultural do governo Vargas, responsável pelo ensino de música nas escolas. A seleção do repertório foi feita por Villa Lobos e a gravação foi a bordo do navio Uruguay, com o auxílio dos técnicos da matriz da gravadora Columbia. O material deveria ser apresentado em um futuro congresso pan-americano de folclore, evento planejado dentro do programa da Política da Boa Vizinhança, com o objetivo de promover a aproximação diplomática, econômica, militar e cultural dos Estados Unidos com os países da América Latina.

Villa Lobos reuniu a nata da tradição musical de matriz popular e urbana. Para começar, a “santíssima trindade”, Donga, João da Baiana e Pixinguinha. O genial clarinetista Luís Americano, Cartola, Zé da Zilda, ala das pastoras e ritmistas da Mangueira. José Espinguela, pai de santo e carnavalesco que incorporou ao repertório pontos de macumba. Villa Lobos convocou um quarteto vocal de seu canto orfeônico para interpretar cantos indígenas. Foram gravados chorinhos, emboladas, frevos, maracatus, maxixes, modinhas, sambas de morro, toadas sertanejas. Destas gravações foram selecionadas para dois álbuns sob o título de Native Brazilian Music. O restante dos fonogramas produzidos neste dia foi enviado para a gravadora Columbia, mas não foi localizado. Esta obra permaneceu inédita no Brasil até 1987, quando foi produzida uma tiragem limitada pelo Museu Villa Lobos. A Seção de música da Biblioteca Nacional possui em seu acervo uma cópia do álbum Native Brazilian Music original, em 78 rpm.


“Música do morro para Stokowski ouvir”. Diário da Noite, Rio de Janeiro, 8 de agosto de 1940.