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Novas Diretrizes

31 mar 2015

Artigo arquivado em Hemeroteca
e marcado com as tags anticomunismo, Antisemitismo, Antônio José de Azevedo Amaral, Conservadorismo, Crítica política, Estado Novo, Fascismo, Getúlio Vargas, Militarismo, Nacionalismo, Rio de Janeiro, Segunda Guerra Mundial, Xenofobia

Novas Diretrizes foi uma revista mensal lançada no Rio de Janeiro (RJ) em novembro de 1938, era dirigida pelo intelectual de direita Antônio José de Azevedo Amaral, seu proprietário e antigo redator-chefe de O Paiz. Naquele mesmo ano de 1938 Amaral havia se desligado da direção da revista Diretrizes, posto que exercia com o auxílio de Samuel Wainer. Amaral havia se desentendido com Wainer, fundando Novas Diretrizes a partir de uma subvenção junto à empresa estrangeira Light and Power – conseguida inicialmente para Diretrizes, fundada em abril de 1938. A redação e a administração da nova revista funcionaram primeiro no nº 58 da Rua do Ouvidor, mudando, já no fim de 1938, para o nº 27 da Rua Álvaro Alvim. Cada edição custava 1$500, com assinaturas anuais a 18$000.

A revista de Azevedo Amaral publicava principalmente artigos e ensaios de teor político (o assunto mais explorado no periódico, seja em âmbito nacional ou internacional), social, cultural e econômico – além destes, notas, comentários, informes gerais, resenhas e críticas de livros (com destaque a livros da José Olympio Editora), textos transcritos da imprensa internacional, entrevistas, textos em prosa e publicidade também eram veiculados. Editada em pequeno formato e com mais de 60 páginas por edição, Novas Diretrizes era visualmente semelhante a livros, com raríssimas imagens e longos textos diagramados em apenas uma ou duas colunas em cada página. As capas de todas as edições eram praticamente idênticas.

No seu nº 1, o periódico publicava um editorial de Azevedo Amaral que explicitava:
Esta revista, que será o veículo para difusão de idéias, cuja propaganda foi embaraçada e contraditada em outra publicação periódica, aparece exatamente poucos dias antes do primeiro aniversário do Estado Novo. Há talvez uma dessas curiosas e inexplicaveis rimas das coisas na coincidência do surto de Novas Diretrizes com o encerramento do primeiro ciclo solar da organização nacional, emergida da iniciativa corajosa do Presidente Getúlio Vargas, ao realizar a revolução construtiva de 10 de novembro de 1937.

Destacando-se a autoridade estatal, a revista endossava o programa político do Estado Novo sem restrições, julgando-o um modelo superior ao comunismo russo, ao nazismo alemão e ao fascismo italiano. O periódico nada mais do que refletia o ideal conservador de Azevedo Amaral, figura contrária ao sufrágio universal no Brasil e defensora de um estado autoritário corporativista não totalitário – daí tanto suas restrições quanto ao fascismo e ao comunismo. No entanto, com o desenrolar da Segunda Guerra Mundial, Novas Diretrizes tomou partido a favor das potências do Eixo, muito pelas semelhanças do Estado Novo com modelos autoritários europeus (ver artigos publicados em edições de 1940 aplaudido e justificado algumas ações e políticas públicas italianas). Cabe ressaltar que a revista Diretrizes, que originou Novas Diretrizes, então sob a direção exclusiva de Samuel Wainer, tomou a posição inversa, a dos Aliados, tornando-se sua antagonista.

Além de pró-Getúlio Vargas, já em sua primeira edição Novas Diretrizes se mostrava nacionalista, desenvolvimentista, militarista, xenófoba, antiliberal e aintiimperialista, flertando com programas e pensamentos associados a regimes autoritários da década de 1930 – o periódico chegou, aliás, a explorar razoavelmente a temática da eugenia em seus primeiros momentos. Em suas edições iniciais Novas Diretrizes assumia uma postura dura contra o recebimento de imigrantes e refugiados de guerra no Brasil, argumentando, em sua edição nº 3, de janeiro de 1939:
(...) chamaremos apenas a atenção para o fato de que a grande maioria dos refugiados, além de indesejáveis por virem em um estado de verdadeira exaltação da consciência racial e cheio(s) de rancor contra os elementos étnicos diferentes, é formada por indivíduos mais ou menos profundamente influenciados pelo comunismo.

Como era de se esperar, Novas Diretrizes se destacava também como severamente antimarxista, sempre disposta a discutir criticamente o comunismo e políticas de esquerda. Todavia, seu rigor antissemita tamém era elevado. No nº 33, de julho de 1941, o texto "Infiltração judaica" dizia:
O problema da penetração subreptícia de alienígenas indesejáveis continua misteriosamente a enfrentar as boas intenções e as iniciativas salutares do poder público, para livrar o país desse flagelo (...) o Brasil, com o sentimentalismo que nos veiu com as tradições liberais e com as influências africanas que desvirilizaram entre nós o espírito cristão, dando-lhe a fisionomia de uma doutrina de fraqueza e de tolerancia em relação a todas as formas de atividade maléfica, extendeu insensatamente a sua hospitalidade aos refugiados, que os outros povos se dispunham a repelir à bala, se tanto fosse necessário. (...) As ruas da nossa magnífica capital já se estão desnacionalizando com a presença dessa legião de elementos humanos inconfundíveis pelos estigmas de deterioração física que a decrepitude racial lhes estampou no corpo.

Embora nem sempre aplaudisse o fascismo e o nazismo, por vezes também criticados, por volta de 1941 os artigos de Azevedo Amaral e de alguns colaboradores de Novas Diretrizes se tornaram mais claramente alinhados ideologicamente com as potências do Eixo (ver edição nº 33, de julho de 1941), criticando duramente nações liberais como a Inglaterra e os Estados Unidos (ver série "A mentira a serviço da Inglaterra", no segundo semestre de 1941). Logo após selar seu apoio ao Eixo, no lançamento do seu nº 33 na primeira quinzena de julho de 1941, ao chegar a sua 34ª edição, Novas Diretrizes passou a circular como uma publicação quinzenal (a partir, portanto, da segunda quinzena deste mês). Essa modificação não diminuiu seu número de páginas.

A postura pró-Eixo não durou muito em Novas Diretrizes; isso inclusive contribuiu para o fim da revista. Mais ou menos no começo de 1942, o periódico demonstrava cada vez menos suas afinidades com o Eixo, explorando menos o assunto da Segunda Guerra Mundial. Depois desse período, a revista continuou focada no anticomunismo, na defesa da pátria, da família, do militarismo e do cristianismo. Novas Diretrizes circulou pelo menos até sua 61ª edição, datada da primeira quinzena de setembro de 1942. O fim do periódico provavelmente deu-se neste ou em algum momento próximo, coincidindo tanto com a entrada do Brasil no conflito em outubro de 1942, do lado dos Aliados (ocasionando grande contradição na sua pauta política), quanto com o falecimento de Azevedo Amaral.

Em linhas gerais, ao longo de seu tempo de vida, Novas Diretrizes discutiu prioritariamente políticas gerais do Estado Novo, como a liberdade de imprensa e a liberdade econômica nesse contexto (conforme discutido já no nº 1 – em sua 27ª edição, de janeiro de 1941, a revista defendia a nacionalização da imprensa), a postura de Vargas frente ao capital estrangeiro, o Plano Quinquenal, política financeira e economia nacional, relações do Estado Novo com a Igreja, políticas públicas de imigração e colonização, instituições e serviços públicos, organização sindical e questões trabalhistas no governo Vargas, assistências do governo à classe trabalhadora (como habitações para o operariado), o plano nacional de educação, Caixas Econômicas, o Imposto de Renda, a defesa de uma faceta democrática do governo Vargas (ver "Incompreensão democrática" no nº 10, de agosto de 1939), pronunciamentos do chefe de Estado, o Departamento de Imprensa e Propaganda, questões ditas de segurança nacional, relações internacionais, o Serviço Nacional de Recenseamento (o periódico fez campanha para o Censo de 1940), soberania nacional (ver, em edições do início de 1941, críticas ao "Intelligence Service" e os "seus tentáculos" no Brasil), rumos gerais do Brasil, etc. Paralelamente, também eram abordados assuntos como crises político-econômicas na Europa pré-Segunda Guerra Mundial, a expansão industrial no Brasil, figuras de destaque na história e na política nacionais (como Cândido Rondon, no nº 1), imigração e refugiados da Segunda Guerra Mundial no Brasil ( a partir da edição nº 1), grupos sociais brasileiros e seleção humana (ver artigos de Fernando Silveira na edição nº 6, de abril de 1939, e na edição nº 7, de maio daquele ano), sociometria e biometria humana (também em artigos de Fernando Silveira), pan-americanismo, educação moral e cívica, estrangeirismos considerados nocivos, o regime salazariano em Portugal (visto com bons olhos por José Soares Franco, secretário do Ministério da Educação de Portugal), militarismo, história política (do Brasil, da América Latina e do mundo), ciências, psicologia, juventude nacionalista, o conceito de brasileiro nato (ver edição nº 2, de dezembro de 1938), questões político-jurídicas, a defesa do patrimônio material e dos recursos naturais brasileiros, cinema, moralismo e fé cristã, extração da borracha no Brasil (ver edições do início de 1942), questões energéticas, o papel da imprensa na realidade política da época, economia cafeeira e exploração do petróleo no Brasil, saúde e medicina, literatura, teatro brasileiro, o papel sócio-político dos intelectuais, a malha ferroviária no Brasil, a Segunda Guerra Sino-Japonesa, antissemitismo na Europa (ver "Ainda o caso Hore-Belisha" na edição nº 17, de março de 1940) e a questão judaica na Segunda Guerra Mundial (ver edição nº 23, de setembro de 1940), propaganda anti-comunista, economia popular, filosofia e teologia (ver a série "Os Parses e as torres de silêncio", de Homem de Barro, iniciada no nº 5, de março de 1939), aspectos e ações de políticas públicas da Itália fascista (ver edições do início de 1940), cooperativismo e crédito rural, futebol internacional, sucessão papal, cultura popular, geografia e geopolítica, saúde pública, congressos e encontros, questões fronteiriças nacionais, racionalismo e estatismo, questões urbanas, linguística e a defesa da "boa linguagem" (ou seja, português sem estrangeirismos), antropologia e sociologia, questões de ordem militar, Maçonaria, entre outros assuntos.

Alguns dos nomes que assinaram artigos em Novas Diretrizes, além dos já citados e do próprio Azevedo Amaral, foram João Pinheiro Filho, Humberto Ribeiro, Salles Filho, Cel. Augusto Freire, Dr. H. B. Conde, Francisco Cuchet, Zenaide Andréa (responsável pela coluna "Cinema"), Graccho Cardoso, J. Pires do Rio, J. H. Naumann, Nelson Werneck Sodré, Annibal Bonfim, Vera Maria, Oswaldo Soares, Cel. Luiz Mariano, Spínola Veiga, Fernando Silveira, Pedro Lafayette, Pedro Vergara, Gen. Tasso Fragoso, Aquino Furtado, João de Canali, Homem de Barro, Epíaga Rosa Cruz, Moacyr Silva, Padre Arlindo Vieira, Domingos Magarinos, Murtinho Nobre de Mello, Walter da Rocha Miranda, Ítalo Balbo (governador italiano na Líbia), Newton Maia, Carlos Vianna, Cel. Nery da Fonseca, Cel. Augusto Freire, Benedicto Silva, Raffaello Ricardi, Juiz Edgard Ribas Carneiro, Virginio Gayda, Alberto Rocha, A. M. Buarque de Lima, Monsenhor João de Barros Uchôa, Carlos Junqueira, Francesco Ercole, José Teófilo, Alberto Consiglio, Arthur Neiva, Paulo Jaguaribe, Ricardo Albornoz, Vicente Paz Fontanella, Eduardo Collier, Ovidio da Cunha, Edmundo da Luz Pinto, Álvaro Penafiel, Maurício Maeterlink, Publio Dias, Humberto Grande, Padre José Busato, V. Mathesius, Wladimir Bernardes, Hans Schadewaldt, entre outros. José Garibaldi Giacomelli foi o representante de Novas Diretrizes em São Paulo.

Fontes

- Acervo: edições do nº 1, ano 1, de novembro de 1938, ao nº 61, ano 5, da primeira quinzena de setembro de 1942.

- CHAVES, Luís Guilherme Bacellar. In: ABREU, Alzira Alves et al. (Coord.) Dicionário histórico-biográfico brasileiro pós-1930. Rio de Janeiro: Editora FGV; CPDOC, 2001. Vol. I

- FERRARI, Danilo Wenseslau. Diretrizes: a primeira aventura de Samuel Wainer. Disponível em: http://www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/anteriores/edicao31/materia01/ Acesso em 11 abr. 2013.

- PARRA, Thiago Marquezano. Anais do XX Encontro Regional de História: História e Liberdade. ANPUH/SP – UNESP. Franca, 06 a 10 de setembro de 2010. Disponível em: http://www.anpuhsp.org.br/sp/downloads/CD%20XX%20Encontro/PDF/Pain%E9is/Thiago%20Marquezano%20Parra.pdf Acesso em 11 abr. 2013.