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O Cabrito

06 ago 2018

Artigo arquivado em Hemeroteca
e marcado com as tags Crítica política, Imprensa Negra, Período Regencial, Rio de Janeiro

O Cabrito foi um dos primeiros jornais brasileiros a lutar contra a discriminação racial. Lançado no Rio de Janeiro (RJ) sob a inspiração do periódico O Homem de Côr, veio a lume em 7 de novembro de 1833 através da Typographia de Miranda & Carneiro, localizada na Rua do Espírito Santo. Seu surgimento esteve contextualizado com a proliferação de pasquins “virulentos” de crítica política após a abdicação de Dom Pedro I e o início do Período Regencial, no início da década de 1830. Nesse sentido, exultava o “memorável e faustoso dia 7 de abril”, apoiando o grupo político que havia subido ao poder durante a Regência.

Apesar de ter veiculado apenas duas edições, sem ter periodicidade definida, acabou integrando o grupo da primeira imprensa negra brasileira, composto também pelos pasquins O Crioulo, O Crioulinho, O Meia Cara, O Lafuente, Brasileiro Pardo, além de O Homem de Côr. No entanto, sua ênfase editorial esteve no embate político entre partidários liberais jacobinistas (também chamados de “exaltados”) e restauradores (os “caramurus”, que clamavam pelo retorno do imperador). Especula-se mesmo que seu nome, “O Cabrito”, tenha sido uma referência ao apelido depreciativo cunhado pelo pasquim exaltado O Indígena do Brasil a Maurício José de Lafuente, restaurador, quando comentava a prisão do mesmo pela Regência – à época, “cabra” era uma gíria discriminatória para designar uma pessoa mestiça. Sendo, aliás, O Lafuente e Brasileiro Pardo pasquins negros restauradores, seu responsável, Davi de Fonseca Pinto, era atacado pel’O Cabrito.

As edições de O Cabrito custavam 80 réis e podiam ser adquiridas por assinatura ou na loja Laemmert. Seu número de páginas superava o dos demais pasquins da época (vindo com oito, e não quatro por edição) pelo fato de publicar extensas listas “dos restauradores conhecidos” e “dos que assignarão para serem deportados os fidagaes inimigos do Brasil no dia 14 de julho de 1831”.

Fontes:

- Acervo: edições nº 1, de 7 de novembro de 1833, e nº 2, de 20 de novembro de 1833.
- O Lafuente. Edição nº 1, de 16 de novembro de 1833.
- PINTO, Ana Flávia Magalhães. Imprensa negra no Brasil do século XIX. São Paulo: Selo Negro, 2010.
- SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966.