BNDigital

Música | Orestes Barbosa, cronista do submundo da cidade maravilhosa

15 ago 2021

Artigo arquivado em Música
e marcado com as tags Biblioteca Nacional, manchete 1966, Orestes Barbosa, Secult

Orestes Barbosa teve uma vida intensa, tanto que, em entrevista ao Diário de São Paulo em 1952, ao ser indagado porque não escrevia suas memórias disse que se o fizesse todos iriam dizer que era ficção.

Escritor, cronista e compositor era um “menino da rua”, como ele mesmo se denominava. Aprendeu a ler e escrever com Clodoaldo Moraes, seu amigo e filho de professora, que se tornaria pai de Vinícius de Moraes.

Amava a rua, nas calçadas do Rio de Janeiro conviveu com boêmios, sambistas, seresteiros e marginais. Começou como jornalista e gostava de cobrir a cidade marginal. Iniciou como revisor e passou a repórter de polícia, função na qual se tornou especialista por ter estado preso duas vezes por injúria. Na Casa de Detenção escreveu crônicas sobre os prisioneiros e a vida lá que virou um livro “Na Prisão”. Lá conheceu João Cândido, o “almirante negro”, líder da Revolta da Chibata. Dizia que se as pessoas vissem a Detenção por dentro, veriam o Brasil todo lá.

À sua inclinação pelo submundo juntava-se a um estilo de escrita em que a língua falada invadia a estrutura da escrita com parágrafos de uma só frase, como se estivesse em uma conversa informal com o leitor, um estilo que ficou conhecido como picadinho, marca registrada de Orestes Barbosa. Um estilo que seria lançado como novidade pelo modernismo paulista, mas que já estava em voga pelas bandas cariocas. Na forma e no conteúdo estava na vanguarda. Outro livro seu, “Ban-ban-ban!”, mostra um Rio de Janeiro desconhecido: o mundo do morro Favela, do bordel de Alice Cavalo de Pau, do presídio, da macumba de Mãe Elvira da Boca do Mato, incluindo um impagável glossário de gírias cariocas no final.

Sua carreira como compositor/letrista tomou impulso depois do empastelamento dos jornais que trabalhava depois da Revolução de 1930. Fez parcerias com bambas como Francisco Alves, Antônio Nássara, Silvio Caldas e Noel Rosa e Wilson Batista, entre outros tantos. Teve grandes sucessos como “A mulher que ficou na taça”, “Óculos Escuros”, e o clássico “Chão de Estrelas”. Mario Lago o apelidou de “cenógrafo do samba” pelas belas imagens que produziu em suas composições, verdadeiros poemas musicados.

Observador atento da cidade, frequentador do quartel general do samba, o Café Nice, divulgou em suas crônicas e colunas a vida musical da cidade e foi um dos primeiros, junto com Francisco Guimarães, o Vagalume, a inaugurar uma historiografia sobre o samba com o livro “Samba, sua história, seus poetas, seus músicos, seus cantores” em 1933. No livro, assume categoricamente "O samba é carioca. A emoção da cidade está musical e poeticamente definida no samba”. E assim fez escola.

(Seção de Iconografia)